São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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China promove campanha contra imprensa ocidental

Governo insinua "complô" para minar Olimpíada

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China partiu para o contra-ataque com o que julga "preconceito da mídia ocidental". Os principais jornais do país, assim como a TV estatal CCTV, atacam diariamente a cobertura "manipulada" sobre a crise no Tibete após os protestos violentos de 14 de março.
A versão estatal é de que 22 civis foram mortos em distúrbios separatistas. Tibetanos no exílio dizem que houve cem mortos pela repressão.
A menos de cinco meses da Olimpíada de Pequim, a mídia estatal chinesa insinua um complô de potências ocidentais para estragar os Jogos. Na edição de ontem do "China Daily", maior jornal do país em inglês, especialistas em comunicação do país insistiram na teoria conspiratória.
"Parte da mídia ocidental não hesita em espalhar rumores para minar a Olimpíada e usa os protestos para manchar a imagem da China", disse Guan Shijie, professor da Universidade de Pequim.
O Clube dos Correspondentes Estrangeiros da China enviou e-mail a seus associados, dizendo que um veículo de comunicação tinha recebido ameaças. A mensagem sugere precaução aos correspondentes no trabalho de rua.
"Nos fóruns da internet, há dúzias de internautas dizendo que querem matar o correspondente da CNN. A ironia é que boa parte deles não têm CNN ou BBC em casa, então só sabem o que vêem na TV do governo", disse à Folha o jornalista americano Paul Mooney.
O site www.anti-cnn.com chama a rede americana de "líder mundial em mentiras". Também ataca a rede britânica BBC. Reportagem da CNN, em que a legenda falava de "jovens tibetanos atacando um chinês" foi das mais criticadas. "Todos são chineses, esses editores deveriam estudar história" diz comentário em fórum mantido na internet pelo governo.
Depois de o site ficar dez dias bloqueado pela censura chinesa, foram postados vários vídeos nacionalistas no YouTube, dizendo que o Tibete "foi, é e sempre será parte da China". Os vídeos podem ser vistos em www.youtube.com/watch?v=x9QNKB34cJo e www.youtube.com/watch?v=uSQnK5FcKas.

Sinais de abertura
Apesar dos ataques à mídia, o governo chinês deu ontem sinais de abertura. A BBC anunciou que, pela primeira vez em anos, a versão em inglês de seu site podia ser acessada na íntegra no país -a versão em chinês seguia censurada.
O Ministério das Relações Exteriores anunciou que organizou pequeno grupo de jornalistas estrangeiros para ir ao Tibete "e falar com as vítimas dos distúrbios". Será a primeira visita de correspondentes, 12 dias após os piores incidentes.
Quando estes ocorreram, só um jornalista ocidental, da revista britânica "The Economist", estava em Lhasa. Em reportagem, ele diz que os protestos começaram com a depredação de estabelecimentos comerciais da etnia han -majoritária na China-, após rumores de que dois monges teriam sido agredidos. Conta que as forças de segurança pareceram estar desprevenidas e demoraram dois dias para controlar os manifestantes, num ambiente de "lei marcial não-declarada".


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