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UE aponta uso da máquina em referendo na Bolívia
Morales fez uso intenso de recursos pelo "sim", e governadores da oposição, pelo "não"
Missão europeia, porém, diz que "eleitores em geral puderam exercer direito ao voto'; texto critica cobertura da mídia estatal e privada
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Um informe da União Europeia sobre o referendo de domingo que aprovou a nova
Constituição da Bolívia apontou o uso "intensivo" de dinheiro público durante a campanha
e a extrema polarização entre
os meios de comunicação estatais e privados. O relatório conclui que "as divisões políticas
aumentaram" nas últimas semanas, mas que "que os eleitores em geral puderam exercer
seu direito ao voto".
"Os recursos públicos foram
intensivamente usados na
campanha, tanto pelos seguidores como pelos opositores da
Constituição. Vários ministérios governamentais fizeram
propaganda claramente em favor da Constituição por meio
de rádio e televisão e de anúncios nos jornais", diz o relatório, com relação ao governo liderado por Evo Morales.
Sobre os governos departamentais (estaduais), a missão
da UE afirma que "os governos
de Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca usaram recursos públicos
na campanha contra a Constituição, enquanto os governos
de Pando, Cochabamba e Oruro contribuíram para a campanha em favor da Constituição".
Um dos exemplos de uso da
máquina foi a distribuição de 2
milhões de folhetos [o país tem
3,89 milhões de eleitores] sobre as mudanças constitucionais pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).
Segundo a missão da UE, o
próprio CNE admitiu ter deixado de fora os pontos mais controvertidos, como a criação da
Justiça indígena, o reconhecimento constitucional da folha
de coca e temas religiosos.
Para a missão europeia, o
CNE "não reagiu de forma adequada" para coibir o uso indevido de recursos públicos.
Sobre a cobertura dos meios
de comunicação, o informe diz
que "a televisão estatal [TVB] e
a estação Rádio Pátria Nova
não conseguiram cumprir suas
obrigações como meios de comunicação públicos e mostraram uma clara tendência em favor da campanha pelo "sim'".
Segundo um monitoramento
feito desde 19 de dezembro, na
TVB, 46% do espaço informativo sobre o referendo foi dedicado à campanha do "sim"; já o
espaço para o "não" foi de 4%.
Por outro lado, os meios privados fizeram uma cobertura
claramente a favor do "não". A
TV Unitel, uma das mais importantes da Bolívia, foi a mais
tendenciosa, com 52% do seu
espaço noticioso dedicado à
campanha do "não", e apenas
4% para o "sim".
Com relacionamento cada
vez mais difícil com os meios
locais, Morales anunciou recentemente que só falaria com
jornalistas estrangeiros e lançou um jornal estatal. Nos últimos dias, meios locais têm divulgado relatos de que o governo venezuelano, do aliado Hugo Chávez, está comprando a
rede de canal ATB e o principal
jornal do país, "La Razón".
Com 87% dos votos apurados
até ontem à noite, o "sim" à
Constituição vencia com 61%
dos votos, contra 39% do "não".
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