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Xiita tenta vetar encontro de líder do Iraque com Bush
Muqtada Al Sadr, do Exército Mehdi, ameaça retirar apoio legislativo ao presidente
Vítimas de carros-bomba de anteontem sobem para 215; em represália a atentados, mesquitas sunitas são incendiadas e 25 são mortos
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ
Enquanto o número de mortes causadas por uma série devastadora de atentados com
carros-bomba em um bairro
xiita de Bagdá subia a pelo menos 215, um poderoso bloco legislativo alinhado ao líder religioso radical xiita Muqtada al
Sadr ameaçava deixar o governo, caso o premiê iraquiano
compareça à reunião que tem
marcada com o presidente
americano, George W. Bush, na
Jordânia, na quarta-feira.
Numa vingança contra o
atentado de anteontem, milicianos xiitas queimaram vivos
seis sunitas, enquanto soldados
iraquianos apenas assistiam.
Também mataram 19 sunitas
em ataques a mesquitas. Pelo
menos quatro mesquitas foram
incendiadas e três atacadas a tiros em Bagdá.
Além disso, no extremo norte
do país, um carro-bomba e um
terrorista suicida armado de
explosivos atacaram áreas repletas de pessoas na instável cidade de Tal Afar, causando pelo
menos 22 mortes e ferimentos
a pelo menos 42 pessoas.
Tropas estrangeiras
Legisladores leais a Sadr se
reuniram em um escritório em
Cidade Sadr, o bairro atingido
pelas explosões de quinta-feira,
e denunciaram ferozmente as
Forças Armadas norte-americanas, alegando que a presença
de tropas estrangeiras estava
galvanizando a violência que
vem engolfando o Iraque.
O morticínio das últimas 48
horas representa um dos piores
surtos de violência desde que
os norte-americanos derrubaram Saddam Hussein, em abril
de 2003.
Ainda que o governo iraquiano tenha mantido um severo
toque de recolher em toda a capital, centenas de pessoas saíram ontem às ruas de Cidade
Sadr para acompanhar as procissões de microônibus e automóveis que transportavam os
caixões das vítimas. Mulheres
vestidas de preto batiam no
peito, e homens brandiam pistolas das janelas de carros e exigiam que as pessoas que não estavam lamentando as vítimas
deixassem as ruas.
Cidade Sadr é o baluarte de
Sadr e da milícia que ele lidera,
o Exército Mehdi, e os ataques
da quinta-feira, presumivelmente executados por militantes sunitas contra os seguidores
do líder xiita, parecem ter uma
vez mais reforçado a posição
política do clérigo.
O primeiro-ministro Nuri
Kamal al Maliki, xiita conservador, precisa do apoio político de
Sadr para sustentar seu governo e, se os legisladores leais a
Sadr decidirem abandonar o
Parlamento, de 275 membros, a
posição do governo poderia ser
desestabilizada.
Funcionários norte-americanos dizem que o envolvimento político de Sadr é necessário
para preservar as esperanças
quanto a um desarmamento
pacífico do Exército do Mehdi,
cujos efetivos são da ordem de
milhares de combatentes e que
foi acusada de envolvimento
em ondas de violência e homicídios contra os sunitas.
Encontro com Bush
Saleh al-Igaili, membro do
bloco parlamentar liderado por
Sadr, declarou em discurso no
principal escritório do líder que
"se Maliki insistir em comparecer ao encontro com Bush, deixaremos o Parlamento e o governo".
Em seu sermão da sexta-feira, Sadr não mencionou os apelos para que Maliki cancele a
reunião com o presidente
Bush. Mas repetiu uma vez
mais sua exigência de que as
forças norte-americanas sejam
retiradas do país, ou, ao menos,
que seja estabelecido um cronograma para que se retirem.
Sadr controla pelo menos 30
assentos no Parlamento e três
ministérios, incluindo o da
Saúde, que estava sob cerco de
militantes sunitas pouco antes
que as bombas explodissem em
Sadr City, na quinta-feira.
Momento crítico
Os ataques da quinta-feira
vieram em um momento crítico para os governos iraquiano e
dos EUA, que tentam descobrir
uma fórmula política e militar
que resulte em contenção da
violência.
Funcionários do governo
norte-americanos e representantes dos sunitas argumentaram que um ponto chave para a
paz seria uma operação vigorosa para desarmar as milícias
sectárias que servem aos mais
poderosos partidos políticos
xiitas. Mas os líderes dos xiitas
insistiram em que as milícias
representam seu baluarte final
contra a insurgência comandada pelos sunitas.
E Maliki, respondendo aos
interesses de sua base de poder,
optou por uma abordagem
mais suave, negociada, com relação às milícias, o que causa
frustração aos seus parceiros
norte-americanos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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