São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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análise

Alkatiri tinha estilo de mando "bolchevista"

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mari bim Amude Alkatiri criava facilmente inimigos pela arrogância e pelo autoritarismo que lhe atribuíam. No governo timorense citava-se seu estilo "bolchevista" de governar, pois era intolerante com quem discordava e dogmático naquilo que acreditava ser correto.
Muçulmano num país católico, formou-se em geografia, exilado em Angola, e depois em direito, em seu exílio em Moçambique, onde se tornou protegido do presidente Samora Machel.
Seus 24 anos de exílio fizeram dele, na opinião de muitos, um "estranho" em seu próprio país. Comprou três brigas desgastantes. A primeira foi a tentativa de impor o português -falado apenas por uma minoria de idosos- como idioma oficial.
A segunda foi a supressão do ensino religioso, o que pela primeira vez colocou os timorenses na rua em protesto contra o governo. A terceira foi a de conceber o Exército como um bloco homogêneo, dentro do qual não se negociavam concessões, desencadeando a atual crise.
Timor Leste, por sua acidentada história e pela recente luta contra dois colonialismos, o português e o indonésio, gerou uma classe política que transportou para a vida institucional a disciplina e o dogmatismo da militância clandestina.
Mari Alkatiri foi uma vítima da incapacidade de conversão ao novo estilo, que exige o convívio com a contradição e uma abertura sem preconceitos ao diálogo.


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