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Discurso de Cristina inflama greve
Presidente diz que protestos de agropecuários são "piquetes da abundância" e que não negociará sob extorsão
Manifestantes bloquearam 300 pontos de rodovias argentinas; mercados de Buenos Aires já enfrentam desabastecimento de carne
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
A presidente da Argentina,
Cristina Fernández de Kirchner, afirmou ontem que não se
submeterá "a nenhuma extorsão", sinalizando que não negociará com os produtores agropecuários do país, há duas semanas em greve, enquanto eles
não interromperem os bloqueios de estradas.
A greve, que além dos bloqueios inclui a suspensão da
venda de produtos agrícolas e
de carne, é uma reação à decisão do governo, anunciada no
dia 11, de aumentar os tributos
cobrados pelas exportações de
grãos, as chamadas retenções
agrícolas, uma das principais
fontes de divisas do país. É a
primeira grande paralisação
enfrentada por Cristina.
Depois de quase duas semanas de silêncio, a presidente
afirmou ontem que os protestos são o sinal de uma transformação importante no país, que
passou "dos piquetes da miséria e da tragédia aos piquetes da
abundância, realizados pelo setor de maior rentabilidade dos
últimos anos".
"Não vou me submeter a nenhuma extorsão", disse Cristina, reforçando a posição do governo de não negociar com os
produtores enquanto a greve
não terminar. Chamando os
protestos de "comédia", Cristina afirmou que as exportações
"seguem de vento em popa" e
que os prejudicados com a greve são os argentinos.
Um representante da Sociedade Rural da Província de Entre Ríos disse que as palavras de
Cristina eram "a faísca que faltava para acender o incêndio".
Após o discurso, os protestos
chegaram à cidade. Em vários
bairros de Buenos Aires, incluindo a Recoleta, um dos
mais nobres, centenas de pessoas foram às janelas e começaram a bater em panelas.
Desabastecimento
A população já sente os efeitos da greve. Faltam carne,
frango e laticínios em açougues
e pequenos mercados chineses,
responsáveis por 70% da carne
consumida em Buenos Aires,
onde os preços dos produtos
aumentaram nos últimos dias.
Nas grandes redes de supermercados, faltam os cortes de
carne mais populares. Os produtores afirmam que nos próximos dias haverá escassez de
frutas e vegetais.
As quatro principais entidades agrícolas do país também
reafirmaram a postura de não
ceder "na falta de uma resposta
positiva do governo". As entidades, que reúnem dezenas de
milhares de produtores e que
organizam o protesto, decidiram ontem manter a paralisação por tempo indeterminado.
Com 11 dias de protesto, os
produtores teriam perdido cerca de 300 milhões de pesos
(US$ 95 milhões), segundo reportagem do jornal "Clarín".
Os produtores agrícolas
mantêm cerca de 300 bloqueios em diferentes pontos de
estradas do país e provocaram
quilômetros de congestionamento na volta do feriado prolongado de Páscoa. Caminhões
que transportam produtos
agrícolas são impedidos de seguir caminho. Houve tensão
entre produtores agrícolas e caminhoneiros -cujo sindicato é
uma das principais bases de
apoio do governo- que queriam ultrapassar o bloqueio e
exigiam que as estradas fossem
liberadas.
Em um dos bloqueios, na cidade de Paraná, a gendarmeria
(polícia de fronteiras) reprimiu
o protesto de cerca de 600 produtores com cães e gás lacrimogêneo. Segundo os produtores,
alguns dos manifestantes ficaram feridos e outros foram
temporariamente detidos.
A restrição às exportações
pode afetar outros países como
o Brasil, um dos principais importadores dos grãos argentinos. A limitação imposta pelo
governo na venda de trigo já é
motivo de contenda entre os
dois países.
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