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Com tradição liberal, Canadá teme nova onda conservadora
Após 12 anos, conservadores retornam ao poder com uma agenda de revisão dos direitos civis e de endurecimento das leis de combate à criminalidade
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A OTTAWA
País de tradição liberal, o Canadá vive, sob seu primeiro governo conservador em 12 anos,
o temor de um retrocesso em
questões sociais e de direitos civis, além de um endurecimento
nas leis de combate ao crime.
Uma das principais iniciativas do governo do premiê Stephen Harper, que assumiu em
fevereiro, foi a de reabrir o debate sobre a lei que legalizou,
em 2005, o casamento gay.
Uma vez reaberto o debate, o
objetivo seria "restituir" a definição tradicional do casamento
como uma união entre um homem e uma mulher. A pergunta
que muitos faziam é como seriam "descasados" os casais beneficiados com a lei -os ativistas estimam que foram 12 mil.
Harper fracassou redondamente depois que o Parlamento rejeitou no início deste mês
sua moção para revisar a lei.
Após a derrota, o premiê disse
que "aposentaria" de vez essa
que foi uma das bandeiras de
sua campanha ao governo.
Uma das principais barreiras
ao impulso conservador de
Harper é o fato de seu partido
ter formado um governo de minoria, ou seja, que não ter a
maioria dos assentos no Parlamento e precisar dos demais
partidos para aprovar leis.
Por sua vez, tanto o Partido
Liberal quanto o Bloc Québecois são significativamente
mais liberais em temas sociais
-o casamento gay foi instituído durante o governo liberal do
premiê Paul Martin.
Mas enquanto a questão do
casamento gay foi enterrada, o
governo centra fogo na bateria
de leis de combate ao crime.
Uma das principais medidas
é a que prevê o aumento da chamada "idade do consentimento" dos atuais 14 para 16 anos.
O governo propôs ainda uma
lei que facilita a classificação de
uma pessoa como "criminoso
perigoso" após três condenações "sérias" (como homicídio
ou crimes de teor sexual), com
o agravante de que o ônus da
prova cabe ao acusado, que ficaria sujeito à prisão por tempo
indeterminado.
Segundo analistas canadenses, as chances de essas medidas serem aprovadas são mínimas, mas, ao propô-las, os conservadores esperam ganhar fôlego para formar um governo
majoritário na próxima eleição.
"O objetivo é construir uma
imagem dos conservadores como particularmente preocupados com o crime", disse o liberal Derek Lee, vice-presidente
da comissão de Justiça.
"Só posso dizer que estamos
impulsionando nossa agenda.
Estou desapontada que os outros partidos não mantenham
suas promessas de campanha",
disse o ministro da Justiça, Vic
Toews, à revista "MacLean's".
Contramão
Mas para o sociólogo Jules
Duchastel, o tiro pode sair pela
culatra. "A onda conservadora
está na contramão da mentalidade do canadense e especialmente do quebequense", diz.
Paul Wells, um dos mais reputados comentaristas políticos canadenses, concorda.
"O conservadorismo canadense tem um teor menos religioso que o americano e é um
fenômeno mais complexo", diz
o autor do livro "Right Side Up:
the Fall of Paul Martin and the
Rise of Stephen Harper's New
Conservatism" (Este lado para
cima: a queda de Paul Martin e
a ascensão do novo conservadorismo de Stephen Harper).
"É composto pelas Províncias rurais, de tradição mais populista, pela elite econômica e
pela ala socialmente conservadora e nacionalista ligada à
igreja. Os conservadores raramente chegam ao poder justamente porque é difícil formar
uma coalizão entre essas três
tendências", diz Wells. "O primeiro desafio será manter essa
coalizão unida e estender políticas àqueles que não se consideram conservadores."
A jornalista CAROLINA VILA-NOVA viajou a
convite do governo canadense
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