São Paulo, sexta-feira, 27 de novembro de 2009

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Crise diminui operatividade da polícia, diz ONU

FABIANO MAISONNAVE
ANA FLOR

ENVIADOS ESPECIAIS A TEGUCIGALPA A longa crise política minou ainda mais a eficácia da fragilizada polícia de Honduras, o país mais violento da América Latina, apontam dados oficiais compilados pelo escritório regional das Nações Unidas.
"Antes da crise política, a polícia estava investigando 30% das denúncias. Neste momento, a operatividade caiu 40%", disse à Folha o colombiano Rafael Espinosa, especialista em prevenção da violência do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da ONU (PNUD). "Apenas os crimes em flagrante são os que mais ou menos se consegue elucidar."
Como exemplo, Espinosa menciona dados de La Ceiba, cidade de 170 mil habitantes: de 5.800 denúncias que chegaram até a Direção Geral de Investigação Criminal (DGIC), apenas 8 foram resolvidas.
Desde a deposição de Manuel Zelaya, em 28 de junho, a polícia tem participado diariamente na vigilância e repressão de manifestações.
O desvio de funções atrapalha o combate à mais alta taxa de homicídios da América Latina: 58 assassinatos por 100 mil habitantes no ano passado. É bem maior do que a média da América Central (33/100 mil), a região mais violenta do mundo em criminalidade comum.
Segundo projeção do PNUD, neste ano a taxa de homicídio deverá crescer 9%. Menos do que em 2008, quando, sob Zelaya, a taxa saltou 25% em relação ao ano anterior.

Narcoestado
A principal fonte de violência, coincidem os especialistas, é o narcotráfico: além de ser corredor da cocaína colombiana, o país tem um crescente mercado interno de droga.
"Honduras está em risco de se converter num narcoestado. A penetração do narcotráfico e do crime organizado na política está mais forte", adverte o italiano Luca Renda, representante do PNUD no país.
Renda menciona ainda a frouxa legislação sobre registro e porte de armamento (uma pessoa pode ter até cinco armas), a impunidade, o sistema carcerário em pedaços e a crise econômica e como alguns dos fatores que alimentam a violência em Honduras.
Um dos problemas mais graves é o crescimento das maras -gangues que cobram por "proteção". Nos últimos anos, segundo o diretor da Universidade Autônoma de Honduras, Ramón Romero, as maras se multiplicaram na capital. "São uma válvula de escape para os jovens sem perspectiva."
Em Tegucigalpa, a principal fonte de renda das maras são os taxistas. Estima-se que todos eles paguem valores semanais, o "imposto de guerra".
No principal ponto de Canizal, uma periferia da cidade, os 135 taxistas colaboram há quatro anos para pagar uma cota semanal de cerca de R$ 1.000. Os motoristas que se negam a pagar são ameaçados.


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