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IMPRENSA
Autores dizem que o principal jornal francês "degrada a vida democrática do país", o diário se diz vítima de inveja e ódio
Livro acusa "Le Monde" de abuso de poder
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
O principal jornal francês, "Le
Monde", é alvo de ataque violentíssimo no livro "La Face Cachée
du Monde: du Contre-Pouvoir au
Abus du Pouvoir" (a face oculta
do "Monde': do contra-poder ao
abuso de poder), dos jornalistas
Pierre Péan e Philippe Cohen.
O livro chega hoje às livrarias da
França, pela editora belga Mille et
Une Nuits. A exclusividade na publicação de alguns trechos foi dada à revista "L'Express", que dedicou a sua última capa ao assunto,
deixando em polvorosa o meio
jornalístico e intelectual.
Ontem, o "Monde" adiantou-se
ao lançamento e respondeu aos
ataques, com página e meia de artigos e o editorial do dia, acusando os autores de estarem movidos
pela inveja e pelo ódio. Anunciou
que está processando os autores,
o editor do livro, a "L'Express" e o
diretor da revista, Denis Jeambar.
Em 1997, o grupo Monde tentou
comprar a revista, sem sucesso.
A principal denúncia contra o
"Monde" é a de que a publicação
está pondo em risco a democracia
francesa, por abuso de poder, lobismo e conduta parcial. O jornal
teria, inclusive, ajudado na derrocada do ex-premiê socialista Lionel Jospin, que abandonou a vida
política depois de ter sido ultrapassado pelo líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen na corrida presidencial de 2002.
Segundo o livro, o "Monde"
contribuiu para a ruptura do premiê com seu antigo parceiro Jean-Pierre Chevènement, que apresentou candidatura própria. Foi o
"Monde" também que revelou o
passado trotskista de Jospin, que
este escondera ao deslanchar sua
carreira no Partido Socialista.
A opção de Chevènement de
não se associar aos socialistas é
considerada por Jospin como um
dos motivos de sua derrota, conforme artigo que o ex-premiê publicou no mesmo "Monde".
O jornal teria também se comprometido com a candidatura de
Edouard Balladur (centro-direita), em 1995, às eleições presidenciais, contra Jacques Chirac (centro-direita) e a esquerda reunida
em torno de Jospin.
"O novo "Monde" apresenta todos os traços da impostura, mesmo se se trata de uma impostura
moderna. É porque ele acarreta
uma verdadeira degradação da vida democrática neste país que decidimos levantar o véu sobre esse
assunto", escrevem Péan e Cohen.
O "novo "Monde'" a que eles se
referem é o que resultou de reformas empreendidas a partir de
1994 pelos jornalistas Jean-Marie
Colombani, presidente do grupo
Le Monde e diretor da publicação,
Edwy Plenel, diretor de Redação,
e Alain Minc, presidente do Conselho de Fiscalização, que cuida
da saúde econômica da empresa.
É contra esse trio que se concentram as acusações mais duras e
minuciosas, na apuração de dois
anos dos jornalistas. Segundo o livro, Colombani teria "treinado"
políticos para entrevistas na TV,
aceitado viagens gratuitas do festival de cinema de Cannes e da
Bienal de Veneza, aumentado seu
próprio salário em 85% (para
29.919) e fixado residência fiscal
na Córsega, de onde é originário.
Sobre Plenel, os autores descrevem suas relações "privilegiadas"
com o chefe de polícia Bernard
Deplace, a partir dos anos 80, considerado "o segundo policial da
França". Relação que, segundo o
livro, "ultrapassa a que normalmente pode existir entre um jornalista e um informante".
O livro também diz que a diretoria do jornal oculta a verdadeira
situação financeira da empresa,
bem como a tiragem real.
Para os autores, o grupo Le
Monde registrou nos últimos dois
anos perdas "que ultrapassam
25 milhões", e sua tiragem média
teria sido de 213.014 exemplares
em 2001. Segundo o "Monde", o
resultado bruto consolidado do
grupo foi negativo em 13 milhões em 2001. E a tiragem na
França e no exterior chegaria
405.983, apurada, conforme o jornal, por um organismo independente, Diffusion Contrôle OJD.
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