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Documentos revelam colaboração EUA-Iraque
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Para conservar o acesso ao petróleo na região e fortalecer sua
presença militar no Oriente Médio, os EUA colaboraram, no início dos anos 80, com o florescimento de tudo o que agora querem eliminar em uma guerra contra o Iraque de Saddam Hussein.
Um dos principais protagonistas dessa cooperação na época foi
o atual secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld, segundo documentos tornados públicos nesta semana pelos Arquivos
de Segurança Nacional dos EUA.
Por ordem do então presidente
Ronald Reagan (1981-89), Rumsfeld, na época assessor de alto nível da Presidência, fez duas viagens ao Iraque, em 1983 e 1984. Da
primeira, ficou o registro em áudio e vídeo de um sorridente
Rumsfeld de mãos dadas com um
Saddam em uniforme militar.
Os documentos mostram que
os americanos cooperaram com
os iraquianos mesmo sabendo
das aspirações militares de Saddam e de seus supostos laços com
grupos terroristas.
Segundo os papéis, os EUA estavam informados de que o programa de mísseis iraquiano incluía "'uma eventual capacidade nuclear". Conheciam também detalhes sobre o uso de armas químicas contra os iranianos na Guerra
Irã-Iraque (1980-88) e contra civis
em solo iraquiano.
Há menos de cinco meses questionado pela CNN sobre a natureza daquele encontro com Saddam, Rumsfeld disse: "Eu o alertei
sobre o uso de armas químicas".
No vídeo tornado público, não há
referência a "armas químicas".
Os papéis incluem ainda uma
diretiva de segurança nacional, de
novembro de 1983, intitulada
"Política americana relativa à
Guerra Irã-Iraque". As prioridades eram "proteger instalações,
militares americanos e poços de
petróleo em todo o golfo Pérsico".
Outro documento mostra ainda
os esforços diplomáticos dos iraquianos em relação aos americanos para que os EUA não indicassem o Iraque nominalmente à
ONU como um detentor de armas químicas. A pressão na ONU
partia do Irã, atacado pelos iraquianos. Os EUA atenderam ao
pedido do Iraque.
Toda a documentação foi gerada no período de aproximação
entre americanos e iraquianos
após o início da Guerra Irã-Iraque. Detalha, até 1984, os passos
para a renovação dos laços diplomáticos entre os dois países
-suspensos em 1967.
Oficialmente, os EUA sempre
consideraram terem tido uma posição neutra naquela guerra. Mas
o apoio aos iraquianos não se limitou a visitas diplomáticas.
Em fevereiro de 1982, o Departamento de Estado tirou o Iraque
da lista de países que apoiavam o
terrorismo. Mais à frente, quando
as despesas da guerra tornaram-se insustentáveis para o Iraque, os
americanos ajudaram o país a obter financiamentos.
A justificativa: conter os iranianos, que tinham "o objetivo confesso de eliminar o governo legítimo do vizinho Iraque".
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