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Na ficção, Blair é julgado por invadir Iraque
Filme e peça de teatro, em cartaz em Londres, questionam a imagem que o premiê deixará na história
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
Faltando alguns meses para
que deixe o cargo de primeiro-ministro britânico, ainda é incerta a imagem de Tony Blair
que passará para a história. Já
na dramaturgia, ela começa a se
definir como a de um criminoso internacional, devido à invasão do Iraque.
É essa a acusação que pesa
sobre Blair em um filme recém-exibido na TV britânica e numa
peça em produção em Londres.
"The Trial of Tony Blair" (o
julgamento de Tony Blair) é o
filme, uma comédia exibida na
semana passada pelo Channel
4. Ela se passa em 2010, quando
o premiê se vê enviado ao Tribunal Penal Internacional, em
Haia (Holanda), como réu.
A peça, com estréia marcada
para 19 de abril, é "Called to Account" (chamado à responsabilidade), e seu subtítulo esclarece o tema: "O Indiciamento de
Anthony Charles Lynton Blair
pelo Crime de Agressão Contra
o Iraque - Uma Audiência".
Para criar a obra, o Tricycle
Theatre convocou dois advogados reais para entrevistar uma
série de testemunhas, como
políticos e juristas, sobre as implicações legais da decisão do
governo britânico de usar força
militar contra o regime de Saddam Hussein (1979-2003).
Os depoimentos e argumentos foram transformados na peça, que emula uma audiência
onde os espectadores formam o
júri e decidem se há evidências
suficientes para indiciar Blair.
"Não partimos do princípio
que o premiê é culpado, mas de
que o caso precisa ser analisado", disse Nicolas Kent, diretor
artístico do Tricycle, para o
"The New York Times".
"Já que o Iraque não foi discutido no Parlamento, por que
não no teatro?"
Acusado
Em termos de processo jurídico, "The Trial of Tony Blair"
já está um passo adiante: nele, o
premiê é preso e levado a julgamento em Haia pela agressão a
uma nação soberana, o Iraque.
"Aparentemente, Blair está
muito preocupado com seu lugar na história. O filme é minha
idéia de onde seria esse lugar",
afirma Alistair Beaton, o autor.
No filme, o premiê britânico,
interpretado por Robert Lindsay, é o típico ex-governante
que perde toda sua influência
quando sai do poder.
Desprestigiado tanto por seu
sucessor, Gordon Brown (atual
ministro das Finanças), quanto
pela presidente dos EUA, Hillary Clinton, Blair não consegue evitar seu julgamento em
Haia pela invasão do Iraque.
Seu parceiro na empreitada,
o presidente norte-americano
George W. Bush, não tem o
mesmo destino porque os EUA
não reconhecem a autoridade
do tribunal internacional.
"Acho essa guerra ilegal, por
isso aceitei fazer o filme", afirmou Lindsay em entrevista ao
"Independent".
Na vida real, mesmo que o
Iraque se sobreponha aos sucessos de sua administração
-pelos quais se tornou o primeiro premiê trabalhista a ser
reeleito duas vezes seguidas- é
improvável que Blair seja levado a julgamento internacional.
Além do governo britânico
poder vetar tal manobra, o crime de agressão, apesar de formalmente definido pela ONU,
ainda não tem força de lei.
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