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EUA enviarão alto funcionário a Honduras
Decisão, confirmada à Folha pelo Departamento de Estado, foi tomada após conversa de Hillary Clinton com deposto e interino
Em telefonema a Zelaya e Micheletti, secretária pediu a ambos flexibilidade para resolver impasse; enviado deve chegar nesta semana
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
O governo dos EUA enviará
um ou mais funcionários da alta administração para atuar nas
negociações entre o presidente
deposto, Manuel Zelaya, e o governo interino de Roberto Micheletti ainda nesta semana. A
informação foi confirmada à
Folha ontem pelo Departamento de Estado, mas os detalhes não foram divulgados.
A confirmação do departamento ocorre dois dias depois
de uma ligação da secretária de
Estado, Hillary Clinton, a Zelaya, que segue abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Hillary conversou também com Micheletti na sexta-feira. Nos dois casos, incentivou as partes a mostrarem flexibilidade e redobrarem os esforços para acabar com a crise,
segundo disse uma fonte do
Departamento de Estado.
Fontes próximas a Zelaya
disseram à Folha que Hillary
se comprometeu a pressionar
Micheletti para restituir o presidente deposto.
A ida de funcionários do governo dos EUA pode significar
um maior engajamento do governo de Barack Obama na resolução do conflito. Até agora,
os EUA têm adotado uma posição dúbia.
De um lado, afirmam que
houve um golpe de Estado no
país, mas de outro já acenaram
com a possibilidade de reconhecer o resultado das eleições
marcadas para novembro,
mesmo sem a reconstituição de
Zelaya à Presidência.
Na semana passada, os EUA
voltaram a cortar vistos de
hondurenhos ligados ao governo Micheletti. A bancada republicana, no entanto, avalia que
os acontecimentos em Honduras estão de acordo com a
Constituição do país e tem sido
pressionada também pela comunidade hondurenha nos
EUA a apoiar Micheletti
Questionado pela reportagem ontem à tarde, Zelaya não
quis comentar sobre a conversa com a secretária americana.
A promessa de Clinton ocorreu horas depois de as negociações instaladas pela Organização dos Estados Americanos
(OEA) terem sido oficialmente
rompidas.
Na última sexta, Micheletti
voltou a propor que ele e Zelaya renunciassem em favor de
um terceiro nome.
A chamada terceira via foi
encampada pelo enviado especial da OEA a Honduras, John
Biehl, que no mesmo dia pressionou pessoalmente o presidente deposto a aceitá-la, sem
sucesso. Em seguida, ele anunciou a sua saída de Tegucigalpa.
O telefonema de Clinton voltou a aumentar o otimismo entre Zelaya e seu entorno, que
hoje completam cinco semanas
como "hóspedes" da embaixada brasileira, isolada do resto
de Tegucigalpa por dezenas de
policiais e militares.
Desde o início da crise, Zelaya tem dito que só uma maior
pressão americana poderia restituí-lo à Presidência. Os EUA
compram dois terços das exportações hondurenhas e têm
uma longa história de intervenção política em toda a América Central.
Bênção
Ontem, Zelaya voltou a receber a visita da mãe, de suas filhas e a neta, como vem ocorrendo nos últimos domingos.
A também já tradicional missa de domingo terminou de forma inusitada: a pedido de Zelaya, a cerimônia foi transferida
da garagem ao amplo terraço
acima para "abençoar os franco-atiradores", nas palavras do
presidente deposto.
"Elevemos uma oração para
os soldados, para todos eles. Eu
sei que eles só recebem as ordens e asseguro que mais de um
deles tem o coração são", disse
o padre Andrés Tamayo, também abrigado na embaixada.
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