São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Futuro presidente terá de unir África do Sul

Favorito, Zuma encontrará desafio de se equilibrar entre esquerda e empresários em cenário de baixa confiança na economia

Anos de crescimento médio de 5% do PIB, proporcionado por política econômica liberal do ex-presidente Mbeki, não erradicaram pobreza abjeta


TOM BURGIS
WILLIAM WALLIS
DO "FINANCIAL TIMES"

Ferido mortalmente pela disputa pela liderança do CNA (Congresso Nacional Africano), Thabo Mbeki ficou isolado, perdeu popularidade e acabou deposto da Presidência da África do Sul. Agora, muitos depositam suas esperanças em Jacob Zuma, vendo-o como chance de mudança radical em relação à política econômica liberal dos últimos dez anos, que não conseguiu eliminar a pobreza.
Zuma chegou mais perto de consolidar seu domínio sobre o poder quando seu braço direito, Kgalema Motlanthe, tomou posse como presidente interino, cargo que deverá ocupar até as eleições previstas para meados de 2009. Agora eles enfrentam a tarefa mais difícil de unir o país. Mais difícil ainda será reativar a confiança doméstica e internacional na economia desaquecida que herdaram.
A alta nos preços mundiais dos alimentos e dos combustíveis, somada à frustração com o ritmo das transformações econômicas, resultou na instabilidade política que vem trazendo para posições de destaque as facções mais militantes de esquerda da coalizão governista. Quando o apartheid foi derrotado, 14 anos atrás, Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, personificou uma reconciliação milagrosa no interior da sociedade sul-africana racialmente segregada, inspirando o mundo. Mas não houve milagre na camada inferior da sociedade.
Os sul-africanos ainda vivem numa sociedade polarizada na qual a pobreza abjeta convive com a riqueza ostentatória. Os economistas que previram que o país conseguiria equiparar-se ao ritmo de grandes potências do mercado emergente, como Brasil, China e Índia, se decepcionaram. A economia sul-africana continua a ser dominada pelos setores de mineração e financeiro.
Ao mesmo tempo, a escassez de profissionais qualificados é agravada pela emigração de pessoas de mais alta instrução e pela epidemia de Aids. No ano passado a África do Sul tornou-se importadora líquida de alimentos pela primeira vez.
Zuma é visto por muitos como esperança de tempos melhores. Quando assumir, verá testadas suas habilidades de conciliador. Comunistas, sindicalistas e militantes da ala jovem do CNA querem o fim da política econômica que gerou um crescimento médio anual de 5% do PIB nos últimos anos.
Eles querem que sejam revistos os alvos rígidos de inflação e argumentam que apenas nacionalizações e protecionismo poderão desativar a "bomba ativada" do desemprego de 40%.
Zuma enfrenta a difícil tarefa de satisfazer tanto os pobres como os empresários. Analistas prevêem que, com crise atual, não haverá muita escolha senão recusar a maioria das demandas da esquerda. Apenas se conservar ou aumentar a quantidade de divisas no país é que a África do Sul conseguirá continuar a financiar um déficit de conta corrente que cresceu para 9% do PIB.


Tradução de CLARA ALLAIN


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