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DIRETO AO PONTO
Documento expõe diálogo entre Kissinger e chanceler argentino durante ditadura
Argentina viu anuência dos EUA
DA ASSOCIATED PRESS
Pouco antes da deflagração da
"guerra suja" contra os dissidentes políticos na Argentina,
em 1976, o secretário de Estado
dos EUA na época, Henry Kissinger, disse ao chanceler argentino, segundo um documento
que acaba de ser aberto ao público: "Se há coisas que devem ser
feitas, façam-nas depressa".
A conversa deixou os generais
da junta que então governava o
país com a impressão de que
Kissinger lhes dera "carta branca", disse Carlos Osorio, dos Arquivo Nacional de Segurança,
um instituto de pesquisa de
Washington que guarda documentos oficiais.
Mas um ex-funcionário do
Departamento de Estado que
participou da reunião entre Kissinger e o chanceler argentino,
almirante Cesar Augusto Guzzetti, disse que a interpretação é
"uma distorção da história".
"É uma farsa", disse William
D. Rogers, vice-presidente da
consultoria Kissinger Associates. "A idéia de que ele diria a outro país licença para que violasse
os direitos humanos depressa
ou devagar é ridícula", disse. O
escritório de Kissinger, que tem
sucessivamente negado que o
ex-secretário tenha dado anuência a abusos, não respondeu ao
pedido de comentário.
Os documentos reacendem o
debate sobre a relação entre Kissinger e as ditaduras sul-americanas quando ele ocupava o Departamento de Estado nos governos de Richard Nixon e Gerald Ford, época em que os regimes ditatoriais da região eram
bem aceitos por Washington.
Três meses após o golpe, Kissinger se encontrou com Guzzetti em Santiago (Chile), durante uma reunião da OEA. Notas detalhadas do encontro foram feitas por Luigi Einaudi, da
equipe de planejamento político
do Departamento de Estado.
"Vocês terão de fazer um esforço internacional para que entendam o problema de vocês",
disse Kissinger, segundo as notas de Einaudi. "Ou ficarão sob
crescente ataque. Se há coisas
que devem ser feitas, façam-nas
depressa. Mas vocês devem voltar a normalidade logo."
Durante os seis anos de ditadura argentina (1976-83), 8.900
pessoas desapareceram, segundo o governo. Grupos de direitos humanos colocam o número
em 30 mil.
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