São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hamas propõe seis meses de trégua a Israel

Se aceito pelo governo israelense, acordo formalizado pelo Egito porá fim à escalada na faixa de Gaza e ao bloqueio do território

Embaixador afirma não ser possível confiar em grupo; "Post" diz que Olmert usa texto de Bush para seguir construindo na Cisjordânia

DA REDAÇÃO

O grupo radical palestino Hamas propôs trégua de seis meses com Israel na faixa de Gaza, com a possibilidade de estendê-la para a Cisjordânia, anunciou ontem o ex-chanceler Mahmoud al Zahar no Cairo.
Israel não se pronunciou oficialmente sobre a proposta, formalizada pelo Egito. Seu embaixador na ONU, Dan Gillerman, disse em Nova York que o Hamas "não é confiável".
Segundo o jornal israelense "Haaretz", o anúncio significa "que Israel suspenderia imediatamente toda atividade militar na faixa de Gaza", como prisões, ataques e assassinatos de militantes, enquanto o grupo radical, por sua vez, "poria fim aos disparos de foguetes contra Israel e ao contrabando de armas para o território".
Zahar afirmou que o acordo deve ainda incluir o fim do bloqueio de Israel à faixa costeira. "O movimento concorda com uma trégua na faixa de Gaza de seis meses, durante os quais o Egito trabalhará para estendê-la à Cisjordânia. A trégua tem de ser mútua e simultânea, e o bloqueio deve ser suspenso."
Seria a primeira trégua oficial entre as duas partes na atual escalada. Israel não reconhece o governo do Hamas, que conquistou maioria parlamentar nas eleições palestinas, em 2006. Já o grupo não aceita a existência do Estado de Israel.
Segundo Zahar, o chefe de inteligência egípcio, Omar Suleiman, deve se reunir com as demais facções palestinas na terça para discutir o acordo. Suleiman então procuraria o governo israelense para assegurar seu compromisso com a trégua.
No último fim de semana, após reunião em Damasco com o ex-presidente americano Jimmy Carter, o líder exilado do Hamas, Khaled Meshaal, ofereceu uma trégua de dez anos e a possibilidade de admitir a coexistência com Israel -sem contudo reconhecê-lo como país. Israel então declarou que não via "mudanças na posição extremista do Hamas".
O bloqueio israelense jogou Gaza numa grave crise humanitária, com cortes de energia e escassez de alimentos. A ONU anunciou que, sem combustível para seus veículos, deixará de distribuir comida em Gaza.
Para complicar, os palestinos estão divididos: a faixa de Gaza está sob controle do Hamas e a Cisjordânia é governada pelo presidente Mahmoud Abbas, do Fatah. Embora o partido tenha sido derrotado nas urnas em 2006, é o único interlocutor aceito por Israel e pelos EUA em negociações de paz.

Anuência americana
Reportagem do jornal "The Washington Post" afirma que o governo israelense vem usando uma carta escrita em 2004 pelo presidente dos EUA, George W. Bush, ao então premiê Ariel Sharon como aval para continuar expandindo seus assentamentos na Cisjordânia -um entrave às negociações de paz.
O atual premiê, Ehud Olmert, cita a carta como permissão para seguir expandindo e diz "esperar conservar esse aval" em um futuro acordo.
O texto de Bush afirma ser "pouco realista" retornar às fronteiras pré-1967 -as mesmas que os palestinos defendem como as de um futuro Estado seu. O então chefe-de-gabinete de Sharon, Dov Weissglas, disse ao "Post" que a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, confirmou a Sharon, em 2005, a interpretação israelense do texto de Bush.
Mas a Casa Branca, que busca o acordo entre Israel e palestinos, nega que a carta avalize a expansão. O Mapa do Caminho, plano de paz dos EUA que norteia as negociações, determina que Israel deixe de construir em território palestino.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Comandante do Taleban chama trégua no Paquistão
Próximo Texto: Crise no Zimbábue: China cancela envio de armas para Mugabe
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.