São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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Precariedade e incerteza marcaram cativeiro

DA REDAÇÃO

As luzes ficavam acesas o tempo todo. As cadeiras do teatro viraram camas e o fosso da orquestra virou um "banheiro público", mesmo sem nenhum papel higiênico ou água. O cheiro ia ficando cada vez pior. No meio de tudo, surgiu uma grande solidariedade entre os reféns presos na antiga Casa da Cultura de Moscou.
"Eles se transformaram num tipo de família. Alguns deles discutiam, outros tentavam rir da situação. Eles estavam apenas tentando sobreviver", disse o médico Leonid Roshal, um dos cinco médicos que puderam entrar no teatro desde o começo do sequestro.
"Muitos deles sofriam com o estresse... Alguém pode imaginar como é a vida nessas condições?", pergunta Roshal.
Segundo ele, as mulheres tomaram a frente da organização e tentavam manter algum tipo de ordem no uso do "banheiro".
O estresse não vem só da falta de higiene, mas da incerteza: ninguém sabia o que iria acontecer, se tropas entrariam no prédio ou se os sequestradores começariam a matar pouco a pouco os reféns.
Usando seus celulares, alguns dos cativos conseguiram entrar em contato com familiares ou passar mensagens dos sequestradores para as autoridades.
Tatiana Vladimirovna, 57, mãe de uma das reféns, entrou em desespero. Tentando fazer com que um policial falasse ao celular, ela pedia insistentemente: "Minha filha ligou há uns dez minutos implorando para que vocês não ataquem! Vocês vão atacar? Explique a ela o que está acontecendo!"
Uma outra mãe recebeu uma mensagem de seu filho de 15 anos: "Mãe, até agora, tudo bem".
"Onde está Putin? Ele já falou na TV?", perguntou impacientemente ao celular a cardiologista Maria Shkolnikova. Era possível ouvir os gritos dos terroristas atrás dela: "Vocês já estão aqui há mais de dez horas e seu governo nada fez para salvá-los!"
O canal de comunicação durou pouco. Na noite de quinta-feira, os celulares que não foram confiscados pelos sequestradores começaram a ficar sem bateria.
"Está mudo", disse Boris Gubanov, 21, jogando-se desconsolado numa cadeira depois de tentar ligar para uma refém, a namorada.


Com agências internacionais

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