|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUGA DE KOSOVO
ONU admite lentidão no registro de habitantes de Kosovo que fugiram à Albânia; êxodo de refugiados continua
Contagem de refugiados termina só em maio
SYLVIA COLOMBO
de Londres
Quando se
pergunta a um
kosovar de origem albanesa
num dos campos de refugiados da Macedônia onde ele
acha que estão seus parentes que
não atravessaram a fronteira, ele
levanta a cabeça em direção às
montanhas cobertas de neve e é
possível vê-lo lacrimejar. Outros
choram ou, ainda, mostram raiva.
Um mês depois de ter se intensificado o êxodo dos albaneses de
Kosovo, uma pergunta incomoda
muitos refugiados: "O que está
acontecendo do outro lado da
fronteira?"
A preocupação com os que estão
impedidos de procurar abrigo na
Macedônia ou na Albânia, países
que fazem fronteira com a Iugoslávia, e a incógnita sobre o que terá
sido feito das casas e pertences dos
kosovares são mistérios que nem a
Otan, a ONU ou os governos dos
países envolvidos sabem resolver.
Nas últimas semanas, cresceu o
número de refugiados que procuraram sair de Kosovo via Montenegro, a outra República que, com
a Sérvia, forma a Iugoslávia.
Na última quarta-feira, 3.000 alcançaram por ali a fronteira da Albânia e avisaram: há muito mais
vindo pelas estradas. O Exército
sérvio, segundo eles, já está agindo, e montou um posto de checagem na fronteira das duas regiões,
selecionando quem pode continuar e procurar abrigo do outro lado e quem deve ficar e fazer parte
do destino que os sérvios reservam
para eles em solo iugoslavo.
Os refugiados que estão saindo
por Montenegro vêm de pequenos
vilarejos das montanhas de Kosovo: Kuciste, Maljevic, Pepic, lugares que foram aparentemente deixados em segundo plano pela polícia sérvia.
Atualmente, existem 362 mil refugiados na Albânia, 133 mil na
Macedônia e cerca de 66.500 em
Montenegro.
Os outros países que mais acolheram refugiados até agora são a
Alemanha (9.974), a Turquia
(3.849) e a Noruega (1.104), seguidos de Polônia (545) e Bélgica
(517), segundo dados da ONU.
Na Albânia, milhares estão sendo levados de Kukes, cidade próxima à fronteira, para outros campos ou casas de famílias albanesas.
A ONU tenta, ali, fazer um registro e uma contabilidade mínima
dos refugiados. A comissão encarregada admite: não será possível
completar o trabalho antes do fim
de maio.
A Cruz Vermelha, com estações
de rádio e uma página na Internet,
tem tentado reunir as famílias que
foram separadas. A infra-estrutura
para acomodação dos refugiados é
mais crítica na Albânia, segundo
dados do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados).
Ali os campos operam excedendo sua capacidade máxima e as
condições sanitárias são precárias.
Autoridades locais estão improvisando ginásios e escolas, além de
prédios públicos, para abrigar os
refugiados.
Em Skodra, cidade ao norte da
Albânia, um conjunto de fábricas
abandonadas abriga 3.000 pessoas,
que dormem sobre peças e máquinas usadas.
Já na Macedônia, apesar da hostilidade da polícia local, segundo
as reclamações de grande parte
dos albaneses, as condições de instalação dos refugiados são bem
melhores.
O campos do país estão superlotados, mas as condições de higiene
e de amparo médico são consideradas satisfatórias pela ONU.
No entanto, há na Macedônia o
temor de que os refugiados saiam
dos campos e resolvam se instalar
no país. O estímulo para a remoção
para países estrangeiros é grande,
e as visitas de familiares são controladas com rigidez.
Por outro lado, o governo macedônio tem trabalhado com a ONU
para liberar a entrada de kosovares
que estão sendo impedidos de
atravessar a fronteira.
Nos últimos dias, as negociações
têm se desenrolado com o objetivo
de que os milhares de albaneses
que estão nas montanhas próximas do vilarejo Male Malina possam entrar na Macedônia e ser recebidos nos campos. Enquanto isso, grupos de ajuda humanitária
têm levado até lá cobertores e comida, em caminhões.
Segundo a ONU, as condições de
saúde atuais dos refugiados nos
campos da Macedônia e da Albânia são regulares.
A mortalidade causada por
doenças caiu muito, mas os principais problemas ainda são os respiratórios, causados pelo longo trajeto percorrido a pé pelas montanhas na fuga de Kosovo.
Texto Anterior: Cúpula: Otan redefine sua missão estratégica Próximo Texto: Situação de refugiados ainda vai piorar e Otan não ajuda, diz ONU Índice
|