São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Caminho da paz passa por Damasco

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A opção do ex-presidente americano Jimmy Carter de ir à Síria, na semana passada, situa-se num campo de análises que ganha força. A questão palestina poderia tomar o rumo de algum tipo de acordo desde que Israel fizesse a paz com os sírios. Há gente importante em Israel que concorda com isso.
Não significa necessariamente que a paz com a Síria tornará tratável, como num passe de mágica, uma questão, a palestina, que tem se mostrado cada vez mais intratável. Mas avenidas importantes talvez se abrissem, foi a esperança que mobilizou Carter.
A Síria controla o Hizbollah, o grupo radical que "desestabiliza" o Líbano e conseguiu macular a imagem de invencibilidade de Israel. Está envolvida com figuras de ponta do Hamas, cujos foguetes provocam represálias brutais de Israel.
A iniciativa de paz de Bush naufragou nesse fogo cruzado de conflitos. Paz de Israel com a Síria poderia colocar um pouco de ordem nesses desarranjos letais.
Para encerrar o estado de guerra com a Síria, os israelenses terão de devolver as colinas do Golã, ocupadas desde 1967. Mas há dúvidas de que o premiê israelense, acusado de incompetência na guerra com o Hizbollah e enfraquecido nas pesquisas, tenha condições de iniciar caminhada nessa direção, embora haja informações de que estaria disposto a isso.
Devolver Golã talvez signifique para a maioria dos israelenses sinal de fraqueza, num momento de provas de força. Também Bush seria empecilho, embora busque na questão palestina algum trunfo que melhore sua imagem. Afinal, a Síria é acusada pelo seu governo de patrocinar o terrorismo.
É sintomático que sejam levantadas suspeitas sobre uma associação nuclear entre Síria e Coréia do Norte no momento em que Carter bate boca com a secretária de Estado, Condoleezza Rice, convencido de que passa por Damasco a paz na região.
Aviões de Israel bombardearam alvos na Síria sem que se soubesse na época quais as razões. Advertência ao Irã? Instalações militares da própria Síria? Foram as suposições. Em meio a desdobramentos da incursão de Carter emergem afinal, dos porões da inteligência americana, as suspeitas envolvendo, como no Iraque, armas de destruição maciça. Israel tem arsenal nuclear, sobre o qual nunca falou oficialmente.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


Texto Anterior: Síria construiu reator nuclear, dizem EUA
Próximo Texto: Comandante do Taleban chama trégua no Paquistão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.