São Paulo, sábado, 26 de junho de 2010

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Espanha age para evitar nova tragédia

Enquanto vê imprudência de vítimas em acidente ferroviário, governo foca em vigilância e reforma de estações

Uma das providências aguardadas é o fim das obras que tirarão trens de alta velocidade dos pontos onde não param


ROBERTO DIAS
EM BARCELONA

Ainda sem conseguir identificar todos os 13 mortos no atropelamento ferroviário de quarta-feira à noite, os espanhóis se dedicaram ontem a tentar compreender o que causou a tragédia.
Uma corrente acompanhava o raciocínio dos governos socialistas da Espanha e da Catalunha: a grande causa do acidente foi a imprudência do grupo que resolveu cruzar por cima dos trilhos.
"É uma estação modernizada e bem sinalizada", disse o secretário de Estado de Infraestruturas, Victor Morlán. "Ninguém pode atravessar pelas vias do trem. Quando se quebra essa máxima, os riscos existem", afirmou.
Seguindo essa linha de raciocínio, grande parte do noticiário se concentrou na história de uma mulher apanhada ontem cruzando a pé os trilhos da mesma estação Praia Castelldefels (cidade 20 km ao sul de Barcelona).
De origem russa, disse que não sabia o que havia ocorrido na noite anterior. Tinha apanhado um dos poucos trens disponíveis ontem (havia greve parcial no setor) e argumentou que estava atrasada para trabalhar.
Na Catalunha, cruzar linhas férreas fora dos locais permitidos vale multa que pode ir de 6.000 (R$ 13,3 mil) a 30 mil (R$ 66 mil).
Outra corrente insistia que, a despeito do fato inequívoco de que as vítimas estavam onde não deveriam estar, as autoridades deveriam pensar um pouco mais sobre o que fazer para evitar tragédias como essa.
Uma medida óbvia é evitar que trens de alta velocidade, como esse, tenham que cruzar estações cheias de gente nas quais não têm que parar.
O governo espanhol sinalizou que isso pode ocorrer em dois ou três anos, assim que terminarem obras para trens de alta velocidade trafegarem por linhas exclusivas.
Outro ponto de interrogação diz respeito ao tamanho da passagem subterrânea que leva as pessoas até a saída da estação.
A dúvida é se, numa estação que vive lotada no verão, o túnel é de fato suficiente para evitar que as pessoas caiam na tentação de cruzar sobre as linhas para não ter que esperar o fluxo de gente.
Essa tentação certamente teve papel central na segunda maior tragédia ferroviária dos últimos 30 anos na Espanha, que deixou, além dos 13 mortos, 14 feridos -10 deles ainda hospitalizados.
Ontem foram identificados 9 dos 13 mortos. Cinco deles são equatorianos, dois são colombianos, e dois são bolivianos.
Por exigências judiciais e pedidos familiares, porém, o governo catalão só divulgou o nome de seis vítimas. As idades vão de 17 a 39 anos.
As vítimas se dirigiam à praia de Castelldefels para acompanhar uma festa latina durante a noite de São João, data catalã tradicional de festejos na beira do mar. Ao cruzar a via, não notaram a aproximação de um trem que carregava 700 pessoas a 139 km/h.


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