São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIRETO AO PONTO

Documento expõe diálogo entre Kissinger e chanceler argentino durante ditadura

Argentina viu anuência dos EUA

DA ASSOCIATED PRESS

Pouco antes da deflagração da "guerra suja" contra os dissidentes políticos na Argentina, em 1976, o secretário de Estado dos EUA na época, Henry Kissinger, disse ao chanceler argentino, segundo um documento que acaba de ser aberto ao público: "Se há coisas que devem ser feitas, façam-nas depressa".
A conversa deixou os generais da junta que então governava o país com a impressão de que Kissinger lhes dera "carta branca", disse Carlos Osorio, dos Arquivo Nacional de Segurança, um instituto de pesquisa de Washington que guarda documentos oficiais.
Mas um ex-funcionário do Departamento de Estado que participou da reunião entre Kissinger e o chanceler argentino, almirante Cesar Augusto Guzzetti, disse que a interpretação é "uma distorção da história".
"É uma farsa", disse William D. Rogers, vice-presidente da consultoria Kissinger Associates. "A idéia de que ele diria a outro país licença para que violasse os direitos humanos depressa ou devagar é ridícula", disse. O escritório de Kissinger, que tem sucessivamente negado que o ex-secretário tenha dado anuência a abusos, não respondeu ao pedido de comentário.
Os documentos reacendem o debate sobre a relação entre Kissinger e as ditaduras sul-americanas quando ele ocupava o Departamento de Estado nos governos de Richard Nixon e Gerald Ford, época em que os regimes ditatoriais da região eram bem aceitos por Washington.
Três meses após o golpe, Kissinger se encontrou com Guzzetti em Santiago (Chile), durante uma reunião da OEA. Notas detalhadas do encontro foram feitas por Luigi Einaudi, da equipe de planejamento político do Departamento de Estado.
"Vocês terão de fazer um esforço internacional para que entendam o problema de vocês", disse Kissinger, segundo as notas de Einaudi. "Ou ficarão sob crescente ataque. Se há coisas que devem ser feitas, façam-nas depressa. Mas vocês devem voltar a normalidade logo."
Durante os seis anos de ditadura argentina (1976-83), 8.900 pessoas desapareceram, segundo o governo. Grupos de direitos humanos colocam o número em 30 mil.


Texto Anterior: Saiba mais: Defesa compara Operação Condor a ação antiterror
Próximo Texto: A solidão do general: "Chile descobriu quem é Pinochet"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.