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A FAVOR DA OTAN
Um tirano belicoso nos obrigou a intervir
BILL CLINTON
Hoje, nos Bálcãs, forças dos
EUA, do Reino
Unido e de nossos aliados da
Otan se posicionam com firmeza contra a ""limpeza étnica", lutando para pôr fim
às atrocidades, salvar vidas e devolver a esperança a Kosovo. E estamos decididos a fortalecer as bases de uma Europa que seja cada
vez mais integrada, democrática,
próspera e pacífica.
Os aliados reunidos na Otan fizeram todo o possível para conseguir
uma solução pacífica em Kosovo.
Em lugar disso, Slobodan Milosevic escolheu a violência, intensificando o conflito e avançando em
direção à realização de seu objetivo brutal: livrar a região de seus
habitantes, de uma vez por todas.
Não podíamos ficar de lado, deixando a história relegar os kosovares de origem albanesa ao esquecimento. E tampouco podíamos ignorar o perigo de que o conflito se
espalhasse, ateando fogo a tensões
étnicas e ameaçando a região.
Hoje, muitos países do Leste Europeu estão tentando transformar
em realidade a mesma visão de democracia multiétnica que Milosevic procura enterrar. Sob a égide
do comunismo, esses países projetavam uma imagem de estabilidade, mas era uma estabilidade falsa,
imposta por governantes cuja resposta às tensões étnicas era suprimir e negá-las. Quando a repressão
comunista deixou de existir, as
tensões vieram à tona, para ser resolvidas por meio da cooperação
ou exploradas pela demagogia. Estamos em Kosovo porque o pior
demagogo da Europa mais uma
vez passou das palavras iradas à
violência inominável.
Dia após dia, a campanha aérea
movida por nossas forças aliadas
está desmontando a máquina de
guerra de Milosevic. Já enfraquecemos suas defesas antiaéreas,
seus sistemas de comando e controle, e sua capacidade de produção de combustíveis e munições.
Estamos atingindo seus tanques,
sua artilharia. Enquanto isso, nosso esforço humanitário está garantindo abrigo e alimentação para os
refugiados, restaurando suas forças e sua esperança, em preparação para o dia em que puderem retornar a sua terra em paz. E estamos procurando meios para ajudar os kosovares de origem albanesa encurralados em seu próprio
país pelas forças sérvias.
Eles estão passando fome, vivendo ao relento, com medo de retornar a seus vilarejos. Aparentemente, Milosevic quer utilizá-los como
reféns ou escudos humanos. Como
já disse o primeiro-ministro Blair,
Milosevic é responsável pelo bem-estar dessas pessoas -e vamos cobrar dele essa responsabilidade.
Nossa aliança quer pôr fim à crise, ao sofrimento dos kosovares, às
provações suportadas por uma população sérvia forçada a envolver-se numa luta por um líder cínico
que despreza seu bem-estar, que
esconde dela a verdade sobre o que
está fazendo em Kosovo.
Milosevic pode pôr fim à crise
hoje mesmo. Para isso, basta que
retire suas forças de Kosovo, permitindo a presença de uma força
internacional de segurança e o retorno incondicional de todos os refugiados, com a segurança e a autonomia às quais eles têm direito.
Mas, se ele não o fizer, nossa
campanha vai prosseguir, desequilibrando a balança de poder em detrimento dele, até alcançarmos o
êxito. Nosso cronograma será determinado por nossas metas, e não
o inverso. Milosevic terá de optar
entre se salvar a tempo, evitando
perdas maiores, ou perder seu
controle sobre Kosovo.
Enquanto persistimos, também
traçamos planos para o futuro.
Continuo acreditando que a melhor solução para Kosovo é a autonomia, não a independência. Kosovo não possui os recursos e a infra-estrutura necessários para se
sair bem por conta própria. Sua independência poderia, pelo contrário, gerar ainda mais instabilidade.
Ademais, não acredito que a solução para o ódio presente nos Bálcãs seja uma balcanização ainda
maior. Uma vez que começássemos a redesenhar mapas, seria difícil acabar com as disputas e os
deslocamentos de populações. A
melhor solução não é a interminável modificação das fronteiras européias seguindo traçados étnicos,
e sim a maior integração entre Estados europeus que trabalhassem
juntos para fazer da diversidade
não uma vendeta sanguinária, e
sim uma qualidade positiva.
Em termos realistas, a concretização dessa visão vai exigir uma
transição democrática na Sérvia,
pois a região não terá segurança
com um tirano belicoso.
A tragédia de Kosovo deve e precisa incentivar os esforços dos países da Otan, que deverão prolongar-se por algum tempo, para dar
suporte ao aprofundamento da democracia e da tolerância e à integração étnica e religiosa entre as
nações do sudeste europeu. Essas
nações estão vivendo sob tensão
devido ao conflito de Kosovo, à enxurrada de refugiados e ao tumulto instaurado na região.
A meta que nossa aliança tem para o sudeste da Europa é a mesma
que tinha para a Europa ocidental
após a Segunda Guerra Mundial e
para a Europa central após a Guerra Fria: a integração numa comunidade de nações, engajada com a
liberdade e os direitos humanos,
numa convivência pacífica em
uma Europa completa e livre.
Bill Clinton, 52, é presidente dos EUA.
Tradução de
Clara Allain
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