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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Círculo íntimo de Saddam pode ser julgado por crimes de guerra; outras autoridades podem ajudar na era pós-Saddam

EUA fazem listas sobre a elite iraquiana

THOM SHANKER
DAVID JOHNSTON
DO "THE NEW YORK TIMES"

Os serviços de inteligência dos EUA identificaram mais de 2.000 membros do alto escalão do governo iraquiano, inclusive alguns que, se capturados, podem ser classificados como criminosos de guerra. Os militares americanos tentarão convencer alguns deles a se voltarem contra o ditador Saddam Hussein em uma possível guerra contra o Iraque, segundo autoridades de Washington.
Os dados, cuja existência estava sendo mantida em segredo, dividem as autoridades iraquianas em três grupos: o círculo íntimo de Saddam, os de lealdade incerta e os possíveis colaboradores.
O presidente dos EUA, George W. Bush, já deixou claro que os que atacarem as forças aliadas no Iraque serão tratados como criminosos de guerra. Porém, segundo ele, quem impedir o uso de armas de destruição em massa ou se renderem terão um tratamento diferenciado.
"Se eles impedirem o uso de armas de destruição em massa ou fizerem as tropas sob suas ordens se renderem sem necessidade de uso da força, suas punições serão suavizadas", disse um importante assessor de Bush que não se identificou. A lista dos iraquianos foi compilada pelos serviços de inteligência e departamentos do governo, como a CIA (serviço de inteligência dos EUA), o Pentágono e o Departamento da Justiça. Autoridades salientaram que a classificação de lideranças já havia ocorrido antes, com o regime do Taleban, no Afeganistão, em 2000, e com o regime iugoslavo, na Guerra de Kosovo, em 1999, mas em menor escala.
A lista faz parte de um esforço coordenado do governo americano para encorajar atos internos no Iraque que minem a autoridade de Saddam, desfaça o círculo que o rodeia e talvez o force a deixar o país, dizem autoridades.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, voltou a dizer que o exílio de Saddam seria uma forma de impedir a guerra.
O objetivo da lista também é atrair membros do alto escalão iraquiano que não façam parte do círculo íntimo para o lado americano em caso de eclosão da guerra para derrubar o regime do ditador iraquiano.

Ameaça
As autoridades americanas, que se recusavam a comentar a lista, passaram a admitir a sua existência após surgir a informação de que Saddam teria tomado conhecimento dela. O ditador teria dito a muitos de seus subordinados que os EUA os tratarão como criminosos de guerra e que a melhor maneira de eles sobreviverem seria continuarem leais ao regime.
Os americanos afirmam que o número de pessoas que integram a primeira categoria, do círculo íntimo de Saddam e que podem ser julgados por crimes de guerra, é relativamente pequeno.
Entre as pessoas que integram essa categoria há militares de alto escalão, autoridades de segurança, membros do serviço de inteligência e líderes políticos, assim como integrantes da família de Saddam que estão inexoravelmente ligados ao ditador e que tiveram participação em muitas das brutalidades cometidas pelo regime, afirmam autoridades.
A segunda categoria contém pessoas do mesmo escalão, porém cujas atitudes em um governo pós-Saddam são incertas, assim como a lealdade ao ditador. Eles serão julgados pelas ações que realizarem durante uma possível guerra. Esse grupo é bem maior do que o primeiro.
A terceira categoria da lista, também ampla, inclui pessoas que secretamente se opõem ao regime de Saddam ou que teriam um papel importante em um futuro governo pós-Saddam.
Membros do governo Bush disseram que Saddam e seu círculo íntimo serão julgados por crimes contra a população iraquiana, que vão desde assassinatos cometidos pelas forças de segurança a ataques com armas de destruição em massa. E um tribunal internacional para julgar os crimes cometidos pelo regime iraquiano já estaria em grau mais avançado de formulação do que se imagina.
A lista, segundo o Departamento da Defesa, estaria acessível apenas aos membros mais importantes do governo Bush.


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