São Paulo, sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

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Justiça exige DNA de filhos de dona do Clarín

Avós da Praça de Maio suspeitam que gêmeos adotados sejam crianças roubadas pela última ditadura militar argentina

Decisão vem um mês após Congresso autorizar exames compulsórios, em medida vista como fruto da disputa do governo com o grupo


SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A Justiça argentina determinou que os filhos adotivos da proprietária do Grupo Clarín, Ernestina Herrera De Noble, devem ser submetidos "imediatamente e sem mais demoras" a teste de DNA, para verificar se seus pais biológicos são vítimas da ditadura militar (1976-1983), conforme revelou ontem o jornal "Crítica".
Contudo, já que após o feriado de Natal devem ter início as férias forenses, é pouco provável o cumprimento "imediato" da medida, observa o jornal.
No mesmo documento em que dispõem a realização do exame compulsório nos filhos de De Noble -Marcela e Felipe Noble Herrera, que têm ambos 33 anos de idade hoje-, os juízes da Câmara Federal de San Martín Hugo Gurruchaga e Alberto Criscuolo criticam a atuação do juiz responsável pela causa, Conrado Bergesio, e o repreendem por "enredar-se em discussões improdutivas, ao mesmo tempo em que não executa a medida básica, essencial e inadiável de tomar as mostras de DNA [das supostas vítimas]".
O processo em que se investiga se os filhos da proprietária do Grupo Clarín foram subtraídos de vítimas da ditadura e entregues ilegalmente a ela foi aberto há sete anos, por iniciativa das Avós da Praça de Maio.
A suspeita das Avós foi reforçada pela denúncia de um ex-sócio do Grupo Clarín, José Pirillo, que declarou à Justiça que o CEO do grupo, Héctor Magnetto, lhe confessou ter sido o intermediário da "adoção" entre De Noble e o general Jorge Videla, que presidiu a Argentina de 1976 a 1981.
Magnetto e Pirillo foram submetidos a uma acareação anteontem, em que se acusaram mutuamente de mentir, segundo o diário "Crítica".
A presidente das Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, comemorou ontem a decisão da Câmara Federal de San Martín, que classificou de "clara e justa".
"Esses garotos foram adotados de forma duvidosa, e o correto, diante de tantas irregularidades, é que se proceda à obtenção de seu DNA", afirmou.
No mês passado, o Congresso argentino aprovou uma lei reivindicada pelas Avós, com respaldo do governo, que autoriza a Justiça a determinar exames compulsórios de DNA em casos de suspeita de crime contra a humanidade, como é o caso do roubo de bebês durante a ditadura. É uma opção para avançar nos casos de vítimas avessas ao exame, como os De Noble.
A lei foi encarada pela deputada opositora ao kirchnerismo Elisa Carrió como parte das ações coordenadas pela gestão Cristina com o suposto objetivo de lesar o Grupo Clarín, com o qual o governo está em atrito desde meados de 2008.
São citados como itens da "escalada do governo contra o Clarín" a transferência ao Estado do contrato de exclusividade na transmissão de torneios de futebol; a blitz da Receita Federal no diário "Clarín" e em residências de diretores do grupo e a edição da Lei de Serviços Audiovisuais, questionada pelo grupo na Justiça.


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