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Futuro presidente terá de unir África do Sul
Favorito, Zuma encontrará desafio de se equilibrar entre esquerda e empresários em cenário de baixa confiança na economia
Anos de crescimento médio de 5% do PIB, proporcionado por política econômica liberal do ex-presidente Mbeki, não erradicaram pobreza abjeta
TOM BURGIS
WILLIAM WALLIS
DO "FINANCIAL TIMES"
Ferido mortalmente pela
disputa pela liderança do CNA
(Congresso Nacional Africano), Thabo Mbeki ficou isolado,
perdeu popularidade e acabou
deposto da Presidência da África do Sul. Agora, muitos depositam suas esperanças em Jacob Zuma, vendo-o como chance de mudança radical em relação à política econômica liberal
dos últimos dez anos, que não
conseguiu eliminar a pobreza.
Zuma chegou mais perto de
consolidar seu domínio sobre o
poder quando seu braço direito, Kgalema Motlanthe, tomou
posse como presidente interino, cargo que deverá ocupar até
as eleições previstas para meados de 2009. Agora eles enfrentam a tarefa mais difícil de unir
o país. Mais difícil ainda será
reativar a confiança doméstica
e internacional na economia
desaquecida que herdaram.
A alta nos preços mundiais
dos alimentos e dos combustíveis, somada à frustração com o
ritmo das transformações econômicas, resultou na instabilidade política que vem trazendo
para posições de destaque as
facções mais militantes de esquerda da coalizão governista.
Quando o apartheid foi derrotado, 14 anos atrás, Nelson
Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, personificou uma reconciliação milagrosa no interior da sociedade sul-africana racialmente segregada, inspirando o mundo.
Mas não houve milagre na
camada inferior da sociedade.
Os sul-africanos ainda vivem
numa sociedade polarizada na
qual a pobreza abjeta convive
com a riqueza ostentatória.
Os economistas que previram que o país conseguiria
equiparar-se ao ritmo de grandes potências do mercado
emergente, como Brasil, China
e Índia, se decepcionaram. A
economia sul-africana continua a ser dominada pelos setores de mineração e financeiro.
Ao mesmo tempo, a escassez
de profissionais qualificados é
agravada pela emigração de
pessoas de mais alta instrução e
pela epidemia de Aids. No ano
passado a África do Sul tornou-se importadora líquida de alimentos pela primeira vez.
Zuma é visto por muitos como esperança de tempos melhores. Quando assumir, verá
testadas suas habilidades de
conciliador. Comunistas, sindicalistas e militantes da ala jovem do CNA querem o fim da
política econômica que gerou
um crescimento médio anual
de 5% do PIB nos últimos anos.
Eles querem que sejam revistos os alvos rígidos de inflação e
argumentam que apenas nacionalizações e protecionismo poderão desativar a "bomba ativada" do desemprego de 40%.
Zuma enfrenta a difícil tarefa
de satisfazer tanto os pobres
como os empresários. Analistas
prevêem que, com crise atual,
não haverá muita escolha senão recusar a maioria das demandas da esquerda.
Apenas se conservar ou aumentar a quantidade de divisas
no país é que a África do Sul
conseguirá continuar a financiar um déficit de conta corrente que cresceu para 9% do PIB.
Tradução de CLARA ALLAIN
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