São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Morte de ex-espião afeta o encontro de Putin com UE

Segundo amigo, Litvinenko assinou declaração em que acusa o presidente russo de ter Texto divulgado por amigo e atribuído a Litvinenko acusa Putin de envenená-lo

Produto radioativo matou ex-agente em Londres; presidente, que está em Helsinque, vê acusações como "provocação política"

Mikko Stig/France Presse
Protesto em Helsinque contra assassinato de repórter russa


DA REDAÇÃO

A possibilidade de a Rússia estar por trás do envenenamento de seu ex-espião Alexander Litvinenko eclipsou ontem em Helsinque a reunião do presidente Vladimir Putin com governantes da União Européia para tentar desbloquear os impasses no comércio bilateral.
Litvinenko morreu na noite de quinta, em Londres, e numa última mensagem, lida pelo amigo Alexander Goldfarb e atribuída a ele, acusa o presidente russo de ter ordenado seu assassinato. Putin qualificou a acusação de "provocação política".
Autoridades britânicas revelaram ontem que o envenenamento se deu por uma substância bastante radioativa, o polônio-210, que é altamente letal e de difícil detecção no organismo das vítimas. Litvinenko supostamente investigava a morte a tiros, em Moscou, em 7 de outubro, da jornalista russa Anna Politkovskaya, que denunciara supostas atrocidades do Kremlin na Tchetchênia.
O ex-espião já havia previamente acusado o FSB -sucessor da KGB- de tentar matar o magnata russo Boris Berezovski, exilado no Reino Unido e de quem era amigo. Berezovski, que ficou rico com as privatizações da era Ieltsin (1991-1999), é acusado de lavagem de dinheiro na Rússia.
O envenenamento provavelmente ocorreu em 1º de novembro, quando Litvinenko almoçou num restaurante japonês, em Londres. A polícia revelou ontem que no local foi detectada radioatividade.
Naquele mesmo dia, sentindo fortes dores, ele foi hospitalizado. Transferido no dia 17 para outro hospital, foi levado dois dias depois para a UTI, onde sofreu um ataque cardíaco. Ainda consciente, teria ditado e assinado a declaração em que agradece os médicos que o tratavam e responsabiliza Putin.
A suspeita do envolvimento de Moscou na morte de um opositor -Litvinenko fugiu há seis anos para o Ocidente e já era cidadão britânico- levou a chancelaria britânica a informar os jornalistas que interpelou a embaixada russa e a advertiu de que se trata de "um assunto sério", segundo porta-voz do Foreign Office.
Putin disse em Helsinque, capital da Finlândia, que as informações disponíveis no hospital em que o ex-espião esteve internado não comprovam tratar-se de "uma morte violenta". Disse ter enviado condolências aos familiares de Litvinenko e refutou "especulações" sobre o caso. Qualificou de "provocação" a divulgação de uma declaração do dissidente. "É lamentável que esse episódio trágico esteja sendo utilizado como provocação política."
Colocou à disposição de Londres especialistas e promotores russos e insinuou que "nossos colegas britânicos" têm parte da responsabilidade, por não protegerem cidadãos russos que vivam em seu território.
O primeiro-ministro finlandês, Matti Vanhanen, que ocupa a presidência rotativa da UE, disse que os governantes presentes não questionaram Putin sobre o assunto "porque nenhum deles dispõe de informações suficientes". Também participou do encontro o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso.
A Europa é dependente do gás e do petróleo russos. Putin rejeitou as pressões para privatizar ou desmembrar a Gazprom, estatal do setor, com o monopólio da produção e exportação de energia. Um eventual acordo com a Rússia seria vetado por um dos 25 países da UE, a Polônia, em represália ao embargo russo à importação de carne polonesa.
Assessores de Putin afirmaram que "a corrupção na alfândega" da Polônia levava aquele país a reexportar carnes recebidas da China e da Índia.
Em 1º de janeiro a Romênia e a Bulgária ingressam no bloco, o que é fonte suplementar de tensões com a Rússia, que perderá influência sobre esses ex-aliados do Leste Europeu. Um dos únicos pontos positivos da reunião foi o compromisso russo de não mais cobrar taxas de aviões europeus que sobrevoem seu espaço aéreo na rota da Ásia.


Com agências internacionais


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