São Paulo, Domingo, 25 de Abril de 1999
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O FUTURO DE MILOSEVIC
Cedo ou tarde, presidente deve ceder

do enviado especial

Nos anos 90, o presidente Slobodan Milosevic sempre cedeu quando necessário para se perpetuar no poder. Perdeu repúblicas da antiga Iugoslávia (Eslovênia, Croácia e Macedônia) e aceitou uma solução ocidental para a Guerra da Bósnia.
Na crise de Kosovo, deve se comportar da mesma forma, mas não é possível precisar quando cederá. Milosevic começa a sentir o peso da guerra com a Otan, que tem bombardeado pilares de seu poder econômico e político (sede do partido e empresas da família).
O cenário ideal para Milosevic é tentar um acordo com a aliança ocidental agora, ajudado pela mediação da Rússia, que se colocou contra o bombardeio ocidental desde o seu início, em 24 de março.
Aceitaria o envio de tropas internacionais a Kosovo, com composição russa e de países da ONU (Organização das Nações Unidas) que não pertençam à Otan, com exceção da Grécia, que apóia o bombardeio a contragosto. A Otan rejeita essa fórmula porque deseja uma vitória incontestável.
Um segundo cenário para o ditador é apostar no medo da Otan de uma ofensiva terrestre. Pagando um preço alto, a Iugoslávia resistiria por meses ao bombardeio que destrói sua infra-estrutura e ao embargo naval petrolífero, que agravaria ainda mais a asfixia econômica.
Por fim, acabaria aceitando tropas sob o comando da Otan, mas tentaria costurar um acordo para permanecer no poder.
O terceiro cenário é um ataque terrestre a Kosovo. A aliança militar ocidental tem poder para acabar com o Exército iugoslavo, mas as baixas a fariam pagar um preço nunca desejado.
A Otan tem dito que o destino de Milosevic é assunto dos iugoslavos, dando a entender que não contesta sua liderança no país. No entanto, essa disposição mudará se tiver que adotar o caminho mais sangrento. Para ajudar a reconstrução do país, exigiria a derrubada de Milosevic do poder.
Nesse cenário, pode surgir como liderança alternativa um personagem que tem se equilibrado no último mês entre o nacionalismo sérvio e a manutenção de canais com o Ocidente: Vuk Draskovic, vice-primeiro-ministro da Iugoslávia e líder do partido SPO (Movimento de Renovação Sérvio). Os outros líderes políticos são extremistas ou nacionalistas de menos.
(KA)


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