São Paulo, terça-feira, 26 de maio de 2009

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Brasil retarda chegada de novo embaixador do país a Pyongyang

Arnaldo Carrilho iria assumir nesta semana a recém-criada embaixada, mas foi orientado a adiar viagem à Coreia do Norte

Medida, equivalente a de chamar para consultas um diplomata já no posto, é retaliação a teste nuclear, que Itamaraty condenou


LETÍCIA SANDER
ENVIADA A SALVADOR
MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) decidiu ontem postergar a data de chegada do embaixador brasileiro Arnaldo Carrilho à Coreia do Norte, em função do teste nuclear realizado pelo país.
Carrilho, que está em Pequim (China), chegaria nesta semana a Pyongyang, para a abertura oficial da Embaixada do Brasil na Coreia do Norte. Mas ontem foi orientado por Amorim a não seguir viagem.
O gesto, de acordo com o Itamaraty, equivale ao de um "chamado para consultas". No protocolo diplomático, convocar um embaixador para retornar ao país de origem é um sinal de forte descontentamento.
As relações diplomáticas entre Brasil e Coreia do Norte foram estabelecidas há oito anos e, desde 2005, a Coreia do Norte tem embaixada no Brasil.
A decisão de "congelar" a chegada de Carrilho à Coreia do Norte não significa, entretanto, que o Brasil tenha desistido de abrir a embaixada, segundo fontes do Itamaraty.
Ontem, o ministério divulgou nota condenando "veementemente" o teste nuclear. Para o Brasil, o teste viola resolução sobre o tema adotada pelo Conselho de Segurança da ONU em outubro de 2006.
"O Brasil expressa a expectativa de que a Coreia do Norte se reintegre, o mais rapidamente possível e como país não nuclearmente armado, ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Da mesma forma, o governo brasileiro conclama a Coreia do Norte a assinar, no mais breve prazo, o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares e a observar estritamente a moratória de testes nucleares", diz a nota.

Giro
Em mensagem por email enviada à Folha de Pequim, o embaixador Arnaldo Carrilho confirmou que sua ida a Pyongyang está suspensa até segunda ordem. "Só partirei, quando mandado expressamente, por ordem do chanceler, permanecendo em Pequim", afirmou.
Enquanto isso, acrescentou o embaixador, aguardará instruções junto com sua equipe, "acampada na capital chinesa". Nos últimos dias, além dos contatos diplomáticos, Carrilho tem se dedicado a comprar suprimentos para levar à Coréia do Norte, país conhecido pela escassez crônica até dos produtos mais básicos.
De acordo com fontes do Itamaraty, Carrilho irá manifestar a oposição do Brasil junto ao governo norte-coreano assim que assumir o seu posto. Ao mesmo tempo, a diplomacia brasileira quer ajudar a reabrir o diálogo entre os norte-coreanos e seus interlocutores.
Há pouco mais de um mês, o diplomata fez um périplo pelos cinco países que participam das negociações para o desarmamento da Coreia do Norte.
Em seu giro por Washington, Tóquio, Seul, Pequim e Moscou, ficou surpreso: os americanos demonstraram mais abertura que chineses e russos, tradicionais aliados de Pyongyang. "Senti mais dureza da China e da Rússia do que dos EUA. Isso me surpreendeu muito", disse o embaixador.


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