São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / GUERRA SEM FIM

Nosso objetivo não é criar paraíso afegão, diz Gates

Titular da Defesa alerta que ataques contra o Taleban no Paquistão vão continuar

Remando contra discurso conciliador de Obama, secretário diz que Irã exerce atividades subversivas em países da América Latina

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Em seu primeiro depoimento no Congresso como secretário da Defesa sob Barack Obama, Robert Gates apresentou ontem objetivos modestos para a ação no Afeganistão -prioridade militar do novo governo- e reiterou que a guerra no país não será vencida sem um esforço paralelo no Paquistão, incluindo ataques de mísseis.
Em apresentação à Comissão de Serviços Armados do Senado, o secretário da Defesa também alertou para supostas atividades subversivas do Irã na América Latina. Segundo ele, a atuação de Teerã na região é mais preocupante do que a aproximação militar que vem sendo feita pela Rússia.
A fala sobre Afeganistão e Paquistão chega bem calibrada com os novos esforços de Obama, que há seis dias anunciou um enviado especial, Richard Holbrooke, para tratar da situação nos dois países.
Gates definiu o sucesso no Afeganistão como um cenário em que a região não seja refúgio para a Al Qaeda, o poder do Taleban seja rejeitado, e a população apoie um governo legítimo. Essa visão, mais pragmática, contrasta com as políticas originais do governo de George W. Bush, de quem Gates também foi secretário, de espalhar a democracia pela área.
"O Afeganistão é o quarto ou quinto país mais pobre do mundo. Se o objetivo for criar uma "valhala" [tipo de paraíso viking] da Ásia Central ali, vamos perder, porque ninguém no mundo tem tempo, paciência nem dinheiro", disse Gates.
Ele afirmou também não ter dúvidas de que o Afeganistão é o maior desafio militar atual dos EUA e que o país continuará com ataques de mísseis no Paquistão se isso for necessário para vencer a Al Qaeda. Indagado se o governo paquistanês fora informado dessa posição, Gates disse que sim.
Os EUA intensificaram ataques com mísseis no Paquistão em 2008, devido ao aumento da insurgência afegã na região da fronteira e ao que veem como fracasso de Islamabad em impedir o fluxo do Taleban.

Irã
Já a fala de Gates sobre a preocupação com as atividades do Irã na América Latina contrasta com as sinalizações do governo Obama em prol da reconstrução da diplomacia com Teerã. Tanto Obama quanto sua nova embaixadora na ONU, Susan Rice, afirmaram que pretendem restabelecer a diplomacia direta com o país.
A declaração de Gates, por outro lado, mostra pressões nos EUA para que o país não descuide das pressões em relação aos iranianos, não apenas quanto ao programa nuclear de Teerã mas também no que se refere a alianças internacionais. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, tem mantido contatos próximos com o venezuelano Hugo Chávez e com o boliviano Evo Morales. Ambos expulsaram no ano passado os embaixadores dos EUA em seus países.
"[Os iranianos] estão abrindo uma série de escritórios e foros a partir dos quais interferem em questões internas de alguns desses países", disse Gates, sem citar quais seriam os países.


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