São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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Nova Constituição fortaleceu reivindicações de nacionalistas

DO ENVIADO A IRBIL

O desenvolvimento de Irbil resulta diretamente da mudança constitucional de 2005, quando o país adotou nova Carta com o objetivo declarado de selar as bases para a reconciliação nacional no período pós-Saddam Hussein e compensar minorias oprimidas e perseguidas pelo antigo regime.
Os curdos foram contemplados com a mudança por terem sido exterminados aos milhares nos ataques a gás ordenados por Saddam nos anos 80, sob pretexto de colaboração com o inimigo na guerra Iraque-Irã.
Por pressão americana, a nova Carta garantiu ao Curdistão uma ampla autonomia e destinou à região 17% da renda petroleira nacional. A Casa Branca também ajudou os curdos a desenvolverem forças de segurança e um eficiente aparato de inteligência. Até hoje os curdos são tidos como os mais fiéis aliados dos EUA no Oriente Médio, ao lado de Israel.
A autoconfiança conquistada após décadas de opressão se transformou rapidamente numa atitude confrontativa aos olhos do governo central iraquiano -dominado por xiitas, apesar de o presidente Jalal Talabani e de alguns ministros serem curdos.
Sem consultar Bagdá, os curdos assinaram desde 2006 vários contratos para permitir a atuação de petroleiras estrangeiras no Curdistão, que abriga, segundo estimativas, um terço do total de 115 bilhões de barris de petróleo iraquiano. Os contratos são objeto de disputa jurídica entre Irbil e Bagdá.
A entrada maciça de capital acarretou o boom econômico de Irbil, que está sendo chamada de "nova Dubai", numa referência ao polo financeiro dos Emirados Árabes Unidos. O salário médio local saltou de 22 mil dinares iraquianos mensais antes de 2003 (cerca de US$ 150) para atuais 150 mil dinares, segundo o Ministério das Finanças curdo.
Recentes iniciativas controversas, como o fim da obrigatoriedade do ensino do árabe em algumas escolas curdas, agravaram o estado das relações com Bagdá, hoje congeladas.
Os curdos querem agora receber mais dinheiro do petróleo e reintegrar ao Curdistão a cidade de Kirkuk, que Saddam havia povoado de árabes e que Bagdá quer manter como parte do Iraque propriamente dito.
Fortalecidos, os 24 milhões de curdos do Oriente Médio, que se consideram descendentes dos povos medos, têm hoje no norte do Iraque a sua base mais sólida.
A perspectiva de uma declaração de independência unilateral do Curdistão iraquiano aterroriza os governos de Turquia, Síria e Irã, que temem um contágio nas populações curdas de toda a região. (SA)


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