São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Para analistas, tanto Bush quanto Kerry defenderão o plano de saída de Gaza, mas conflito israelo-palestino não será prioridade

Eleito nos EUA manterá apoio a Sharon

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

A ansiedade de israelenses e palestinos em relação ao resultado das eleições americanas ainda é grande. Mas são cada vez menores as expectativas de analistas e políticos dos dois lados de que o próximo presidente exercerá forte ingerência no processo de paz no curto prazo. Vença George W. Bush ou John Kerry, o foco de atenção da política externa americana continuará centrado no Iraque, dizem analistas e diplomatas.
"Com o Iraque ocupando lugar cada vez mais central na política externa dos EUA, tem diminuído o interesse pela questão de Israel e da Palestina", diz Yossi Mekelberg, especialista em Oriente Médio do instituto britânico Chatham House.
O vácuo deixado pela falta de propostas específicas e detalhadas dos dois candidatos poderá significar a predominância do plano de desocupação idealizado pelo primeiro-ministro israelense Ariel Sharon e restrito quase exclusivamente à faixa de Gaza -a proposta será votada amanhã pelo Parlamento de Israel. Tanto Bush como Kerry já manifestaram, publicamente, apoio ao projeto de Sharon.
"Acho que as chances de resolução do conflito, agora, são muito baixas. Nesse cenário, o máximo que se pode esperar é a implementação do plano israelense de desocupação de Gaza", diz Eytan Gilboa, professor da Universidade Bar-Ilan, em Israel.
Gilboa explica que, embora o governo americano tenha coordenado o plano de paz -acordo de 2003 que previa a devolução não apenas de Gaza, mas também de territórios ocupados na Cisjordânia-, o presidente Bush, se reeleito, deverá manter apoio ao projeto de Sharon: "Bush olha para Israel de duas formas. A primeira é religiosa. Ele acha que tem o dever de proteger Israel. Além disso, há a questão estratégica: para Bush, Israel é um parceiro na luta contra o terrorismo".
Isso explica porque Bush compartilha a opinião do governo israelense de que o líder palestino Iasser Arafat é um terrorista com quem não se pode negociar.
Kerry também já afirmou explicitamente que apóia o isolamento de Arafat e aprovou o plano de retirada unilateral de Israel de Gaza. Comentaristas políticos ressaltam que, para diferentes audiências, ele já criticou e elogiou o muro que está sendo construído por Israel para isolar a faixa de Gaza. Mas sua última manifestação sobre o assunto foi uma nota de apoio à barreira, descrita como uma "resposta legítima ao terror".
Apesar desse aparente viés pró-Sharon, analistas dizem que Kerry nunca apresentou nenhuma proposta detalhada em relação ao conflito entre israelenses e palestinos e, por isso, não está "comprometido" com a política anterior favorável a Israel.
"Embora como senador, tenha votado sempre a favor de Israel, não dá para prever. Ele, provavelmente, examinará a situação antes de apresentar suas próprias propostas", diz Gilboa.

Ansiedade
A certeza de especialistas é que o processo de paz não será preocupação central do próximo governo dos EUA, o que contribui para o aumento da ansiedade política, principalmente do lado palestino.
Nos últimos dias, o chanceler palestino, Nabil Shaath, esteve viajando para encontrar seus pares europeus. Embora tenha dito, em palestra em Londres, que é "otimista" em relação ao futuro das conversas com Israel e ao interesse dos EUA em se envolver no processo de paz, o próprio motivo da viagem de Shaath indica, se não o contrário disso, ao menos uma grande apreensão.
De acordo com ele, sua visita a países como o Reino Unido e a França teve como objetivo a busca de apoio para evitar que prevaleça um cenário "mais cruel", no qual o processo de paz não avançaria por falta de pressão externa.
Para piorar as perspectivas de entendimento, conversas com líderes palestinos e israelenses revelam desavenças crescentes. Shaath criticou a proposta de desocupação de Gaza e o afastamento das metas estabelecidas pelo plano de paz: "Esse novo plano de Israel é feito quase como uma punição aos palestinos". Um porta-voz da chancelaria de Israel, por outro lado, disse à Folha que a saída de Gaza é a única opção possível agora, pois "não há com quem negociar outra solução" externa.


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