São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Instituto americano mostra que força rebelde quadruplicou em seis meses, mas população está otimista

Sob fogo, insurgência cresce no Iraque

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Apesar da intensificação dos ataques americanos contra bastiões de resistência, a insurgência iraquiana quadruplicou em seis meses. O moral da população é melhor do que era durante a ocupação oficial pelos EUA, encerrada no fim de junho. O dinheiro estrangeiro para a reconstrução está sendo usado com maior rapidez. Mas os problemas de segurança continuam graves, e as melhorias no país ocorrem em ritmo lento.
A avaliação está na mais recente atualização do relatório "O Estado do Iraque", compilado por Michael O'Hanlon e Adriana Lins de Albuquerque, do Instituto Brookings, em Washington. O documento, lançado ontem, apresenta novos números e os compara com a versão publicada em maio.
"Nosso levantamento não mostra muita melhora na qualidade de vida dos iraquianos. Mesmo com o desemprego aparentemente caindo, a economia não está muito melhor do que estava sob [o ex-ditador] Saddam Hussein", escreveu O'Hanlon.
Apesar da recente operação militar em Fallujah -a maior ofensiva realizada desde a queda de Saddam, em abril de 2003-, o número estimado de rebeldes passou de 5.000 em abril para 20 mil no mês passado, enquanto os ataques contra a coalizão liderada pelos EUA subiram de 1.800 para 2.400. Já o número de insurgentes presos ou mortos em outubro foi igual ao de abril: 2.000.
Mas a insurgência parece menos eficaz: as baixas militares americanas caíram a menos da metade -de 131 em abril para 63 em outubro-, e a de civis iraquianos mortos em decorrência de ações de guerra diminuiu de 550 para 375. Os assassinatos de iraquianos em Bagdá, no entanto, cresceram de 300 para 400, o que pode indicar que o combate ao crime comum tenha sido deixado em segundo plano. Já os ataques à infra-estrutura petroleira passaram de 4 para 11.
Uma das críticas à gestão americana no Iraque foi o desmantelamento do Exército da época de Saddam, que deu espaço para o crescimento da violência no país. Especialistas afirmam que, para que os 138 mil soldados americanos e 24 mil de outros países deixem o Iraque, é preciso transferir a segurança aos iraquianos.
Pois aumentou o número de policiais e soldados iraquianos. No mês passado, o contingente havia mais que dobrado. Em abril o Iraque contava com uma polícia de 20 mil homens e um Exército de 25 mil, em outubro já eram 45 mil policiais e 48 mil soldados.
Já outros aspectos da reconstrução do país avançam a passo lento. A taxa de desemprego em outubro foi de 30% a 40% da população economicamente ativa -em abril de 2003, os iraquianos desempregados eram 60%. O dinheiro estrangeiro empregado na reconstrução passou de US$ 2 bilhões em abril para US$ 5 bilhões em outubro. Mas os resultados do aumento de gastos e de empregos são poucos visíveis.
Em um país de 25 milhões de habitantes, há apenas 1,8 milhão de linhas telefônicas, e a produção de energia elétrica cresceu, em seis meses, apenas 7,8%.
A maioria dos iraquianos -65%- ainda continua dizendo que está otimista a respeito do futuro do país, e 85% deles pretendem votar nas eleições de janeiro. Cerca de 45% da população apóia o premiê interino ligado aos EUA, Iyad Allawi -queda de 20 pontos percentuais em seis meses.


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