São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Radical aceita proposta de moderado para que sua milícia abandone santuário e deponha armas

Líderes xiitas fecham acordo em Najaf

DA REDAÇÃO

O clérigo radical xiita Moqtada al Sadr, líder de um levante que transformou a cidade sagrada de Najaf no local mais turbulento do Iraque, aceitou um acordo de paz proposto pelo maior líder xiita do país, o grão-aiatolá Ali al Sistani.
O governo interino iraquiano aceitou as condições do acordo de cinco pontos, que prevê que Al Sadr e sua milícia, o Exército Mehdi, deixem o templo do imã Ali e que as forças americanas se retirem da cidade. O templo, onde os insurgentes estão refugiados desde a eclosão do conflito, é considerado o principal santuário para os muçulmanos xiitas e sua avaria no conflito poderia alimentar um levante nacional.
"Avançamos três quartos do caminho para acabar com a crise", disse Hamed al Khafaf, assessor sênior de Al Sistani.
O grão-aiatolá moderado, que tem 75 anos e convalescia em Londres de uma cirurgia cardíaca, foi a Najaf especialmente para persuadir o clérigo radical a aceitar o acordo de cessar-fogo e pôr fim a mais de três semanas de combates. Ele deixara a cidade sagrada em 6 de agosto, um dia após o início do confronto, que interrompeu dois meses de trégua.
Tentativas anteriores de acordo com o gabinete do premiê interino Iyad Allawi haviam fracassado. Durante as negociações de ontem, as forças iraquianas obedeceram a um cessar-fogo de 24 horas ordenado por Allawi, e os EUA suspenderam suas ações.
Segundo o assessor Al Khafaf, Al Sadr concordou com todos os pontos da proposta do grão-aiatolá. O plano determina que o Exército Mehdi deveria deixar o santuário às 10h (hora local, 3h em Brasília) de hoje, e que as forças americanas deveriam sair da cidade sagrada e entregar a segurança à polícia iraquiana. Em contrapartida, o premiê prometeu anistiar insurgentes que deixem o templo e deponham armas.
O acordo ainda avança em relação às tentativas anteriores ao determinar que Najaf se torne uma zona onde as armas são proibidas e que o governo interino compense as vítimas do confronto. O comando dos EUA contabilizou mais de 400 insurgentes mortos, mas não foi compilado por nenhuma parte o saldo de mortos civis. Ontem, ataques a xiitas que convergiam para Najaf a pedido de Al Sistani e Al Sadr deixaram 74 mortos.
O Ministro de Estado iraquiano, Kasim Daud, também anunciou que o clérigo radical não será preso. Os EUA prometeram "capturar ou matar" Al Sadr diversas vezes desde abril, com base em uma ordem de prisão citando seu envolvimento no assassinato de um clérigo rival em 2003.

Jornalista morto
Os seqüestradores do jornalista italiano Enzo Baldoni, 56, afirmaram ter matado o refém, informou a TV Al Jazira (Qatar).
O autodenominado Exército Islâmico no Iraque disse ter capturado o jornalista do semanário milanês "Diário" e colaborador da Cruz Vermelha havia sete dias. Anteontem, o grupo exigiu a retirada dos cerca de 3.000 soldados que a Itália mantém no Iraque dentro de 48 horas.
Em abril, quatro italianos foram seqüestrados no Iraque, e um deles, o segurança Fabrizio Quattrocchi, foi assassinado.


Com agências internacionais

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