|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Teste é mostra interna de força de ditador
DO "FINANCIAL TIMES"
Faltam alimentos para a população, e a rede elétrica está
em seus últimos estertores. Os
norte-coreanos têm poucos
motivos de orgulho, mas os líderes do regime esperam que a
detonação de um artefato nuclear venha suprir essa falta.
As ruas da Coreia do Norte
ostentam cartazes mostrando
trabalhadores dando socos no
ar, enquanto um foguete sobe
no céu atrás deles. O mantra é o
mesmo: o país está a caminho
de tornar-se "uma nação poderosa e próspera" até 2012, em
tempo para as comemorações
do centenário do nascimento
do seu fundador, Kim Il-sung.
Isso significa uma coisa só:
que o país precisa desenvolver
mísseis nucleares nos próximos três anos. "Eles não podem
tornar-se uma nação poderosa
pela economia ou por tropas
convencionais, então o programa nuclear é o único caminho",
disse ao "Financial Times" o
negociador nuclear chefe da
Coreia do Sul, Wi Sung-lac.
Embora o país provavelmente já tenha extraído plutônio
suficiente para entre 6 e 8 bombas, a maioria dos especialistas
militares estima que Pyongyang ainda esteja a alguma distância de conseguir produzir
uma ogiva suficientemente pequena para um míssil balístico.
James Shinn, ex-funcionário-chefe do Pentágono para a
Ásia, disse que cada teste aumentará a capacidade de
Pyongyang criar uma ogiva nuclear para um míssil. "Por outro lado, a Coreia do Norte não
possui quantidade ilimitada de
plutônio, de modo que isto indica ou uma obstinação de aumentar os trunfos para chamar
a atenção, mesmo ao custo de
consumir parte de seu escasso
material físsil, ou a aparente
confiança de que conseguirá
produzir mais material físsil, já
que a toda hora ameaça construir mais reatores."
Shinn disse que as iniciativas
talvez sugiram também que a
Coreia do Norte possui um estoque maior de plutônio enriquecido do que declarou.
Victor Cha, especialista em
Coreia no Centro de Estudos
Internacionais e Estratégicos,
disse que os testes podem refletir uma transição de liderança
na Coreia do Norte, envolvendo setores leais à linha dura e
familiares de Kim Jong-il que o
estariam sucedendo paulatinamente. "A fluidez política interna em sistemas totalitários geralmente se externa em comportamentos beligerantes."
A família de Kim precisa dos
trunfos garantidos por um programa nuclear bem-sucedido,
porque a questão da sucessão já
atingiu um ponto perigoso. Os
serviços de inteligência acreditam que Kim, 68, sofreu recentemente um acidente vascular
cerebral e foi submetido a uma
cirurgia cardíaca, sem designar
um sucessor.
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Análise: Jogada visa cenário doméstico Próximo Texto: Brasil retarda chegada de novo embaixador do país a Pyongyang Índice
|