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Crise diminui operatividade da polícia, diz ONU
FABIANO MAISONNAVE
ANA FLOR
ENVIADOS ESPECIAIS A TEGUCIGALPA
A longa crise política minou
ainda mais a eficácia da fragilizada polícia de Honduras, o
país mais violento da América
Latina, apontam dados oficiais
compilados pelo escritório regional das Nações Unidas.
"Antes da crise política, a polícia estava investigando 30%
das denúncias. Neste momento, a operatividade caiu 40%",
disse à Folha o colombiano Rafael Espinosa, especialista em
prevenção da violência do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento da ONU
(PNUD). "Apenas os crimes em
flagrante são os que mais ou
menos se consegue elucidar."
Como exemplo, Espinosa
menciona dados de La Ceiba,
cidade de 170 mil habitantes:
de 5.800 denúncias que chegaram até a Direção Geral de Investigação Criminal (DGIC),
apenas 8 foram resolvidas.
Desde a deposição de Manuel Zelaya, em 28 de junho, a
polícia tem participado diariamente na vigilância e repressão
de manifestações.
O desvio de funções atrapalha o combate à mais alta taxa
de homicídios da América Latina: 58 assassinatos por 100 mil
habitantes no ano passado. É
bem maior do que a média da
América Central (33/100 mil),
a região mais violenta do mundo em criminalidade comum.
Segundo projeção do PNUD,
neste ano a taxa de homicídio
deverá crescer 9%. Menos do
que em 2008, quando, sob Zelaya, a taxa saltou 25% em relação ao ano anterior.
Narcoestado
A principal fonte de violência, coincidem os especialistas,
é o narcotráfico: além de ser
corredor da cocaína colombiana, o país tem um crescente
mercado interno de droga.
"Honduras está em risco de
se converter num narcoestado.
A penetração do narcotráfico e
do crime organizado na política
está mais forte", adverte o italiano Luca Renda, representante do PNUD no país.
Renda menciona ainda a
frouxa legislação sobre registro
e porte de armamento (uma
pessoa pode ter até cinco armas), a impunidade, o sistema
carcerário em pedaços e a crise
econômica e como alguns dos
fatores que alimentam a violência em Honduras.
Um dos problemas mais graves é o crescimento das maras
-gangues que cobram por
"proteção". Nos últimos anos,
segundo o diretor da Universidade Autônoma de Honduras,
Ramón Romero, as maras se
multiplicaram na capital. "São
uma válvula de escape para os
jovens sem perspectiva."
Em Tegucigalpa, a principal
fonte de renda das maras são os
taxistas. Estima-se que todos
eles paguem valores semanais,
o "imposto de guerra".
No principal ponto de Canizal, uma periferia da cidade, os
135 taxistas colaboram há quatro anos para pagar uma cota
semanal de cerca de R$ 1.000.
Os motoristas que se negam a
pagar são ameaçados.
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