São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Economia robusta não diminui descontentamento com Merkel

Índices mostram crescimento, mas população não sente sua vida melhorar

DO "FINANCIAL TIMES"

Quase todos os dias surgem novos dados indicando que a saúde econômica da Alemanha está cada vez mais robusta. Mas na semana em que celebra o primeiro aniversário de seu governo e em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que elevaria a projeção de crescimento de seu país, Angela Merkel enfrenta descontentamento público em uma escala difícil de conciliar com o quadro róseo das estatísticas.
O sentimento momentâneo de euforia que acompanhou a eleição de Merkel, diz Manfred Güllner, diretor do grupo de pesquisa de opinião Forsa, foi substituído "pelo pior clima que o país já enfrentou praticamente desde o final da Segunda Guerra". "É um nível de rejeição que só pode ser comparado àqueles que precederam grandes reviravoltas políticas, como a queda de Helmut Kohl (1998) -a primeira vez em que um chanceler (premiê) perdeu uma tentativa de reeleição." Segundo levantamentos da Forsa, 78% dos alemães estão insatisfeitos com o governo.
Alarmados com a perda de apoio, os dois partidos rivais que formam a "grande coalizão" de Merkel se esforçam para propor alternativas cujo foco não seja a necessidade de reformas dolorosas.
Esse desânimo contrasta com os dados sobre a economia. A recuperação iniciada no final de 2005 deve resultar em crescimento de quase 3% para o PIB deste ano. O desemprego está em queda, e a economia gerou centenas de milhares de postos novos de trabalho. Depois de anos de reestruturação, as empresas alemãs estão entre as mais competitivas da Europa, e as exportações florescem.
A aposta de Merkel em uma recuperação cíclica adiou medidas de aperto fiscal para 2007, a fim de dar fôlego à retomada. A maioria dos analistas crê, agora, que a economia seja capaz de arcar com um aumento de três pontos percentuais no imposto sobre valor adicionado. E as mais recentes estimativas indicam que a maior arrecadação tributária ajudaria a reduzir o déficit orçamentário alemão a 2,5% do PIB neste ano e 1,5% no ano que vem.

Estilo suave
Merkel também revolucionou a arte de governar, por meio de sua abordagem discreta e analítica dos processos decisórios -uma mudança do estilo brusco de socos na mesa e charutos mascados que caracterizava seus predecessores.
Ela também vem sendo bem recebida no exterior. A Copa do Mundo da Alemanha valeu elogios universais ao país, e em 2007 Berlim assumirá a presidência da União Européia e do G8 (grupo dos oito países mais industrializados).
Ainda que a maioria dos economistas acredite que as reformas promovidas por Merkel não sejam causa de orgulho, algumas poucas decisões -da elevação na idade para aposentadoria à proposta de corte nos impostos das empresas- seguem o caminho proposto por estudiosos e empresários.
Para Holger Schmieding, do Bank of America, as medidas adotadas até agora "tornaram a Alemanha um lugar melhor para se investir e viver". Mas para analistas como Güllner, "o problema é que a maioria das pessoas vê um distanciamento cada vez maior entre as manchetes positivas e sua situação pessoal, e sua fé na capacidade dos políticos para reduzir essa distância está desaparecendo".
Os eleitores estão ficando impacientes, diz ele, já que a recuperação está demorando a expandir seus efeitos por todas as camadas da sociedade. Dificuldades econômicas, ainda que relativas, são mais difíceis de tolerar no contexto de uma economia florescente e, enquanto os alemães esperam, a fé do público na capacidade do governo para redistribuir a renda nacional se evapora.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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