São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Venezuela já supera Irã e Paquistão em novas armas

Chávez é o maior comprador entre os latino-americanos; Rússia fornece

Militares ligados a Chávez dizem que EUA negaram a venda de peças para caças e são ameaça contra a qual Caracas precisa se defender

Jorge Silva - 24.fev.2007/Reuters
Cercado de assessores, Hugo Chávez se prepara para entrevista em Caracas; ele disse que nunca receberia Bush na Venezuela


SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES", EM CARACAS

A encomenda de material bélico pela Venezuela, US$ 4,3 bilhões em dois anos, colocou o país como o maior comprador na América Latina e o fez superar grandes importadores tradicionais, como o Paquistão (US$ 3 bi) e o Irã (US$ 1,7 bi).
Desde 2005, Caracas encomendou 24 caças russos Suchoi, 50 helicópteros de combate e 100 mil rifles. Também está instalando em Maracay uma fábrica para a produção dos fuzis russos Kalashnikov.
Informantes venezuelanos argumentam que os contratos são necessários para compensar a suspensão das vendas americanas a Hugo Chávez e fortalecer o país diante de uma potencial agressão dos EUA.
"Washington tentou paralisar nossa Força Aérea", disse o general Alberto Muller Rojas, assessor de Chávez, ao se referir ao embargo de peças para os caças americanos F-16.
Os planos militares venezuelanos são em parte responsáveis pela deterioração das relações com Washington. O governo Bush nega que queira invadir a Venezuela, sua grande fornecedora de petróleo. Mas apoiou em 2002 o golpe de Estado que chegou por horas a desalojar Chávez do poder.
O crescimento em 12,5% das importações venezuelanas de armas em 2006 é visto pelos americanos como potencialmente desestabilizador para a América Latina e bem mais que o necessário para equipar as Forças Armadas locais.
Em depoimento no Congresso americano, o general Michael Maples, diretor da Agência de Inteligência da Defesa, disse que a prioridade de Chávez é neutralizar a influência americana no Hemisfério.
Além do material russo, a Venezuela estuda projetos em conjunto com o Irã, para a construção de uma aeronave pilotada por controle remoto. O general Raúl Isaías Baduel, ministro da Defesa, disse recentemente que 20 desses aviões seriam usados para o patrulhamento de fronteiras.
Defensores de Chávez afirmam que em seus oito anos como presidente ele gastou proporcionalmente menos em armas que os EUA ou outros países sul-americanos, como Chile e Colômbia. Números do Instituto Internacional de Pesquisas pela Paz, de Estocolmo, confirmam esse raciocínio.
Há dúvidas quanto ao poder militar efetivo que a Venezuela alcançou. Especialistas acreditam que a Aeronáutica não está apta a operar os caças russos. Os 34 mil soldados do Exército estão atrás da Argentina (41 mil) e do Brasil (200 mil).
Outro argumento é de que o atual presidente é bem mais discreto que predecessores, como Luis Herrera Campíns, que apoiou a Argentina na Guerra das Malvinas, em 1982, como meio de desviar a atenção contra a inflação crescente e o declínio das receitas do petróleo.
Críticos do presidente insistem que as despesas com armamento não são discutidas pela Assembléia Nacional, que recentemente o autorizou a governar por decreto.
Ricardo Sucre, cientista político da Universidade Central da Venezuela, afirma que a falta de transparência nos contratos de armas alimenta a preocupação de que Chávez pode estar armando milícias civis, como a Frente Francisco Miranda, grupo político que permaneceria leal a ele, em caso de divisão das forças regulares.
O assessor militar do presidente, general Muller Rojas, nega essas afirmações.


Texto Anterior: Mulher-bomba mata 40 pessoas e fere 55 em universidade em Bagdá
Próximo Texto: Chávez diz que país é livre, ataca Globo e repórter
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.