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São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

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Violência faz cristãos adiantarem Missa do Galo

EDWARD WONG
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

O Natal foi mudado. Para a pequena comunidade cristã de Bagdá, no Iraque, a principal missa não aconteceria à meia-noite, mas no final da tarde de ontem.
A decisão sobre o início mais cedo começou a se espalhar de uma paróquia para outra na semana passada. Ninguém questionou a medida. Todos sabem que coisas como andar nas ruas à noite e se aglomerar em grandes grupos são tão recomendadas quanto entrar na jaula de um leão.
"O principal problema é a segurança, não apenas para o Natal, mas para todos os dias de nossas vidas", afirmou o padre Yousif Thomas Mirkis, da catedral de St. Joseph, uma das maiores igrejas de Bagdá.
"O Natal neste ano não vai ser um dia tão especial quanto tem sido, mas, talvez, as famílias ainda celebrem com suas árvores e bolos, e, talvez, nós estejamos próximos na essência do primeiro Natal. O primeiro aconteceu na pobreza e sob circunstâncias difíceis para aquela pequena família. Talvez, este seja nosso único consolo neste ano. Nós estamos tendo um verdadeiro Natal."
Essas palavras refletem a mistura de sentimentos que deve estar tomando muitas pessoas ao redor do Iraque durante uma ocasião celebrada aqui não só pelos cristãos mas também por muitos muçulmanos, que consideram Jesus Cristo um profeta que abriu o caminho para Muhammad.
Cerca de 4% dos 25 milhões de iraquianos são cristãos. Há estimativas mais pessimistas que calculam que o número de adeptos tem diminuído e representa hoje só cerca 2% da população, depois de 300 mil praticantes terem deixado o país desde os anos 60.
Os caldeus formam o principal grupo cristão no Iraque. Há ainda sírios católicos, sírios ortodoxos, assírios, coptas etc. Vilas cristãs se enfileiram ao longo da região norte. Conflitos com os muçulmanos são raros.
O ex-ditador Saddam Hussein não escolheu os cristãos para serem perseguidos nem colocou outros grupos religiosos contra eles, como costumava fazer para dividir o país e manter o poder.
Apesar de muitos cristãos iraquianos possuírem uma boa educação e empregos de classe média, eles têm permanecido relativamente em silêncio quando se trata de política.
O comparecimento nas missas dominicais esteve em queda no mês passado, em parte por causa da escassez de combustível. O medo dos grupos de guerrilha e dos bandos de criminosos armados, conhecidos como Ali Babas, deixou as pessoas conformadas em celebrarem o Natal fechadas em suas casas.
A preocupação de que insurgentes poderiam atacar igrejas e comunidades cristãs foi aumentada por relatos de inteligência advertindo sobre a possibilidade de uma onda de ações nesta semana, em parte para vingar a captura de Saddam.


Com agências internacionais

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