São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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Putin pede perdão aos familiares das vítimas

DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu perdão aos familiares dos reféns mortos na operação que encerrou o sequestro no teatro em Moscou.
"Perdoem-nos, não pudemos salvar todo mundo", disse Putin, que atribuiu a culpa do ato promovido por rebeldes tchetchenos ao terrorismo internacional, descrito como "forte e perigoso".
Não estava claro ainda qual seria o impacto do fim do drama na popularidade de Putin.
A tomada do teatro por terroristas tchetchenos foi considerada inicialmente como uma humilhação para um homem cuja ascensão ao Kremlin foi alimentada por sua posição dura em relação à Tchetchênia. Embora ao menos 90 reféns tenham morrido quando forças especiais entraram no local, houve alívio pela libertação de cerca de 700 reféns.
Antes do fim do sequestro, analistas russos elogiavam a recusa de Putin em ceder às exigências dos sequestradores para que as tropas russas se retirassem da Tchetchênia, república caucasiana que se autoproclamou independente em 1991, após o colapso da União Soviética. A Rússia ainda a considera parte de seu território.
Após o primeiro conflito na região, entre 1994 e 1996, as Forças Armadas da Rússia deixaram a Tchetchênia humilhadas.
O segundo conflito na Tchetchênia entre rebeldes independentistas e soldados russos teve início em outubro de 1999 e já matou cerca de 5.000 militares russos e mais de 50 mil tchetchenos, boa parte civil, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
A guerra na Tchetchênia destruiu a maior parte da infra-estrutura produtiva da região, incluindo as fábricas e a indústria petrolífera, e causou o êxodo de centenas de milhares de refugiados (a população tchetchena era de 1,2 milhão antes do início do conflito).
O fim dramático do sequestro no teatro de Moscou reduz as esperanças de uma solução negociada para a guerra na Tchetchênia. "Não vejo mudança na política da Rússia em relação à Tchetchênia. As coisas podem até ficar mais trágicas", disse o analista político e militar Pavel Felgenhauer.
"Os rebeldes vão se entrincheirar mais, o que significa que haverá novos ataques terroristas, possivelmente muito mais sangrentos do que esse, possivelmente também em Moscou."
Durante a crise, Putin chegou a dizer que aceitava discutir o futuro da Tchetchênia, mas apenas segundo suas próprias condições.
Familiares de reféns promoveram atos contra a guerra, mas seu apelo não obteve muito respaldo.
"O que aconteceu foi especialmente triste porque a opinião pública começava a mudar drasticamente", disse Andrei Piontkovsky, diretor do Centro de Moscou para Estudos Políticos.
"Mais de 60% das pessoas são contra a guerra e a favor de negociações políticas, de acordo com pesquisas. Agora, esse processo deve sofrer um retrocesso."


Com agências internacionais


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