São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 2006

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Pesquisa mostra Israel aberto a diálogo

DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA

Numa demonstração de pragmatismo, um dia depois da notícia que chocou a região, uma pesquisa de opinião indicou que quase metade dos israelenses é a favor de negociações com um governo palestino dominado pelo Hamas, grupo terrorista que defende a destruição do Estado judeu. Entre eles não está o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, que, na quinta-feira, reagiu à vitória do Hamas negando-se a negociar com o grupo.
De acordo com a pesquisa publicada pelo jornal "Yediot Ahronot", 48% dos israelenses são favoráveis a que seu governo negocie com o Hamas, contra 43% que se opõem. A sondagem foi realizada antes do anúncio de que o Hamas conquistara uma vitória esmagadora nas eleições da última quarta-feira, obtendo 76 das 132 cadeiras do Parlamento.
Apesar da praticidade política demonstrada pelos israelenses nos últimos anos, que ficou clara com o grande apoio à retirada de Gaza, no ano passado, a pesquisa não deixa de ser surpreendente. Afinal, trata-se de um grupo que, somente desde o início da segunda Intifada, em 2000, cometeu mais de 50 atentados terroristas, matando 269 civis israelenses e ferindo mais de 1.700. E mais: que já avisou que não abandonará as armas, mesmo no governo.
Se para os palestinos o dia seguinte ao surpreendente desfecho de suas eleições foi de festa do Hamas, para os israelenses foi de reflexão. A pergunta no ar entre políticos e analistas era: onde foi que nós erramos?
Os questionamento trouxe de volta lembranças já esquecidas, de um tempo em que o Fatah era o inimigo e o Hamas era um desejável contrapeso religioso ao nacionalismo liderado por Iasser Arafat. O fundador do Hamas e seu líder espiritual, o xeque Ahmed Yassin, chegou a receber apoio e gentilezas de Israel, como tratamentos médicos para seus crônicos problemas de saúde.
Yassin tornou-se um dos principais inimigos de Israel ao fundar o Hamas, em 1987, e acrescentar o terror à cesta de serviços sociais prestados aos palestinos carentes.
Mas foi na segunda Intifada que o grupo, já amparado por uma enorme popularidade, passou de coadjuvante a protagonista no cenário político do conflito, oferecendo uma alternativa ao fracasso dos acordos de paz. A repressão exercida por Israel só fez crescer a simpatia pelo movimento entre os palestinos.
"Onde quer que esteja, o xeque Yassin deve estar sorrindo. As duas principais medidas de Israel nos últimos dois anos, os assassinatos em série dos líderes do Hamas e a retirada de Gaza, levaram diretamente à vitória do Hamas", opinou o analista político do jornal "Haaretz" Amos Harel. Segundo ele, o Exército israelense continuará prendendo ativistas do Hamas na Cisjordânia, mas deve interromper a política de execuções.
Para Uri Savir, um dos arquitetos dos acordos de Oslo, a culpa deve ser dividida. "Os dois lados erraram: Arafat não soube enfrentar o Hamas e Israel, sob a liderança de Binyamin Netaniahu, perdeu a oportunidade de selar um acordo definitivo com uma liderança palestina mais moderada", disse Savir, que hoje dirige o Centro Peres para a Paz. (MN)


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