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CONFLITO
Companhia militar privada diz poder enviar batalhão de soldados à Libéria para deter presidente; EUA recusam oferta
Empresa oferece tropa para agir na África
THOMAS CATÁN E
STEPHEN FIDLER
DO "FINANCIAL TIMES"
Enquanto os EUA estudam uma
possível intervenção na guerra civil liberiana, uma empresa anglo-americana se ofereceu para enviar
ao país um batalhão de soldados
de manutenção da paz para deter
o presidente Charles Taylor.
A Northbridge Services, empresa militar privada fundada por
soldados reformados dos EUA e
do Reino Unido, anunciou que tinha condições de enviar entre 500
e 2.000 homens armados à Libéria, em três semanas, para pôr fim
aos combates -que afetam toda
a região em torno de Monróvia, a
capital. "O nosso pessoal pode
trabalhar de acordo com as regras
da comunidade internacional e
evitar a necessidade de deslocar
soldados americanos para uma situação de risco", diz a empresa.
A proposta não recebeu apoio
dos EUA. Ele seria necessário para o financiamento da operação.
Mas representa uma idéia que está sendo encarada com seriedade
pelo governo americano e por outros governos, que relutam em
enviar suas tropas à região.
Kofi Annan, secretário-geral da
ONU, disse, em 1998, que havia
considerado empregar uma empresa privada para manter os
combatentes distantes dos refugiados na crise de Ruanda (1994).
Mas concluiu que "o mundo talvez ainda não estivesse pronto para privatizar a paz".
Mas o momento pode ter chegado. Peter Singer, do Instituto
Brookings, especialista no tema,
diz que há discussões no governo
de George W. Bush, sobretudo no
Pentágono, sobre o assunto.
A idéia estaria sendo estimulada
pelas preocupações com o Exército dos EUA: muitas de suas divisões estão no Iraque, e há tropas
estacionadas no Afeganistão, na
Coréia do Sul e em outros lugares.
No Reino Unido, uma comissão
da Câmara dos Comuns sugeriu,
em 2002, que o governo estudasse
cuidadosamente se o uso mais
amplo de empresas militares privadas em operações humanitárias
e de apoio à paz britânicas não
poderia ajudar a reduzir o gasto
excessivo de recursos militares.
Especialistas privados já são
usados para apoiar atividades de
manutenção da paz da ONU, como a remoção de minas ou a purificação de água. Empresas privadas financiadas pelos EUA já estiveram em ação na Libéria.
A Northbridge diz que sua intervenção "custaria uma fração
do investimento necessário para
enviar soldados americanos",
mas não deu estimativa exata.
Em Serra Leoa, um tribunal especial apoiado pela ONU, que, em
junho, indiciou Taylor por crimes
de guerra, respondeu favoravelmente à proposta da Northbridge.
Mas funcionários do tribunal
disseram à empresa que não há
verbas disponíveis e instaram-na
a procurar financiamento dos
EUA. O Departamento de Estado
não respondeu favoravelmente à
proposta, apesar do apoio velado
de alguns congressistas.
Pasquale Dipofi, o diretor de
operações da Northbridge nos
EUA, disse que "há um estigma
em torno da profissão". A Northbridge entrou em conflito com a
Chancelaria britânica, neste ano,
depois de surgirem reportagens
de que ela teria contratado centenas de ex-soldados para combater
pelo governo da Costa do Marfim.
Jack Straw, chanceler britânico,
disse que o envio de homens armados pela Northbridge "solaparia seriamente o processo de paz".
A empresa reagiu e negou que se
tratasse de uma fachada para a
contratação de mercenários.
Os EUA pediram a renúncia de
Taylor e querem que ele deixe o
país antes de considerar o envio
de soldados à Libéria. Taylor insiste em que só aceitará a oferta de
asilo na Nigéria quando as forças
de paz chegarem ao seu país.
Em junho, a empresa se ofereceu para fornecer ao tribunal
apoiado pela ONU uma "força
policial militar especial" de cerca
de 60 homens armados, que deteriam Taylor e o levariam a julgamento (por cerca de US$ 4 milhões). De lá para cá, a violência se
agravou na Libéria, o que tornaria
essa operação difícil. Dipofi disse
que "essa situação poderia ter sido resolvida em junho".
Kevin O'Brien, da Rand Europe,
outro especialista no assunto, diz
que essas operações paramilitares
correm o risco de serem vistas como uma "caça a recompensas".
Mas as empresas militares privadas vêm mantendo a pressão
sobre os governos. Doug Brooks,
da International Peace Operations Association, diz que as operações de paz da ONU são, em larga medida, conduzidas por soldados de países em desenvolvimento. Ele diz que o uso de empresas
privadas aumentaria a qualidade
dessas operações.
"Muitas vezes, os EUA, o Reino
Unido e a França se recusam a
participar. As Forças Armadas
menos capacitadas acabam, então, executando uma das tarefas
militares mais difíceis", diz.
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