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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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Documentos revelam colaboração EUA-Iraque

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Para conservar o acesso ao petróleo na região e fortalecer sua presença militar no Oriente Médio, os EUA colaboraram, no início dos anos 80, com o florescimento de tudo o que agora querem eliminar em uma guerra contra o Iraque de Saddam Hussein.
Um dos principais protagonistas dessa cooperação na época foi o atual secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld, segundo documentos tornados públicos nesta semana pelos Arquivos de Segurança Nacional dos EUA.
Por ordem do então presidente Ronald Reagan (1981-89), Rumsfeld, na época assessor de alto nível da Presidência, fez duas viagens ao Iraque, em 1983 e 1984. Da primeira, ficou o registro em áudio e vídeo de um sorridente Rumsfeld de mãos dadas com um Saddam em uniforme militar.
Os documentos mostram que os americanos cooperaram com os iraquianos mesmo sabendo das aspirações militares de Saddam e de seus supostos laços com grupos terroristas.
Segundo os papéis, os EUA estavam informados de que o programa de mísseis iraquiano incluía "'uma eventual capacidade nuclear". Conheciam também detalhes sobre o uso de armas químicas contra os iranianos na Guerra Irã-Iraque (1980-88) e contra civis em solo iraquiano.
Há menos de cinco meses questionado pela CNN sobre a natureza daquele encontro com Saddam, Rumsfeld disse: "Eu o alertei sobre o uso de armas químicas". No vídeo tornado público, não há referência a "armas químicas".
Os papéis incluem ainda uma diretiva de segurança nacional, de novembro de 1983, intitulada "Política americana relativa à Guerra Irã-Iraque". As prioridades eram "proteger instalações, militares americanos e poços de petróleo em todo o golfo Pérsico".
Outro documento mostra ainda os esforços diplomáticos dos iraquianos em relação aos americanos para que os EUA não indicassem o Iraque nominalmente à ONU como um detentor de armas químicas. A pressão na ONU partia do Irã, atacado pelos iraquianos. Os EUA atenderam ao pedido do Iraque.
Toda a documentação foi gerada no período de aproximação entre americanos e iraquianos após o início da Guerra Irã-Iraque. Detalha, até 1984, os passos para a renovação dos laços diplomáticos entre os dois países -suspensos em 1967.
Oficialmente, os EUA sempre consideraram terem tido uma posição neutra naquela guerra. Mas o apoio aos iraquianos não se limitou a visitas diplomáticas.
Em fevereiro de 1982, o Departamento de Estado tirou o Iraque da lista de países que apoiavam o terrorismo. Mais à frente, quando as despesas da guerra tornaram-se insustentáveis para o Iraque, os americanos ajudaram o país a obter financiamentos.
A justificativa: conter os iranianos, que tinham "o objetivo confesso de eliminar o governo legítimo do vizinho Iraque".


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