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UMA CAPITAL NA MIRA
Belgrado mergulha em clima de desânimo
Moradores acham que o conflito será longo
do enviado especial
A capital da Iugoslávia é hoje
uma cidade mais tensa que um
mês atrás. A esperança de que o
conflito com a Otan fosse resolvido em duas ou três semanas foi
substituída pela perspectiva de
que se prolongue por meses.
Quando chegou em Belgrado,
em 29 de março, cinco dias após
o início dos bombardeios, a reportagem da Folha colheu previsões de que haveria uma guerra-relâmpago, segundo autoridades, habitantes e jornalistas.
Ljubomir Jovanovic, engenheiro eletrônico, por exemplo, disse,
em 30 de março, quando o premiê russo, Primakov, fez a primeira tentativa de solução diplomática: "Vai passar logo. A Otan
atacou por que ficou ameaçando
e não podia se desmoralizar. Os
russos vão nos ajudar".
Hoje, da parte dessas mesmas
pessoas, há uma mistura de temor e certeza de que o conflito
possa ficar mais sangrento. A intensificação dos bombardeios a
Belgrado, de uma semana para
cá, contribuiu para uma atmosfera mais pesada e de desânimo.
Logo após o ataque na madrugada de sexta à RTS (Rádio e Televisão da Sérvia) cenas de corpos despedaçados foram exibidas pelas emissoras BK e Studio
B. No ataque à TV estatal, teriam
morrido pelo menos 15 civis, segundo as autoridades iugoslavas.
"Sinto-me mal quando vejo as
imagens dos refugiados (de etnia
albanesa, saindo de Kosovo),
mas o bombardeio da RTS trouxe imagens pesadas para Belgrado", disse a secretária Marijana
Pavlovic, 24, achando ruim o
conflito "aproximar-se" dela.
A mídia, controlada pelo governo, vende uma imagem distorcida a respeito das razões da
guerra. A programação tem aumentado o sentimento anti-Ocidente na capital, que, na última
eleição, em 96, votou contra o governo nacionalista.
As TVs do país exibem videoclipes e vinhetas nacionalistas
-uma dessas mostra um avião
americano sendo explodido, entrando na sequência uma lista,
como se fosse o décimo segundo
a ser abatido. Até agora, a Otan
admite ter tido apenas um caça
abatido pelo Exército iugoslavo.
O drama dos refugiados de etnia albanesa e a política de "limpeza étnica" são classificados pela mídia sérvia como "propaganda" da Otan, que contaria com os
serviços das redes de TV CNN,
BBC e Sky News.
O fato de pilotos da Otan jogarem bombas na capital, voando a
uma altitude segura, cria uma
corrente de solidariedade entre a
população e o governo. Aumentou o número de sérvios que dizem, ainda que seja mera bravata, que gostariam de ver "um
americano" enfrentar um soldado iugoslavo no mano a mano.
(KA)
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