São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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Assessores dizem a Bush que Arafat financia terror

TODD S. PURDUM
PATRICK E. TYLER

DO "THE NEW YORK TIMES"
O presidente George W. Bush decidiu pedir a saída de Iasser Arafat depois de receber informações de serviços de inteligência, na semana passada, indicando que o líder palestino autorizou o pagamento de US$ 20 mil a um grupo que reivindicou a autoria de um atentado suicida em Jerusalém. A informação foi divulgada ontem por um alto funcionário do governo dos EUA.
Em consequência disso, a diplomacia agressiva que, previra-se originalmente, seria conduzida após o discurso do presidente -incluindo uma viagem imediata do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, à região, e uma conferência de paz- será adiada. Em lugar disso, representantes do governo reconheceram hoje que precisarão de uma nova rodada de consultas antes que possam decidir os próximos passos.
Embora os líderes árabes tenham dito que foram pegos de surpresa pelo chamado de Bush a favor da saída de Arafat, a maioria simplesmente optou por ignorar a ênfase dada no discurso à questão da substituição dos líderes palestinos. Em lugar disso, eles ofereceram comentários públicos construtivos, manifestando apoio cauteloso.
Extra-oficialmente, porém, eles disseram estar pressionando os EUA para que o país lance luz sobre seus próximos passos. Querem saber, entre outras coisas, quando a administração vai exortar Israel a retirar suas forças militares da Cisjordânia e da faixa de Gaza, para que o processo de reforma da segurança e do governo possa começar.
Uma pergunta ainda não resolvida que vem complicando quaisquer planos de viagem de curto prazo de Powell é o status de Arafat entre hoje e as eleições nacionais palestinas, previstas para janeiro.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Boucher, enfrentou várias perguntas a respeito de eventuais conversas com Arafat. Ele respondeu: ""Não é algo que se possa excluir ou incluir neste momento. Não está em discussão neste momento".
Referindo-se ao encontro recente entre Bush e o presidente do Egito, Hosni Mubarak, um diplomata egípcio comentou: ""Em Camp David, o presidente Bush disse que Arafat não era o problema, e nós o interpretamos ao pé da letra. Então por que Bush fez dele um problema?".
A resposta, disseram funcionários da administração, está em parte nos relatórios de segurança obtidos na semana passada, mostrando que Arafat continua a financiar as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa ao mesmo tempo em que afirma estar reprimindo o terror, cedendo aos pedidos de Washington. Essa informação, segundo os representantes, teria sido crucial para a decisão de Bush de exigir sua substituição.
Os relatórios de inteligência obtidos à última hora também parecem ter tido papel importante na formulação do discurso proferido pelo presidente para o vice-presidente, Dick Cheney, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e seus assessores. Durante meses eles vinham pedindo a adoção de uma postura mais dura contra Arafat, enquanto Colin Powell argumentava que, fossem quais fossem seus defeitos, Arafat era o líder palestino designado.
Em entrevistas transmitidas ontem pela televisão, Powell fez questão de destacar seu apoio total à nova postura contra Arafat. Mas ele também afirmou, em tom queixoso, que os palestinos estão prejudicando sua própria causa e fazendo com que seja mais difícil para os EUA ajudá-los.
Ele se mostrou ambíguo quanto às consequências da política de Bush no caso de Arafat ser reeleito líder palestino numa votação nova e livre, dizendo: ""Vamos lidar com as circunstâncias à medida que elas forem se apresentando".
Powell afirmou ainda que não tem planos de viajar imediatamente ao Oriente Médio nem para uma conferência planejada de ministros das Relações Exteriores que discutiria as propostas de paz. Representantes do governo disseram apenas que Powell poderá viajar para o Oriente Médio nas próximas semanas.
Na realidade, reconheceram, a nova ênfase dada por Bush à reforma do governo palestino como virtual condição prévia para qualquer avanço em direção à paz equivale a uma mudança tão grande na política americana que levará algum tempo para o governo decidir quais serão seus próximos passos, inclusive quanto envolvimento cotidiano representantes americanos terão em campo.


Tradução de Clara Allain


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