São Paulo, terça-feira, 26 de maio de 2009

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Teste é mostra interna de força de ditador

DO "FINANCIAL TIMES"

Faltam alimentos para a população, e a rede elétrica está em seus últimos estertores. Os norte-coreanos têm poucos motivos de orgulho, mas os líderes do regime esperam que a detonação de um artefato nuclear venha suprir essa falta.
As ruas da Coreia do Norte ostentam cartazes mostrando trabalhadores dando socos no ar, enquanto um foguete sobe no céu atrás deles. O mantra é o mesmo: o país está a caminho de tornar-se "uma nação poderosa e próspera" até 2012, em tempo para as comemorações do centenário do nascimento do seu fundador, Kim Il-sung.
Isso significa uma coisa só: que o país precisa desenvolver mísseis nucleares nos próximos três anos. "Eles não podem tornar-se uma nação poderosa pela economia ou por tropas convencionais, então o programa nuclear é o único caminho", disse ao "Financial Times" o negociador nuclear chefe da Coreia do Sul, Wi Sung-lac.
Embora o país provavelmente já tenha extraído plutônio suficiente para entre 6 e 8 bombas, a maioria dos especialistas militares estima que Pyongyang ainda esteja a alguma distância de conseguir produzir uma ogiva suficientemente pequena para um míssil balístico. James Shinn, ex-funcionário-chefe do Pentágono para a Ásia, disse que cada teste aumentará a capacidade de Pyongyang criar uma ogiva nuclear para um míssil. "Por outro lado, a Coreia do Norte não possui quantidade ilimitada de plutônio, de modo que isto indica ou uma obstinação de aumentar os trunfos para chamar a atenção, mesmo ao custo de consumir parte de seu escasso material físsil, ou a aparente confiança de que conseguirá produzir mais material físsil, já que a toda hora ameaça construir mais reatores."
Shinn disse que as iniciativas talvez sugiram também que a Coreia do Norte possui um estoque maior de plutônio enriquecido do que declarou. Victor Cha, especialista em Coreia no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, disse que os testes podem refletir uma transição de liderança na Coreia do Norte, envolvendo setores leais à linha dura e familiares de Kim Jong-il que o estariam sucedendo paulatinamente. "A fluidez política interna em sistemas totalitários geralmente se externa em comportamentos beligerantes."
A família de Kim precisa dos trunfos garantidos por um programa nuclear bem-sucedido, porque a questão da sucessão já atingiu um ponto perigoso. Os serviços de inteligência acreditam que Kim, 68, sofreu recentemente um acidente vascular cerebral e foi submetido a uma cirurgia cardíaca, sem designar um sucessor.

Tradução de CLARA ALLAIN



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