São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Na ficção, Blair é julgado por invadir Iraque

Filme e peça de teatro, em cartaz em Londres, questionam a imagem que o premiê deixará na história

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

Faltando alguns meses para que deixe o cargo de primeiro-ministro britânico, ainda é incerta a imagem de Tony Blair que passará para a história. Já na dramaturgia, ela começa a se definir como a de um criminoso internacional, devido à invasão do Iraque.
É essa a acusação que pesa sobre Blair em um filme recém-exibido na TV britânica e numa peça em produção em Londres.
"The Trial of Tony Blair" (o julgamento de Tony Blair) é o filme, uma comédia exibida na semana passada pelo Channel 4. Ela se passa em 2010, quando o premiê se vê enviado ao Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda), como réu.
A peça, com estréia marcada para 19 de abril, é "Called to Account" (chamado à responsabilidade), e seu subtítulo esclarece o tema: "O Indiciamento de Anthony Charles Lynton Blair pelo Crime de Agressão Contra o Iraque - Uma Audiência".
Para criar a obra, o Tricycle Theatre convocou dois advogados reais para entrevistar uma série de testemunhas, como políticos e juristas, sobre as implicações legais da decisão do governo britânico de usar força militar contra o regime de Saddam Hussein (1979-2003).
Os depoimentos e argumentos foram transformados na peça, que emula uma audiência onde os espectadores formam o júri e decidem se há evidências suficientes para indiciar Blair.
"Não partimos do princípio que o premiê é culpado, mas de que o caso precisa ser analisado", disse Nicolas Kent, diretor artístico do Tricycle, para o "The New York Times".
"Já que o Iraque não foi discutido no Parlamento, por que não no teatro?"

Acusado
Em termos de processo jurídico, "The Trial of Tony Blair" já está um passo adiante: nele, o premiê é preso e levado a julgamento em Haia pela agressão a uma nação soberana, o Iraque.
"Aparentemente, Blair está muito preocupado com seu lugar na história. O filme é minha idéia de onde seria esse lugar", afirma Alistair Beaton, o autor.
No filme, o premiê britânico, interpretado por Robert Lindsay, é o típico ex-governante que perde toda sua influência quando sai do poder.
Desprestigiado tanto por seu sucessor, Gordon Brown (atual ministro das Finanças), quanto pela presidente dos EUA, Hillary Clinton, Blair não consegue evitar seu julgamento em Haia pela invasão do Iraque.
Seu parceiro na empreitada, o presidente norte-americano George W. Bush, não tem o mesmo destino porque os EUA não reconhecem a autoridade do tribunal internacional.
"Acho essa guerra ilegal, por isso aceitei fazer o filme", afirmou Lindsay em entrevista ao "Independent".
Na vida real, mesmo que o Iraque se sobreponha aos sucessos de sua administração -pelos quais se tornou o primeiro premiê trabalhista a ser reeleito duas vezes seguidas- é improvável que Blair seja levado a julgamento internacional.
Além do governo britânico poder vetar tal manobra, o crime de agressão, apesar de formalmente definido pela ONU, ainda não tem força de lei.


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