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Morte de ex-espião afeta o encontro de Putin com UE
Segundo amigo, Litvinenko assinou declaração em que acusa o presidente russo de ter Texto divulgado por amigo e atribuído a Litvinenko acusa Putin de envenená-lo
Produto radioativo matou ex-agente em Londres; presidente, que está em Helsinque, vê acusações como "provocação política"
Mikko Stig/France Presse
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Protesto em Helsinque contra assassinato de repórter russa |
DA REDAÇÃO
A possibilidade de a Rússia
estar por trás do envenenamento de seu ex-espião Alexander Litvinenko eclipsou ontem em Helsinque a reunião do
presidente Vladimir Putin com
governantes da União Européia para tentar desbloquear os
impasses no comércio bilateral.
Litvinenko morreu na noite
de quinta, em Londres, e numa
última mensagem, lida pelo
amigo Alexander Goldfarb e
atribuída a ele, acusa o presidente russo de ter ordenado
seu assassinato. Putin qualificou a acusação de "provocação
política".
Autoridades britânicas revelaram ontem que o envenenamento se deu por uma substância bastante radioativa, o polônio-210, que é altamente letal e
de difícil detecção no organismo das vítimas. Litvinenko supostamente investigava a morte a tiros, em Moscou, em 7 de
outubro, da jornalista russa
Anna Politkovskaya, que denunciara supostas atrocidades
do Kremlin na Tchetchênia.
O ex-espião já havia previamente acusado o FSB -sucessor da KGB- de tentar matar o
magnata russo Boris Berezovski, exilado no Reino Unido e de
quem era amigo. Berezovski,
que ficou rico com as privatizações da era Ieltsin (1991-1999),
é acusado de lavagem de dinheiro na Rússia.
O envenenamento provavelmente ocorreu em 1º de novembro, quando Litvinenko almoçou num restaurante japonês, em Londres. A polícia revelou ontem que no local foi detectada radioatividade.
Naquele mesmo dia, sentindo fortes dores, ele foi hospitalizado. Transferido no dia 17
para outro hospital, foi levado
dois dias depois para a UTI, onde sofreu um ataque cardíaco.
Ainda consciente, teria ditado e
assinado a declaração em que
agradece os médicos que o tratavam e responsabiliza Putin.
A suspeita do envolvimento
de Moscou na morte de um
opositor -Litvinenko fugiu há
seis anos para o Ocidente e já
era cidadão britânico- levou a
chancelaria britânica a informar os jornalistas que interpelou a embaixada russa e a advertiu de que se trata de "um
assunto sério", segundo porta-voz do Foreign Office.
Putin disse em Helsinque,
capital da Finlândia, que as informações disponíveis no hospital em que o ex-espião esteve
internado não comprovam tratar-se de "uma morte violenta".
Disse ter enviado condolências
aos familiares de Litvinenko e
refutou "especulações" sobre o
caso. Qualificou de "provocação" a divulgação de uma declaração do dissidente. "É lamentável que esse episódio trágico
esteja sendo utilizado como
provocação política."
Colocou à disposição de Londres especialistas e promotores
russos e insinuou que "nossos
colegas britânicos" têm parte
da responsabilidade, por não
protegerem cidadãos russos
que vivam em seu território.
O primeiro-ministro finlandês, Matti Vanhanen, que ocupa a presidência rotativa da UE,
disse que os governantes presentes não questionaram Putin
sobre o assunto "porque nenhum deles dispõe de informações suficientes". Também participou do encontro o presidente da Comissão Européia, José
Manuel Durão Barroso.
A Europa é dependente do
gás e do petróleo russos. Putin
rejeitou as pressões para privatizar ou desmembrar a Gazprom, estatal do setor, com o
monopólio da produção e exportação de energia. Um eventual acordo com a Rússia seria
vetado por um dos 25 países da
UE, a Polônia, em represália ao
embargo russo à importação de
carne polonesa.
Assessores de Putin afirmaram que "a corrupção na alfândega" da Polônia levava aquele
país a reexportar carnes recebidas da China e da Índia.
Em 1º de janeiro a Romênia e
a Bulgária ingressam no bloco,
o que é fonte suplementar de
tensões com a Rússia, que perderá influência sobre esses ex-aliados do Leste Europeu. Um
dos únicos pontos positivos da
reunião foi o compromisso russo de não mais cobrar taxas de
aviões europeus que sobrevoem seu espaço aéreo na rota
da Ásia.
Com agências internacionais
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