São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Xiita tenta vetar encontro de líder do Iraque com Bush

Muqtada Al Sadr, do Exército Mehdi, ameaça retirar apoio legislativo ao presidente

Vítimas de carros-bomba de anteontem sobem para 215; em represália a atentados, mesquitas sunitas são incendiadas e 25 são mortos

DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

Enquanto o número de mortes causadas por uma série devastadora de atentados com carros-bomba em um bairro xiita de Bagdá subia a pelo menos 215, um poderoso bloco legislativo alinhado ao líder religioso radical xiita Muqtada al Sadr ameaçava deixar o governo, caso o premiê iraquiano compareça à reunião que tem marcada com o presidente americano, George W. Bush, na Jordânia, na quarta-feira.
Numa vingança contra o atentado de anteontem, milicianos xiitas queimaram vivos seis sunitas, enquanto soldados iraquianos apenas assistiam. Também mataram 19 sunitas em ataques a mesquitas. Pelo menos quatro mesquitas foram incendiadas e três atacadas a tiros em Bagdá.
Além disso, no extremo norte do país, um carro-bomba e um terrorista suicida armado de explosivos atacaram áreas repletas de pessoas na instável cidade de Tal Afar, causando pelo menos 22 mortes e ferimentos a pelo menos 42 pessoas.

Tropas estrangeiras
Legisladores leais a Sadr se reuniram em um escritório em Cidade Sadr, o bairro atingido pelas explosões de quinta-feira, e denunciaram ferozmente as Forças Armadas norte-americanas, alegando que a presença de tropas estrangeiras estava galvanizando a violência que vem engolfando o Iraque.
O morticínio das últimas 48 horas representa um dos piores surtos de violência desde que os norte-americanos derrubaram Saddam Hussein, em abril de 2003.
Ainda que o governo iraquiano tenha mantido um severo toque de recolher em toda a capital, centenas de pessoas saíram ontem às ruas de Cidade Sadr para acompanhar as procissões de microônibus e automóveis que transportavam os caixões das vítimas. Mulheres vestidas de preto batiam no peito, e homens brandiam pistolas das janelas de carros e exigiam que as pessoas que não estavam lamentando as vítimas deixassem as ruas.
Cidade Sadr é o baluarte de Sadr e da milícia que ele lidera, o Exército Mehdi, e os ataques da quinta-feira, presumivelmente executados por militantes sunitas contra os seguidores do líder xiita, parecem ter uma vez mais reforçado a posição política do clérigo.
O primeiro-ministro Nuri Kamal al Maliki, xiita conservador, precisa do apoio político de Sadr para sustentar seu governo e, se os legisladores leais a Sadr decidirem abandonar o Parlamento, de 275 membros, a posição do governo poderia ser desestabilizada.
Funcionários norte-americanos dizem que o envolvimento político de Sadr é necessário para preservar as esperanças quanto a um desarmamento pacífico do Exército do Mehdi, cujos efetivos são da ordem de milhares de combatentes e que foi acusada de envolvimento em ondas de violência e homicídios contra os sunitas.

Encontro com Bush
Saleh al-Igaili, membro do bloco parlamentar liderado por Sadr, declarou em discurso no principal escritório do líder que "se Maliki insistir em comparecer ao encontro com Bush, deixaremos o Parlamento e o governo".
Em seu sermão da sexta-feira, Sadr não mencionou os apelos para que Maliki cancele a reunião com o presidente Bush. Mas repetiu uma vez mais sua exigência de que as forças norte-americanas sejam retiradas do país, ou, ao menos, que seja estabelecido um cronograma para que se retirem.
Sadr controla pelo menos 30 assentos no Parlamento e três ministérios, incluindo o da Saúde, que estava sob cerco de militantes sunitas pouco antes que as bombas explodissem em Sadr City, na quinta-feira.

Momento crítico
Os ataques da quinta-feira vieram em um momento crítico para os governos iraquiano e dos EUA, que tentam descobrir uma fórmula política e militar que resulte em contenção da violência.
Funcionários do governo norte-americanos e representantes dos sunitas argumentaram que um ponto chave para a paz seria uma operação vigorosa para desarmar as milícias sectárias que servem aos mais poderosos partidos políticos xiitas. Mas os líderes dos xiitas insistiram em que as milícias representam seu baluarte final contra a insurgência comandada pelos sunitas.
E Maliki, respondendo aos interesses de sua base de poder, optou por uma abordagem mais suave, negociada, com relação às milícias, o que causa frustração aos seus parceiros norte-americanos.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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