São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Corte de Honduras e TV são alvo de ataques

Lançamento de granada e bomba caseira contra órgãos considerados pró-governo interino deixam leves danos materiais

Para golpistas, incidentes do tipo visam inviabilizar pleito de domingo; interino culpa Zelaya por ações e afirma haver plano para matá-lo


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Em meio a chamados cruzados para apoiar e boicotar a eleição de domingo em Honduras, a Corte Suprema e um estúdio de TV foram atacados respectivamente com lança-granadas e uma bomba caseira ontem de madrugada, causando pequenos danos materiais.
O impacto do ataque ao órgão máximo do Judiciário, cuja segurança tem sido feita por soldados, abriu um buraco de cerca de um metro na parede externa e quebrou o vidro de três janelas, sem deixar feridos.
Segundo fontes militares, o explosivo foi lançado pelo lança-granadas antitanque russo RPG-7. O armamento, que não é usado pelas Forças Armadas, circula na América Central desde os anos 80, quando foi introduzido pelos "contras" da Nicarágua -mercenários recrutados pela CIA com a missão de derrubar os sandinistas- e pela guerrilha salvadorenha.
No estúdio de TV onde é gravado o programa do jornalista Rodrigo Wong Arévalo, uma bomba foi colocada no estacionamento. Os estilhaços quebraram sete vidros do prédio.
A Corte Suprema e Wong Arévalo são identificados como pró-governo interino, de Roberto Micheletti, que assumiu o país após a deposição de Manuel Zelaya, em 28 de junho.
Nas últimas semanas, Honduras tem sofrido ataques quase diários de bombas caseiras e granadas, principalmente em centros comerciais e banheiros públicos, até agora sem provocar grandes estragos ou mortes.
Para o governo Micheletti, as bombas têm como objetivo intimidar os eleitores e são responsabilidade de simpatizantes de Zelaya, que tem exortado seus seguidores a "impugnar" o pleito para escolher o novo presidente, além de deputados, prefeitos e vereadores.
Anteontem à noite, Micheletti denunciou um plano para matá-lo, depois de a polícia anunciar a apreensão de dois fuzis na cidade de El Progreso, seu domicílio eleitoral.
O presidente interino não foi ontem à Casa Presidencial, no primeiro dia de sua "licença temporária" do Executivo, que dura até a próxima quarta-feira, dia em que o Congresso votará se Zelaya será restituído.
O governo interino e seus apoiadores, que incluem os principais meios de comunicação, têm feito intensa campanha publicitária para que os eleitores votem no domingo.
Já Zelaya pede que seus seguidores se abstenham, embora o principal partido que o apoia, o esquerdista Unificação Democrática (UD), tenha ratificado sua participação.
Ontem, até o jornal esportivo "Diez" estampava a manchete "Não fique sem votar". Em algumas bancas, a edição aparecia ao lado "El Libertador", pró-Zelaya, com o enunciado para o lado oposto: "Não vote".
Durante todo o dia de ontem, o canal 36, única emissora de TV pró-Zelaya, permaneceu fora do ar e acusou o governo interino de interferir no sinal.
Ainda ontem, comunicado da Chancelaria hondurenha chamou de "intervencionismo inédito" a proposta aventada pelo Brasil de adiar o pleito até que saia a decisão do Congresso sobre a restituição de Zelaya.


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