São Paulo, sábado, 26 de junho de 2010

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ANÁLISE GUERRA DO AFEGANISTÃO

Petraeus assume luta que definiu em 2008 como "a mais árdua"

Novo comandante no Afeganistão tentará aplicar no país estratégia que implementou com êxito no Iraque


PETRAEUS SERÁ RESPONSÁVEL POR SEU SUCESSO OU FRACASSO E PORÁ REPUTAÇÃO QUE CONSTRUIU NO IRAQUE EM RISCO


ALISSA J. RUBIN
DEXTER FILKINS
DO "NEW YORK TIMES", EM CABUL


No final de 2008, pouco depois de ter ajudado a tirar o Iraque da beira da catástrofe, o general David Petraeus começou a se preparar para a outra guerra dos EUA.
"Sempre disse que o Afeganistão seria a luta mais árdua", afirmou na época.
Agora, o fardo caberá a ele, talvez no mais decisivo momento da campanha do presidente Barack Obama para reverter a deterioração da situação no país e retomar a iniciativa na guerra iniciada há nove anos.
Petraeus está sendo convocado ao Afeganistão em momento similar ao que enfrentou três anos atrás no Iraque, quando a situação parecia sem esperanças aos olhos de muitos americanos.
Mas existe uma diferença crucial: no Iraque, Petraeus foi convocado para reverter uma estratégia fracassada colocada em vigor por comandantes anteriores. No Afeganistão, ele teve papel fundamental no desenvolvimento e execução da estratégia atual, em parceria com o general Stanley McChrystal, o encarregado de executá-la no teatro de operações.
Agora, Petraeus será diretamente responsável por seu sucesso ou fracasso e colocará em risco a reputação que construiu no Iraque.
No Iraque, Petraeus ajudou a virar a maré não só ao reforçar com 30 mil soldados adicionais a presença americana em Bagdá como por meio de acordos com líderes insurgentes que haviam passado os quatro anos anteriores matando americanos.
Ao menos tão importante quanto o reforço das tropas, o movimento que ficou conhecido no Iraque como despertar sunita deu início ao notável declínio na violência que se sustenta até hoje.
Ao ajudar a tirar o Iraque da beira do precipício, Petraeus conquistou reputação como um comandante versátil e heterodoxo e passou a ser mencionado como possível candidato à Presidência.

DIFERENÇAS
Mas o Afeganistão é uma guerra muito diferente, num país muito diferente. Enquanto o Iraque é urbano, rico em petróleo e tem uma classe média de bom nível educacional, o Afeganistão é um Estado devastado cujos tecido social e infraestrutura física foram arruinados por três décadas de guerra. No Iraque, a insurgência estava nas cidades; no Afeganistão, se espalha pelas montanhas e desertos do inacessível interior do país.
Para se sair bem no Afeganistão, Petraeus precisará de todas as suas qualidades e também de uma dose de sorte ao menos tão grande quanto a que teve no Iraque.
No momento, todos os aspectos da guerra estão indo mal: a campanha militar na estratégica cidade de Candahar encontrou forte resistência do público afegão; o presidente Hamid Karzai está se provando imprevisível; e o Taleban vem resistindo com tenacidade maior que nunca.
Para reverter a situação, Petraeus quase certamente terá de manter a estratégia de combate à insurgência, protegendo os civis afegãos, separando-os dos insurgentes e conquistando o apoio da opinião pública. Mas também terá de convencer os soldados sob seu comando, que se incomodam cada vez mais com as restrições ao uso de poder de fogo, impostas para proteger os civis.
E Petraeus provavelmente tentará também empregar algumas das táticas inovadoras que funcionaram tão bem no Iraque. A mais importante delas será manter o esforço para convencer combatentes do Taleban a abandonar a insurgência, com promessas de empregos e segurança.
Um antigo subordinado de Petraeus no Iraque definiu a situação da seguinte maneira: "A política é fazer com que todos se sintam mais seguros, promover a reconciliação com os inimigos dispostos a isso e matar as pessoas que for preciso".
Petraeus tomará o comando da campanha afegã transcorridos seis meses de uma estratégia de 18 meses de duração que terá de exibir substancial progresso para que Obama a mantenha.
Em dezembro, Obama conduzirá uma "avaliação estratégica" que servirá para determinar a escala do progresso conquistado. Depois disso, ninguém sabe o que o presidente pode decidir.


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