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Economia robusta não diminui descontentamento com Merkel
Índices mostram crescimento, mas população não sente sua vida melhorar
DO "FINANCIAL TIMES"
Quase todos os dias surgem
novos dados indicando que a
saúde econômica da Alemanha
está cada vez mais robusta. Mas
na semana em que celebra o
primeiro aniversário de seu governo e em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse
que elevaria a projeção de crescimento de seu país, Angela
Merkel enfrenta descontentamento público em uma escala
difícil de conciliar com o quadro róseo das estatísticas.
O sentimento momentâneo
de euforia que acompanhou a
eleição de Merkel, diz Manfred
Güllner, diretor do grupo de
pesquisa de opinião Forsa, foi
substituído "pelo pior clima
que o país já enfrentou praticamente desde o final da Segunda
Guerra". "É um nível de rejeição que só pode ser comparado
àqueles que precederam grandes reviravoltas políticas, como
a queda de Helmut Kohl (1998)
-a primeira vez em que um
chanceler (premiê) perdeu
uma tentativa de reeleição."
Segundo levantamentos da
Forsa, 78% dos alemães estão
insatisfeitos com o governo.
Alarmados com a perda de
apoio, os dois partidos rivais
que formam a "grande coalizão" de Merkel se esforçam para propor alternativas cujo foco
não seja a necessidade de reformas dolorosas.
Esse desânimo contrasta
com os dados sobre a economia. A recuperação iniciada no
final de 2005 deve resultar em
crescimento de quase 3% para
o PIB deste ano. O desemprego
está em queda, e a economia gerou centenas de milhares de
postos novos de trabalho. Depois de anos de reestruturação,
as empresas alemãs estão entre
as mais competitivas da Europa, e as exportações florescem.
A aposta de Merkel em uma
recuperação cíclica adiou medidas de aperto fiscal para
2007, a fim de dar fôlego à retomada. A maioria dos analistas
crê, agora, que a economia seja
capaz de arcar com um aumento de três pontos percentuais
no imposto sobre valor adicionado. E as mais recentes estimativas indicam que a maior
arrecadação tributária ajudaria
a reduzir o déficit orçamentário alemão a 2,5% do PIB neste
ano e 1,5% no ano que vem.
Estilo suave
Merkel também revolucionou a arte de governar, por
meio de sua abordagem discreta e analítica dos processos decisórios -uma mudança do estilo brusco de socos na mesa e
charutos mascados que caracterizava seus predecessores.
Ela também vem sendo bem
recebida no exterior. A Copa do
Mundo da Alemanha valeu elogios universais ao país, e em
2007 Berlim assumirá a presidência da União Européia e do
G8 (grupo dos oito países mais
industrializados).
Ainda que a maioria dos economistas acredite que as reformas promovidas por Merkel
não sejam causa de orgulho, algumas poucas decisões -da
elevação na idade para aposentadoria à proposta de corte nos
impostos das empresas- seguem o caminho proposto por
estudiosos e empresários.
Para Holger Schmieding, do
Bank of America, as medidas
adotadas até agora "tornaram a
Alemanha um lugar melhor para se investir e viver". Mas para
analistas como Güllner, "o problema é que a maioria das pessoas vê um distanciamento cada vez maior entre as manchetes positivas e sua situação pessoal, e sua fé na capacidade dos
políticos para reduzir essa distância está desaparecendo".
Os eleitores estão ficando
impacientes, diz ele, já que a recuperação está demorando a
expandir seus efeitos por todas
as camadas da sociedade.
Dificuldades econômicas,
ainda que relativas, são mais difíceis de tolerar no contexto de
uma economia florescente e,
enquanto os alemães esperam,
a fé do público na capacidade
do governo para redistribuir a
renda nacional se evapora.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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