Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VENEZUELA
À Folha, Rangel nega que retórica do presidente tenha estimulado atentados e diz que opositores carecem de respaldo
Vice de Chávez diz que a oposição quebrou
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Duas explosões em sedes diplomáticas da Colômbia e da Espanha ontem em Caracas, dois dias
após o presidente Hugo Chávez
ter acusado esses países de se intrometer nos assuntos internos da
Venezuela, são fatos isolados e
não têm relação nenhuma com as
declarações do presidente. Quem
diz é o vice-presidente do país, José Vicente Rangel, para quem a
oposição tenta relacionar os dois
fatos com uma "estúpida linguagem". "Disparam a priori, sem
nenhuma investigação", disse ele
em entrevista ontem à Folha, por
telefone, de Caracas. Leia a seguir
trechos da entrevista.
Folha - Os atentados de ontem
[anteontem] marcam uma escalada de violência na Venezuela?
José Vicente Rangel - Não acho.
São atos terroristas, que devem
ser analisados de forma particular. Têm características bastante
diferentes de fatos anteriores.
Folha - A oposição acusa o governo de ser responsável por eles...
Rangel - Essa é a estúpida linguagem que a oposição sempre
utiliza. Disparam a priori, sem nenhuma investigação. Sempre sobre suposições.
Folha - O fato de terem acontecido dois dias após o presidente ter
acusado os países de se intrometer
em assuntos internos do país não
contribui para essas suposições?
Rangel - Chávez não acusou esses países. O que fez foi precisar as
posições da Venezuela. Não há
motivo para estabelecer alguma
conexão sobre o que ele disse no
domingo e esses atos terroristas.
Folha - Chávez não está usando
uma linguagem de confronto?
Rangel - A política não é um problema semântico, um problema
de linguagem. Cada um tem sua
linguagem. Senão, que o diga o
presidente [George W.] Bush.
Folha - As declarações de Chávez
podem prejudicar as relações da
Venezuela com os governos mencionados por ele?
Rangel - Não acho. Temos as
melhores relações com todos eles.
Não desrespeitamos ninguém.
Folha - Fontes do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil manifestaram nos últimos dias um mal-estar pelos últimos acontecimentos na Venezuela, incluindo as críticas de Chávez ao Grupo de Amigos,
formado por iniciativa brasileira.
Existe um distanciamento?
Rangel - Não percebemos nenhum mal-estar por parte do Brasil. E sobre declarações "off the record" eu não comento.
Folha - O governo ainda quer a
modificação do Grupo de Amigos?
Rangel - Insistimos nisso.
Folha - As declarações de Chávez
não trazem problemas para o funcionamento do grupo e da mesa de
diálogo mediada pela OEA?
Rangel - Não há nenhuma razão
para isso, porque as declarações
de Chávez sobre César Gaviria
[secretário-geral da OEA] foram
só para lembrá-lo de que foi presidente da Colômbia e que, como
ex-presidente, sabe que os Poderes são autônomos e soberanos
[sobre a prisão do líder opositor
Carlos Fernández].
Folha - A oposição diz que a prisão de Carlos Fernández significa
uma violação do pacto contra a violência firmado na semana passada
na mesa de diálogo...
Rangel - A oposição é muito torpe. Reitera seus erros permanentemente. Em segundo lugar, Fernández não está preso pelo governo, está preso pela autoridade
competente, que é um tribunal. A
Justiça é autônoma na Venezuela,
como é no Brasil ou nos EUA.
Folha - Mas Chávez, ao dizer que
não havia juízes com coragem suficiente para prender os líderes da
greve geral, não estava pressionando a Justiça?
Rangel - Essa foi uma avaliação
sobre o funcionamento do Poder
Judiciário, de forma geral. Não foi
nenhuma pressão em particular.
Folha - Qual a situação atual da
Venezuela, após a suspensão da
greve geral, no início do mês?
Rangel - O dado mais importante da situação atual é que mostra o
fracasso da greve geral, da sabotagem na indústria petroleira e das
sabotagens militares, que não tiveram nenhum respaldo. A oposição está quebrada e dividida.
Texto Anterior: Washington minimiza teste de míssil norte-coreano Próximo Texto: Explosões atingem sedes diplomáticas em Caracas Índice
|