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Perda de contratos da Odebrecht pode ser revista, diz Equador
Secretário anticorrupção afirma que presidente pode voltar atrás e esclarece que a construtora não foi expulsa do país
Funcionários da empresa brasileira continuam a trabalhar em projetos, mas sob vigilância estrita de soldados equatorianos
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
A decisão do governo equatoriano de suspender os contratos com a construtora Odebrecht não é definitiva e está
nas mãos do presidente Rafael
Correa, admitiu ontem o secretário Nacional Anticorrupção,
Alfredo Vera. Ele esclareceu
ainda que a empresa brasileira,
responsabilizada pelas falhas
na construção de uma usina,
não foi expulsa do país.
"Do meu ponto de vista, não",
disse, ao ser questionado pela
Folha se a perda dos contratos
com o Estado é reversível. "Mas
não tenho atribuições, é uma
decisão do presidente. A única
forma que isso possa ser reversível é que o chefe de Estado decida fazê-lo."
Vera, por outro lado, disse
que a Odebrecht não será obrigada a deixar o Equador, apesar
de várias declarações de colegas de governo, inclusive o próprio Correa, nesse sentido.
"A figura [da expulsão] não
está determinada com precisão, porque, ao mesmo tempo,
estabelece a proibição para sair
do país. Se os funcionários não
podem viajar, tampouco se pode expulsá-los", afirmou. "Não
sei se a empresa continuará,
não é um assunto que interessa
ao Estado."
Apesar de o governo Correa
ter arrestado os bens da construtora na terça-feira, os cerca
de 2.500 empregados da Odebrecht continuaram trabalhando nos últimos dois dias.
Com a exceção da presença
militar, o expediente foi normal nos três escritórios e nos
quatro projetos em construção,
cujos orçamentos somam US$
650 milhões. As obras incluem
duas usinas hidrelétricas, um
projeto de irrigação e um aeroporto de médio porte.
Hoje, está marcada uma reunião do Conselho da Província
de Pichincha para discutir a
realização de uma nova licitação para a hidrelétrica Toachi
Pilatón, hoje tocada pela Odebrecht. Segundo o governo
equatoriano, as obras estão
apenas iniciadas.
Vera disse que sua pasta encontrou irregularidades em todos esses quatro projetos. "Os
problemas são muito complexos, é como entender a fórmula
de Einstein", disse, ao ser questionado sobre os detalhes.
No escritório da Odebrecht
em Quito, os 15 funcionários
trabalharam ontem sob a vigilância de 6 a 7 soldados armados com fuzis, segundo relato à
reportagem de um deles, sob a
condição do anonimato.
De acordo com esse funcionário, os militares, no local desde terça, proibiram a saída de
documentos, mas a convivência é pacífica. Dois funcionários
da empresa impedidos de sair
do país estão há três dias na residência oficial do embaixador
do Brasil no Equador.
Já na usina hidrelétrica de
San Francisco, parada desde o
início de junho, cerca de 290
funcionários da Odebrecht
continuaram reparando o túnel
para cumprir a promessa de
que a produção de energia volte
no dia 6 de outubro.
Após semanas de impasse
nas negociações com a Odebrecht, Correa interveio nas
atividades da empresa na terça-feira, sob a alegação de que a
paralisação da usina de San
Francisco, responsável por 12%
da produção de energia no
Equador, ameaçava o abastecimento regular do país.
Correa exige que o consórcio
liderado pela Odebrecht indenize o Estado pelas perdas geradas pela paralisação da usina,
inaugurada em junho de 2007.
A empresa propôs uma auditoria internacional para estabelecer as responsabilidades.
O secretário anticorrupção
negou que as medidas sejam
parte da campanha para aprovar a nova Constituição no referendo de domingo. "O problema começou em junho."
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