São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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UE aponta uso da máquina em referendo na Bolívia

Morales fez uso intenso de recursos pelo "sim", e governadores da oposição, pelo "não"

Missão europeia, porém, diz que "eleitores em geral puderam exercer direito ao voto'; texto critica cobertura da mídia estatal e privada

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Um informe da União Europeia sobre o referendo de domingo que aprovou a nova Constituição da Bolívia apontou o uso "intensivo" de dinheiro público durante a campanha e a extrema polarização entre os meios de comunicação estatais e privados. O relatório conclui que "as divisões políticas aumentaram" nas últimas semanas, mas que "que os eleitores em geral puderam exercer seu direito ao voto".
"Os recursos públicos foram intensivamente usados na campanha, tanto pelos seguidores como pelos opositores da Constituição. Vários ministérios governamentais fizeram propaganda claramente em favor da Constituição por meio de rádio e televisão e de anúncios nos jornais", diz o relatório, com relação ao governo liderado por Evo Morales.
Sobre os governos departamentais (estaduais), a missão da UE afirma que "os governos de Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca usaram recursos públicos na campanha contra a Constituição, enquanto os governos de Pando, Cochabamba e Oruro contribuíram para a campanha em favor da Constituição".
Um dos exemplos de uso da máquina foi a distribuição de 2 milhões de folhetos [o país tem 3,89 milhões de eleitores] sobre as mudanças constitucionais pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).
Segundo a missão da UE, o próprio CNE admitiu ter deixado de fora os pontos mais controvertidos, como a criação da Justiça indígena, o reconhecimento constitucional da folha de coca e temas religiosos.
Para a missão europeia, o CNE "não reagiu de forma adequada" para coibir o uso indevido de recursos públicos.
Sobre a cobertura dos meios de comunicação, o informe diz que "a televisão estatal [TVB] e a estação Rádio Pátria Nova não conseguiram cumprir suas obrigações como meios de comunicação públicos e mostraram uma clara tendência em favor da campanha pelo "sim'".
Segundo um monitoramento feito desde 19 de dezembro, na TVB, 46% do espaço informativo sobre o referendo foi dedicado à campanha do "sim"; já o espaço para o "não" foi de 4%.
Por outro lado, os meios privados fizeram uma cobertura claramente a favor do "não". A TV Unitel, uma das mais importantes da Bolívia, foi a mais tendenciosa, com 52% do seu espaço noticioso dedicado à campanha do "não", e apenas 4% para o "sim".
Com relacionamento cada vez mais difícil com os meios locais, Morales anunciou recentemente que só falaria com jornalistas estrangeiros e lançou um jornal estatal. Nos últimos dias, meios locais têm divulgado relatos de que o governo venezuelano, do aliado Hugo Chávez, está comprando a rede de canal ATB e o principal jornal do país, "La Razón".
Com 87% dos votos apurados até ontem à noite, o "sim" à Constituição vencia com 61% dos votos, contra 39% do "não".


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