São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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A SOLIDÃO DO GENERAL

Para filho de Orlando Letelier, a direita abandonou o ex-ditador

"Chile descobriu quem é Pinochet"

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, NO CHILE

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet, 88, está isolado e não conta mais com o apoio dos políticos de direita e dos militares de seu país, antes fiéis seguidores. "A direita não precisa mais do Pinochet, nem o Exército", disse o deputado socialista Juan Pablo Letelier, 43.
Filho de Orlando Letelier, chanceler assassinado durante a ditadura (1973-90) de Pinochet, o deputado acredita que a investigação sobre os bens do ex-ditador tenha feito com que "as pessoas tomassem consciência sobre quem foi Pinochet". "Pena que tenha levado 15 anos para chegarmos a isso."
De acordo com o filho do chanceler de Salvador Allende, "os chilenos já falam sem medo e dão importância para a democracia". "É emocionante, para mim e para outras tantas pessoas que sofreram tanto."
Uma das conseqüências da recomposição das liberdades plenas no Chile é o filme "Machuca", de Andrés Wood, a primeira obra de ficção crítica aos anos de repressão no Chile, considerado a atual sensação cinematográfica do país.
O filme mostra o impacto, na vida de duas crianças, do golpe que derrubou o presidente Allende em 1973.

Comemoração solitária
O ex-ditador -que corre o risco de ser preso, caso deixe o país- celebrou solitariamente, em sua casa, os 31 anos de sua posse como chefe do Exército chileno.
Foi o primeiro ano em que ele passou a data sozinho. Nem políticos da direita nem o grande número de militares que costumavam visitá-lo foram à sua casa. O único presente foi o general da reserva Guillermos Garín, que disse representar "outros amigos".
O escritor argentino Tomás Eloy Martínez, em artigo recente, procurou resumir o sentimento vivido atualmente no Chile: "Seus partidários [de Pinochet] justificavam sempre suas torturas e crimes. No fim das contas, eles diziam, o "Tata" os cometeu por uma razão superior, para nos salvar do comunismo. [...] Voltei a Santiago em meados de agosto, depois de quatro anos. A cidade respira otimismo".


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