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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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VENEZUELA

À Folha, Rangel nega que retórica do presidente tenha estimulado atentados e diz que opositores carecem de respaldo

Vice de Chávez diz que a oposição quebrou

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

Duas explosões em sedes diplomáticas da Colômbia e da Espanha ontem em Caracas, dois dias após o presidente Hugo Chávez ter acusado esses países de se intrometer nos assuntos internos da Venezuela, são fatos isolados e não têm relação nenhuma com as declarações do presidente. Quem diz é o vice-presidente do país, José Vicente Rangel, para quem a oposição tenta relacionar os dois fatos com uma "estúpida linguagem". "Disparam a priori, sem nenhuma investigação", disse ele em entrevista ontem à Folha, por telefone, de Caracas. Leia a seguir trechos da entrevista.
 

Folha - Os atentados de ontem [anteontem] marcam uma escalada de violência na Venezuela?
José Vicente Rangel -
Não acho. São atos terroristas, que devem ser analisados de forma particular. Têm características bastante diferentes de fatos anteriores.

Folha - A oposição acusa o governo de ser responsável por eles...
Rangel -
Essa é a estúpida linguagem que a oposição sempre utiliza. Disparam a priori, sem nenhuma investigação. Sempre sobre suposições.

Folha - O fato de terem acontecido dois dias após o presidente ter acusado os países de se intrometer em assuntos internos do país não contribui para essas suposições?
Rangel -
Chávez não acusou esses países. O que fez foi precisar as posições da Venezuela. Não há motivo para estabelecer alguma conexão sobre o que ele disse no domingo e esses atos terroristas.

Folha - Chávez não está usando uma linguagem de confronto?
Rangel -
A política não é um problema semântico, um problema de linguagem. Cada um tem sua linguagem. Senão, que o diga o presidente [George W.] Bush.

Folha - As declarações de Chávez podem prejudicar as relações da Venezuela com os governos mencionados por ele?
Rangel -
Não acho. Temos as melhores relações com todos eles. Não desrespeitamos ninguém.

Folha - Fontes do Ministério das Relações Exteriores do Brasil manifestaram nos últimos dias um mal-estar pelos últimos acontecimentos na Venezuela, incluindo as críticas de Chávez ao Grupo de Amigos, formado por iniciativa brasileira. Existe um distanciamento?
Rangel -
Não percebemos nenhum mal-estar por parte do Brasil. E sobre declarações "off the record" eu não comento.

Folha - O governo ainda quer a modificação do Grupo de Amigos?
Rangel -
Insistimos nisso.

Folha - As declarações de Chávez não trazem problemas para o funcionamento do grupo e da mesa de diálogo mediada pela OEA?
Rangel -
Não há nenhuma razão para isso, porque as declarações de Chávez sobre César Gaviria [secretário-geral da OEA] foram só para lembrá-lo de que foi presidente da Colômbia e que, como ex-presidente, sabe que os Poderes são autônomos e soberanos [sobre a prisão do líder opositor Carlos Fernández].

Folha - A oposição diz que a prisão de Carlos Fernández significa uma violação do pacto contra a violência firmado na semana passada na mesa de diálogo...
Rangel -
A oposição é muito torpe. Reitera seus erros permanentemente. Em segundo lugar, Fernández não está preso pelo governo, está preso pela autoridade competente, que é um tribunal. A Justiça é autônoma na Venezuela, como é no Brasil ou nos EUA.

Folha - Mas Chávez, ao dizer que não havia juízes com coragem suficiente para prender os líderes da greve geral, não estava pressionando a Justiça?
Rangel -
Essa foi uma avaliação sobre o funcionamento do Poder Judiciário, de forma geral. Não foi nenhuma pressão em particular.

Folha - Qual a situação atual da Venezuela, após a suspensão da greve geral, no início do mês?
Rangel -
O dado mais importante da situação atual é que mostra o fracasso da greve geral, da sabotagem na indústria petroleira e das sabotagens militares, que não tiveram nenhum respaldo. A oposição está quebrada e dividida.


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