|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIMITES DA TECNOLOGIA
Nuvens e fumaça atrapalham armas inteligentes; soldados entrincheirados são os alvos mais difíceis
Guerra aérea não elimina Exército inimigo
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
Um mês de
ataques aéreos
sobre a Iugoslávia serviu para
mostrar os limites da tecnologia
militar moderna, apesar de os
aviões da Otan usarem equipamentos e armamentos mais avançados que os usados pelos americanos contra o Iraque em 1991.
O figurino da campanha aérea
repete muito do que foi feito na
Guerra do Golfo. Mas, assim como
foi preciso usar tropas terrestres
para expulsar os iraquianos do
Kuait, para fazer com que os sérvios saiam de Kosovo, tropas terrestres seriam indispensáveis.
Nas primeiras três semanas, 90%
do armamento utilizado pelos
aviões da Otan consistiu em armas
"inteligentes", isto é, guiadas por
métodos como feixes de raio laser.
Em toda a Guerra do Golfo, apenas
10% das bombas lançadas eram
desse tipo, conhecido como PCM
(sigla em inglês para "munição
guiada com precisão").
Ironicamente, essas munições
sofisticadas têm um calcanhar de
Aquiles bem " low tech". Não podem ser usadas em tempo nublado
ou se houver fumaça sobre o alvo,
que impede que ele seja "iluminado" pelo laser que guia a bomba.
O figurino de uma campanha aérea é quase o mesmo desde a Segunda Guerra, a primeira que os
EUA procuraram vencer com um
investimento maciço na aviação.
Primeiro se ataca o sistema de defesa aérea inimigo -aviação de
caça, radares e mísseis antiaéreos.
Depois se parte para o ataque à
infra-estrutura do país, como usinas elétricas, refinarias e indústrias de armas. Parte da campanha
pode também envolver alvos propagandísticos -como estações de
TV, ou mesmo as casas de líderes
políticos (ou eles próprios, por
mais que se negue esse objetivo).
A parte mais difícil é o ataque
contra o Exército inimigo no campo de batalha. Os iugoslavos têm
escondido os alvos mais visíveis
-como tanques e mísseis antiaéreos. O alvo mais difícil é o soldado
de infantaria enfiado em um buraco no chão. Como russos descobriram no Afeganistão, israelenses no
Líbano e americanos no Vietnã, a
aviação pode até matar muitos soldados, mas não elimina todos.
Texto Anterior: Uma capital na mira: Belgrado mergulha em clima de desânimo Próximo Texto: Invasão ainda exige preparo Índice
|