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EUA anunciam suspensão de vistos a hondurenhos
Medida tenta minar apoio até aqui irrestrito de elite de Honduras ao regime golpista
Passados 59 dias da queda de Manuel Zelaya, Chancelaria americana ainda discute, porém, se sua deposição foi ou não um golpe militar
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em nova tentativa de pressão
diplomática dos EUA contra o
regime golpista de Honduras, o
Departamento de Estado americano anunciou ontem que
suspenderá a concessão de vistos não emergenciais a cidadãos hondurenhos. Estão incluídos na categoria os de turismo e de negócios, o que pode
afetar 30 mil pessoas por ano.
A medida atinge principalmente membros da elite hondurenha, muitos dos quais têm
casas e costumam passar férias
em Miami, e visa minar o apoio
até agora incondicional do grupo ao governo de Roberto Micheletti, alçado ao poder após a
deposição de Manuel Zelaya.
Segue-se à suspensão de vistos diplomáticos de pessoas ligadas ao golpe e à suspensão
parcial de ajuda financeira, por
enquanto num total de US$ 36
milhões. Em conversa telefônica com jornalistas ontem, um
funcionário graduado da Chancelaria americana não descartou novas medidas, embora não
tenha dito quais seriam.
Ainda assim, a análise é que o
país vem sendo tímido e lento
demais na pressão para que os
golpistas aceitem os termos do
acordo proposto pelo costa-riquenho Óscar Arias, cujo ponto
principal é a volta de Zelaya ao
poder antes das eleições presidenciais de novembro.
Segundo o Escritório de Comércio Exterior dos EUA, dois
terços de tudo o que produz
Honduras, que tem um PIB de
US$ 14 bilhões, são comprados
pelos EUA.
Além disso, segundo levantamento do progressista Center
for Economic and Policy Research, baseado em Washington, Honduras continua recebendo US$ 190 milhões via Millennium Challenge Corporation (MCC), fundo de assistência a países pobres estabelecido
por George W. Bush em 2004.
Passados 59 dias da queda de
Zelaya, o governo Obama nem
sequer chegou à conclusão sobre se o ocorrido foi um golpe
militar ou não. Indagado pela
Folha, o funcionário do Departamento de Estado admitiu que
era um golpe de Estado, mas
disse que dois advogados da
Chancelaria seguem examinando se foi militar e devem
chegar a uma conclusão "em
breve".
A questão semântica tem
uma implicação legal. Se os
EUA afirmarem que houve um
golpe militar em Honduras, leis
americanas específicas de bloqueio político e econômico devem ser aplicadas. Postergar
essa definição é uma maneira
de continuar a negociação em
termos diplomáticos.
Ainda assim, a Chancelaria
nega que esteja ganhando tempo até as eleições de novembro,
para que a situação se resolva
nas urnas. A volta de Zelaya é
precondição, disse o funcionário, que sugeriu que o resultado
do pleito não será reconhecido
caso o retorno não ocorra.
A medida de ontem foi anunciada para coincidir com a viagem de chanceleres de países-membros da OEA (Organização de Estados Americanos) a
Honduras. Liderado pelo secretário-geral José Miguel Insulza, o grupo fracassou na tentativa de convencer o regime
golpista a assinar o acordo proposto por Arias.
A maior resistência foi do
presidente golpista, que recebeu a comitiva na tarde de ontem. "Não temos medo de embargo", disse Roberto Micheletti. "Insulza veio ao país dar
ordens, e isso não permitimos
que ninguém faça, ainda que
sejamos o país mais pobre das
Américas", afirmou -na verdade, esse posto pertence ao Haiti, com PIB de US$ 11,6 bilhões.
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