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China promove campanha contra imprensa ocidental
Governo insinua "complô" para minar Olimpíada
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A China partiu para o contra-ataque com o que julga "preconceito da mídia ocidental".
Os principais jornais do país,
assim como a TV estatal CCTV,
atacam diariamente a cobertura "manipulada" sobre a crise
no Tibete após os protestos violentos de 14 de março.
A versão estatal é de que 22
civis foram mortos em distúrbios separatistas. Tibetanos no
exílio dizem que houve cem
mortos pela repressão.
A menos de cinco meses da
Olimpíada de Pequim, a mídia
estatal chinesa insinua um
complô de potências ocidentais
para estragar os Jogos. Na edição de ontem do "China Daily",
maior jornal do país em inglês,
especialistas em comunicação
do país insistiram na teoria
conspiratória.
"Parte da mídia ocidental
não hesita em espalhar rumores para minar a Olimpíada e
usa os protestos para manchar
a imagem da China", disse
Guan Shijie, professor da Universidade de Pequim.
O Clube dos Correspondentes Estrangeiros da China enviou e-mail a seus associados,
dizendo que um veículo de comunicação tinha recebido
ameaças. A mensagem sugere
precaução aos correspondentes no trabalho de rua.
"Nos fóruns da internet, há
dúzias de internautas dizendo
que querem matar o correspondente da CNN. A ironia é
que boa parte deles não têm
CNN ou BBC em casa, então só
sabem o que vêem na TV do governo", disse à Folha o jornalista americano Paul Mooney.
O site www.anti-cnn.com
chama a rede americana de "líder mundial em mentiras".
Também ataca a rede britânica
BBC. Reportagem da CNN, em
que a legenda falava de "jovens
tibetanos atacando um chinês"
foi das mais criticadas. "Todos
são chineses, esses editores deveriam estudar história" diz
comentário em fórum mantido
na internet pelo governo.
Depois de o site ficar dez dias
bloqueado pela censura chinesa, foram postados vários vídeos nacionalistas no YouTube, dizendo que o Tibete "foi, é
e sempre será parte da China".
Os vídeos podem ser vistos em
www.youtube.com/watch?v=x9QNKB34cJo e
www.youtube.com/watch?v=uSQnK5FcKas.
Sinais de abertura
Apesar dos ataques à mídia, o
governo chinês deu ontem sinais de abertura. A BBC anunciou que, pela primeira vez em
anos, a versão em inglês de seu
site podia ser acessada na íntegra no país -a versão em chinês seguia censurada.
O Ministério das Relações
Exteriores anunciou que organizou pequeno grupo de jornalistas estrangeiros para ir ao Tibete "e falar com as vítimas dos
distúrbios". Será a primeira visita de correspondentes, 12 dias
após os piores incidentes.
Quando estes ocorreram, só
um jornalista ocidental, da revista britânica "The Economist", estava em Lhasa. Em reportagem, ele diz que os protestos começaram com a depredação de estabelecimentos comerciais da etnia han -majoritária na China-, após rumores
de que dois monges teriam sido
agredidos. Conta que as forças
de segurança pareceram estar
desprevenidas e demoraram
dois dias para controlar os manifestantes, num ambiente de
"lei marcial não-declarada".
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