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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Para analistas, tanto Bush quanto Kerry defenderão o plano de saída de Gaza, mas conflito israelo-palestino não será prioridade
Eleito nos EUA manterá apoio a Sharon
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
A ansiedade de israelenses e palestinos em relação ao resultado
das eleições americanas ainda é
grande. Mas são cada vez menores as expectativas de analistas e
políticos dos dois lados de que o
próximo presidente exercerá forte ingerência no processo de paz
no curto prazo. Vença George W.
Bush ou John Kerry, o foco de
atenção da política externa americana continuará centrado no Iraque, dizem analistas e diplomatas.
"Com o Iraque ocupando lugar
cada vez mais central na política
externa dos EUA, tem diminuído
o interesse pela questão de Israel e
da Palestina", diz Yossi Mekelberg, especialista em Oriente Médio do instituto britânico Chatham House.
O vácuo deixado pela falta de
propostas específicas e detalhadas
dos dois candidatos poderá significar a predominância do plano
de desocupação idealizado pelo
primeiro-ministro israelense
Ariel Sharon e restrito quase exclusivamente à faixa de Gaza -a
proposta será votada amanhã pelo Parlamento de Israel. Tanto
Bush como Kerry já manifestaram, publicamente, apoio ao projeto de Sharon.
"Acho que as chances de resolução do conflito, agora, são muito
baixas. Nesse cenário, o máximo
que se pode esperar é a implementação do plano israelense de
desocupação de Gaza", diz Eytan
Gilboa, professor da Universidade Bar-Ilan, em Israel.
Gilboa explica que, embora o
governo americano tenha coordenado o plano de paz -acordo
de 2003 que previa a devolução
não apenas de Gaza, mas também
de territórios ocupados na Cisjordânia-, o presidente Bush, se
reeleito, deverá manter apoio ao
projeto de Sharon: "Bush olha para Israel de duas formas. A primeira é religiosa. Ele acha que tem
o dever de proteger Israel. Além
disso, há a questão estratégica: para Bush, Israel é um parceiro na
luta contra o terrorismo".
Isso explica porque Bush compartilha a opinião do governo israelense de que o líder palestino
Iasser Arafat é um terrorista com
quem não se pode negociar.
Kerry também já afirmou explicitamente que apóia o isolamento
de Arafat e aprovou o plano de retirada unilateral de Israel de Gaza.
Comentaristas políticos ressaltam
que, para diferentes audiências,
ele já criticou e elogiou o muro
que está sendo construído por Israel para isolar a faixa de Gaza.
Mas sua última manifestação sobre o assunto foi uma nota de
apoio à barreira, descrita como
uma "resposta legítima ao terror".
Apesar desse aparente viés pró-Sharon, analistas dizem que
Kerry nunca apresentou nenhuma proposta detalhada em relação ao conflito entre israelenses e
palestinos e, por isso, não está
"comprometido" com a política
anterior favorável a Israel.
"Embora como senador, tenha
votado sempre a favor de Israel,
não dá para prever. Ele, provavelmente, examinará a situação antes de apresentar suas próprias
propostas", diz Gilboa.
Ansiedade
A certeza de especialistas é que o
processo de paz não será preocupação central do próximo governo dos EUA, o que contribui para
o aumento da ansiedade política,
principalmente do lado palestino.
Nos últimos dias, o chanceler
palestino, Nabil Shaath, esteve
viajando para encontrar seus pares europeus. Embora tenha dito,
em palestra em Londres, que é
"otimista" em relação ao futuro
das conversas com Israel e ao interesse dos EUA em se envolver
no processo de paz, o próprio motivo da viagem de Shaath indica,
se não o contrário disso, ao menos uma grande apreensão.
De acordo com ele, sua visita a
países como o Reino Unido e a
França teve como objetivo a busca de apoio para evitar que prevaleça um cenário "mais cruel", no
qual o processo de paz não avançaria por falta de pressão externa.
Para piorar as perspectivas de
entendimento, conversas com líderes palestinos e israelenses revelam desavenças crescentes.
Shaath criticou a proposta de desocupação de Gaza e o afastamento das metas estabelecidas pelo
plano de paz: "Esse novo plano de
Israel é feito quase como uma punição aos palestinos". Um porta-voz da chancelaria de Israel, por
outro lado, disse à Folha que a saída de Gaza é a única opção possível agora, pois "não há com quem
negociar outra solução" externa.
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