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A SOLIDÃO DO GENERAL
Para filho de Orlando Letelier, a direita abandonou o ex-ditador
"Chile descobriu quem é Pinochet"
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, NO CHILE
O ex-ditador chileno Augusto
Pinochet, 88, está isolado e não
conta mais com o apoio dos políticos de direita e dos militares
de seu país, antes fiéis seguidores. "A direita não precisa mais
do Pinochet, nem o Exército",
disse o deputado socialista Juan
Pablo Letelier, 43.
Filho de Orlando Letelier,
chanceler assassinado durante a
ditadura (1973-90) de Pinochet,
o deputado acredita que a investigação sobre os bens do ex-ditador tenha feito com que "as pessoas tomassem consciência sobre quem foi Pinochet". "Pena
que tenha levado 15 anos para
chegarmos a isso."
De acordo com o filho do
chanceler de Salvador Allende,
"os chilenos já falam sem medo
e dão importância para a democracia". "É emocionante, para
mim e para outras tantas pessoas que sofreram tanto."
Uma das conseqüências da recomposição das liberdades plenas no Chile é o filme "Machuca", de Andrés Wood, a primeira obra de ficção crítica aos anos
de repressão no Chile, considerado a atual sensação cinematográfica do país.
O filme mostra o impacto, na
vida de duas crianças, do golpe
que derrubou o presidente
Allende em 1973.
Comemoração solitária
O ex-ditador -que corre o
risco de ser preso, caso deixe o
país- celebrou solitariamente,
em sua casa, os 31 anos de sua
posse como chefe do Exército
chileno.
Foi o primeiro ano em que ele
passou a data sozinho. Nem políticos da direita nem o grande
número de militares que costumavam visitá-lo foram à sua casa. O único presente foi o general da reserva Guillermos Garín,
que disse representar "outros
amigos".
O escritor argentino Tomás
Eloy Martínez, em artigo recente, procurou resumir o sentimento vivido atualmente no
Chile: "Seus partidários [de Pinochet] justificavam sempre
suas torturas e crimes. No fim
das contas, eles diziam, o "Tata"
os cometeu por uma razão superior, para nos salvar do comunismo. [...] Voltei a Santiago em
meados de agosto, depois de
quatro anos. A cidade respira
otimismo".
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