São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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EUA enviarão alto funcionário a Honduras

Decisão, confirmada à Folha pelo Departamento de Estado, foi tomada após conversa de Hillary Clinton com deposto e interino

Em telefonema a Zelaya e Micheletti, secretária pediu a ambos flexibilidade para resolver impasse; enviado deve chegar nesta semana

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

O governo dos EUA enviará um ou mais funcionários da alta administração para atuar nas negociações entre o presidente deposto, Manuel Zelaya, e o governo interino de Roberto Micheletti ainda nesta semana. A informação foi confirmada à Folha ontem pelo Departamento de Estado, mas os detalhes não foram divulgados.
A confirmação do departamento ocorre dois dias depois de uma ligação da secretária de Estado, Hillary Clinton, a Zelaya, que segue abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Hillary conversou também com Micheletti na sexta-feira. Nos dois casos, incentivou as partes a mostrarem flexibilidade e redobrarem os esforços para acabar com a crise, segundo disse uma fonte do Departamento de Estado.
Fontes próximas a Zelaya disseram à Folha que Hillary se comprometeu a pressionar Micheletti para restituir o presidente deposto.
A ida de funcionários do governo dos EUA pode significar um maior engajamento do governo de Barack Obama na resolução do conflito. Até agora, os EUA têm adotado uma posição dúbia.
De um lado, afirmam que houve um golpe de Estado no país, mas de outro já acenaram com a possibilidade de reconhecer o resultado das eleições marcadas para novembro, mesmo sem a reconstituição de Zelaya à Presidência.
Na semana passada, os EUA voltaram a cortar vistos de hondurenhos ligados ao governo Micheletti. A bancada republicana, no entanto, avalia que os acontecimentos em Honduras estão de acordo com a Constituição do país e tem sido pressionada também pela comunidade hondurenha nos EUA a apoiar Micheletti
Questionado pela reportagem ontem à tarde, Zelaya não quis comentar sobre a conversa com a secretária americana.
A promessa de Clinton ocorreu horas depois de as negociações instaladas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) terem sido oficialmente rompidas.
Na última sexta, Micheletti voltou a propor que ele e Zelaya renunciassem em favor de um terceiro nome.
A chamada terceira via foi encampada pelo enviado especial da OEA a Honduras, John Biehl, que no mesmo dia pressionou pessoalmente o presidente deposto a aceitá-la, sem sucesso. Em seguida, ele anunciou a sua saída de Tegucigalpa.
O telefonema de Clinton voltou a aumentar o otimismo entre Zelaya e seu entorno, que hoje completam cinco semanas como "hóspedes" da embaixada brasileira, isolada do resto de Tegucigalpa por dezenas de policiais e militares.
Desde o início da crise, Zelaya tem dito que só uma maior pressão americana poderia restituí-lo à Presidência. Os EUA compram dois terços das exportações hondurenhas e têm uma longa história de intervenção política em toda a América Central.

Bênção
Ontem, Zelaya voltou a receber a visita da mãe, de suas filhas e a neta, como vem ocorrendo nos últimos domingos.
A também já tradicional missa de domingo terminou de forma inusitada: a pedido de Zelaya, a cerimônia foi transferida da garagem ao amplo terraço acima para "abençoar os franco-atiradores", nas palavras do presidente deposto.
"Elevemos uma oração para os soldados, para todos eles. Eu sei que eles só recebem as ordens e asseguro que mais de um deles tem o coração são", disse o padre Andrés Tamayo, também abrigado na embaixada.

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