São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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França premia Líbia com acordo nuclear

Sarkozy visitou o ditador Gaddafi, em agradecimento à libertação na terça de enfermeiras búlgaras e médico palestino

Jornal afirma que Qatar, França e europeus pagaram US$ 461 mi à ditadura; Rice diz que também irá a Trípoli e cita investimento dos EUA

DA REDAÇÃO

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, visitou ontem a Líbia, dentro de uma operação destinada a reintegrar a ditadura de Muammar Gaddafi "no concerto das nações". Em Washington, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, declarou que também pretende "brevemente" visitar o país e que os empresários americanos estão interessados em investir nele.
As manifestações retribuem o desfecho positivo de negociações que permitiram libertar, anteontem, cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestino, acusados de infectar com o HIV 426 crianças num hospital da cidade de Benghazi e primeiramente condenados à morte. A França e a União Européia -da qual a Bulgária é membro- lideraram o diálogo com a Líbia, que resultou na comutação da pena e na libertação.
Segundo o "Le Monde", uma das iniciativas de Sarkozy foi a reativação do acordo nuclear assinado no ano passado. A indústria francesa se comprometeria a fornecer reatores para a produção de energia elétrica. Uma entidade francesa que se opõe à energia nuclear protestou contra a "barganha" de reatores pelas enfermeiras.
Sarkozy também assinou um acordo de cooperação militar e industrial cujos detalhes eram ainda ontem desconhecidos.

Operação triangular
O jornal "Le Monde" detalhou uma operação triangular para que Qatar, França e outros países da UE arcassem com os US$ 461 milhões que indenizarão familiares das crianças infectadas. O dinheiro iria para uma entidade privada, o Fundo Internacional do Benghazi, que o reverteria ao Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social líbio, responsável por distribui-lo às famílias.
Benita Ferrero-Waldner, comissária das Relações Exteriores da UE, disse que o fundo poderia receber doações oficiais e privadas. Mas o ministro do Exterior líbio, Abdelrahman Chalgham, disse que "todos pagaram", citando nominalmente a UE e o governo francês.
Assessores de Sarkozy haviam afirmado anteontem que nenhum pagamento havia sido feito. Ontem, no entanto, a UE procurou caracterizar seu esforço como "contribuição" e não como "resgate" do grupo.
Estes, em entrevista em Sófia, disseram estar dispostos a acionar tribunais internacionais "contra responsáveis pelas torturas" que sofreram durante os oito anos de prisão.
Familiares das crianças infectadas protestaram contra o decreto presidencial búlgaro que agraciou o grupo e o desobrigou de cumprir pena de prisão perpétua na Bulgária.
A boa vontade para com a ditadura líbia não é unânime. O ministro belga das Relações Exteriores, Karel De Gucht, disse que "não podemos premiar a Líbia por ter libertado pessoas que ficaram presas em condições medonhas".
A Anistia Internacional interpelou Ferrero-Waldner para que ela explique se o acordo firmado com a Líbia também trata dos direitos humanos.


Com agências internacionais


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