São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2006

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Afeganistão acusa Otan de matar dezenas de civis em dia sagrado

Casas foram bombardeadas durante confronto; mortes civis podem chegar a 85

DA REDAÇÃO

Um mês após a Otan (aliança militar ocidental) afirmar ter derrotado o grupo extremista Taleban no sul do Afeganistão, as forças da coalizão são acusadas de matar dezenas de civis na região, bombardeando suas casas enquanto eles celebravam o fim do mês sagrado do Ramadã, na última terça.
O governo afegão confirma que pelo menos 40 civis morreram -incluindo mulheres e crianças-, numa operação no distrito de Panjwayi. Autoridades locais citam um número ainda maior: 85, o que faria do incidente o ataque mais mortal das forças ocidentais no país desde a queda do governo taleban, em 2001. A Otan afirma que suas investigações iniciais apontam 12 "não combatentes" mortos -e diz ter alvejado "precisamente" os militantes.
Os soldados, segundo a organização, lutavam com insurgentes que atacavam comboios -ela não comentou a declaração anterior de que os havia derrotado, feita após uma grande operação que matou mais de 500 militantes. A onda de violência que atinge o país é a pior dos últimos cinco anos.
Segundo um membro do Conselho da Província de Kandahar, Bismillah Afghanmal, insurgentes invadiram casas de civis para se esconder, e os militares ocidentais alvejaram as moradias. Testemunhas dizem que 25 casas foram ao chão.
Segundo o porta-voz da Otan no país, major Mark Knittig, cerca de 70 militantes morreram nos combates, mas, "muito tristemente, civis continuam a ser surpreendidos". A Otan diz que "o fato de os insurgentes usarem a população como escudo humano torna nossa vida muito difícil, mas não nos impede de fazer qualquer esforço para minimizar problemas".
O presidente Hamid Karzai condenou repetidamente as mortes. Há uma semana, ele havia pedido à Otan "precaução máxima" para evitar atingir civis. A organização disse que vai cooperar com uma investigação do Ministério da Defesa.
O ataque ocorreu num dos dias mais importantes para os muçulmanos, o Eid al-Fitr -o fim do Ramadã-, e ameaça fazer a população se voltar contra a coalizão. No funeral coletivo, acompanhado por centenas, os moradores mostravam revolta.
"Estão todos muito bravos com o governo e a coalizão", disse Abdul Aye, que afirmou ter perdido 22 parentes. "O povo não vai esquecer as mortes de suas crianças com um simples "desculpe-me'", afirmou Afghanmal. A imagem da coalizão já deve ser afetada pela divulgação, anteontem, de fotos de militares alemães profanando um cadáver no país. A Alemanha reforçou a segurança de suas embaixadas.


Com agências internacionais

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