São Paulo, Domingo, 25 de Abril de 1999
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LIMITES DA TECNOLOGIA
Nuvens e fumaça atrapalham armas inteligentes; soldados entrincheirados são os alvos mais difíceis
Guerra aérea não elimina Exército inimigo

RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha


Um mês de ataques aéreos sobre a Iugoslávia serviu para mostrar os limites da tecnologia militar moderna, apesar de os aviões da Otan usarem equipamentos e armamentos mais avançados que os usados pelos americanos contra o Iraque em 1991.
O figurino da campanha aérea repete muito do que foi feito na Guerra do Golfo. Mas, assim como foi preciso usar tropas terrestres para expulsar os iraquianos do Kuait, para fazer com que os sérvios saiam de Kosovo, tropas terrestres seriam indispensáveis.
Nas primeiras três semanas, 90% do armamento utilizado pelos aviões da Otan consistiu em armas "inteligentes", isto é, guiadas por métodos como feixes de raio laser. Em toda a Guerra do Golfo, apenas 10% das bombas lançadas eram desse tipo, conhecido como PCM (sigla em inglês para "munição guiada com precisão").
Ironicamente, essas munições sofisticadas têm um calcanhar de Aquiles bem " low tech". Não podem ser usadas em tempo nublado ou se houver fumaça sobre o alvo, que impede que ele seja "iluminado" pelo laser que guia a bomba.
O figurino de uma campanha aérea é quase o mesmo desde a Segunda Guerra, a primeira que os EUA procuraram vencer com um investimento maciço na aviação. Primeiro se ataca o sistema de defesa aérea inimigo -aviação de caça, radares e mísseis antiaéreos.
Depois se parte para o ataque à infra-estrutura do país, como usinas elétricas, refinarias e indústrias de armas. Parte da campanha pode também envolver alvos propagandísticos -como estações de TV, ou mesmo as casas de líderes políticos (ou eles próprios, por mais que se negue esse objetivo).
A parte mais difícil é o ataque contra o Exército inimigo no campo de batalha. Os iugoslavos têm escondido os alvos mais visíveis -como tanques e mísseis antiaéreos. O alvo mais difícil é o soldado de infantaria enfiado em um buraco no chão. Como russos descobriram no Afeganistão, israelenses no Líbano e americanos no Vietnã, a aviação pode até matar muitos soldados, mas não elimina todos.


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