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Espanha age para evitar nova tragédia
Enquanto vê imprudência de vítimas em acidente ferroviário, governo foca em vigilância e reforma de estações
Uma das providências aguardadas é o fim das obras que tirarão trens de alta velocidade dos pontos onde não param
ROBERTO DIAS
EM BARCELONA
Ainda sem conseguir identificar todos os 13 mortos no
atropelamento ferroviário de
quarta-feira à noite, os espanhóis se dedicaram ontem a
tentar compreender o que
causou a tragédia.
Uma corrente acompanhava o raciocínio dos governos
socialistas da Espanha e da
Catalunha: a grande causa
do acidente foi a imprudência do grupo que resolveu
cruzar por cima dos trilhos.
"É uma estação modernizada e bem sinalizada", disse
o secretário de Estado de Infraestruturas, Victor Morlán.
"Ninguém pode atravessar
pelas vias do trem. Quando
se quebra essa máxima, os
riscos existem", afirmou.
Seguindo essa linha de raciocínio, grande parte do noticiário se concentrou na história de uma mulher apanhada ontem cruzando a pé os
trilhos da mesma estação
Praia Castelldefels (cidade 20
km ao sul de Barcelona).
De origem russa, disse que
não sabia o que havia ocorrido na noite anterior. Tinha
apanhado um dos poucos
trens disponíveis ontem (havia greve parcial no setor) e
argumentou que estava atrasada para trabalhar.
Na Catalunha, cruzar linhas férreas fora dos locais
permitidos vale multa que
pode ir de 6.000 (R$ 13,3
mil) a 30 mil (R$ 66 mil).
Outra corrente insistia
que, a despeito do fato inequívoco de que as vítimas estavam onde não deveriam estar, as autoridades deveriam
pensar um pouco mais sobre
o que fazer para evitar tragédias como essa.
Uma medida óbvia é evitar
que trens de alta velocidade,
como esse, tenham que cruzar estações cheias de gente
nas quais não têm que parar.
O governo espanhol sinalizou que isso pode ocorrer em
dois ou três anos, assim que
terminarem obras para trens
de alta velocidade trafegarem por linhas exclusivas.
Outro ponto de interrogação diz respeito ao tamanho
da passagem subterrânea
que leva as pessoas até a saída da estação.
A dúvida é se, numa estação que vive lotada no verão,
o túnel é de fato suficiente
para evitar que as pessoas
caiam na tentação de cruzar
sobre as linhas para não ter
que esperar o fluxo de gente.
Essa tentação certamente
teve papel central na segunda maior tragédia ferroviária
dos últimos 30 anos na Espanha, que deixou, além dos 13
mortos, 14 feridos -10 deles
ainda hospitalizados.
Ontem foram identificados 9 dos 13 mortos. Cinco
deles são equatorianos, dois
são colombianos, e dois são
bolivianos.
Por exigências judiciais e
pedidos familiares, porém, o
governo catalão só divulgou
o nome de seis vítimas. As
idades vão de 17 a 39 anos.
As vítimas se dirigiam à
praia de Castelldefels para
acompanhar uma festa latina durante a noite de São
João, data catalã tradicional
de festejos na beira do mar.
Ao cruzar a via, não notaram
a aproximação de um trem
que carregava 700 pessoas a
139 km/h.
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