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Pesquisa mostra Israel aberto a diálogo
DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA
Numa demonstração de pragmatismo, um dia depois da notícia que chocou a região, uma pesquisa de opinião indicou que quase metade dos israelenses é a favor
de negociações com um governo
palestino dominado pelo Hamas,
grupo terrorista que defende a
destruição do Estado judeu. Entre
eles não está o primeiro-ministro
israelense, Ehud Olmert, que, na
quinta-feira, reagiu à vitória do
Hamas negando-se a negociar
com o grupo.
De acordo com a pesquisa publicada pelo jornal "Yediot Ahronot", 48% dos israelenses são favoráveis a que seu governo negocie com o Hamas, contra 43% que
se opõem. A sondagem foi realizada antes do anúncio de que o
Hamas conquistara uma vitória
esmagadora nas eleições da última quarta-feira, obtendo 76 das
132 cadeiras do Parlamento.
Apesar da praticidade política
demonstrada pelos israelenses
nos últimos anos, que ficou clara
com o grande apoio à retirada de
Gaza, no ano passado, a pesquisa
não deixa de ser surpreendente.
Afinal, trata-se de um grupo que,
somente desde o início da segunda Intifada, em 2000, cometeu
mais de 50 atentados terroristas,
matando 269 civis israelenses e ferindo mais de 1.700. E mais: que já
avisou que não abandonará as armas, mesmo no governo.
Se para os palestinos o dia seguinte ao surpreendente desfecho
de suas eleições foi de festa do Hamas, para os israelenses foi de reflexão. A pergunta no ar entre políticos e analistas era: onde foi que
nós erramos?
Os questionamento trouxe de
volta lembranças já esquecidas,
de um tempo em que o Fatah era
o inimigo e o Hamas era um desejável contrapeso religioso ao nacionalismo liderado por Iasser
Arafat. O fundador do Hamas e
seu líder espiritual, o xeque Ahmed Yassin, chegou a receber
apoio e gentilezas de Israel, como
tratamentos médicos para seus
crônicos problemas de saúde.
Yassin tornou-se um dos principais inimigos de Israel ao fundar o
Hamas, em 1987, e acrescentar o
terror à cesta de serviços sociais
prestados aos palestinos carentes.
Mas foi na segunda Intifada que
o grupo, já amparado por uma
enorme popularidade, passou de
coadjuvante a protagonista no cenário político do conflito, oferecendo uma alternativa ao fracasso
dos acordos de paz. A repressão
exercida por Israel só fez crescer a
simpatia pelo movimento entre
os palestinos.
"Onde quer que esteja, o xeque
Yassin deve estar sorrindo. As
duas principais medidas de Israel
nos últimos dois anos, os assassinatos em série dos líderes do Hamas e a retirada de Gaza, levaram
diretamente à vitória do Hamas",
opinou o analista político do jornal "Haaretz" Amos Harel. Segundo ele, o Exército israelense
continuará prendendo ativistas
do Hamas na Cisjordânia, mas
deve interromper a política de
execuções.
Para Uri Savir, um dos arquitetos dos acordos de Oslo, a culpa
deve ser dividida. "Os dois lados
erraram: Arafat não soube enfrentar o Hamas e Israel, sob a liderança de Binyamin Netaniahu,
perdeu a oportunidade de selar
um acordo definitivo com uma liderança palestina mais moderada", disse Savir, que hoje dirige o
Centro Peres para a Paz.
(MN)
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