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ANÁLISE
Fim da crise pega Brasil sem ter o que dizer
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro acertou
ao participar ativamente da
condenação internacional ao
golpe em Honduras. Mas errou
ao radicalizar e recusar o resultado da eleição que levou o
atual presidente, Porfírio "Pepe" Lobo, ao poder, abrindo as
portas para o fim da crise política no país centro-americano.
Resultado: o Brasil se inviabilizou como mediador e ficou
fora da competente articulação
de um governo de união nacional, liderada por Pepe Lobo e
acatada pelos presidentes Manuel Zelaya, deposto, e Roberto
Micheletti, que o sucedeu "de
facto".
Esse recomeço tem as bênçãos dos Estados Unidos e da
maioria da América Central,
mas é rejeitado pelos países da
Alba (Aliança Bolivariana para
as Américas), que orbitam em
torno da Venezuela. A Honduras de Zelaya era da Alba. Desde
ontem, deixou de ser.
O início do novo governo e o
aparente fim da crise, portanto,
pegam o Brasil sem ter o que fazer e o que dizer.
"Não podemos ser mais realistas do que o rei, vamos dar
tempo ao tempo", declarou ontem por telefone o assessor internacional da Presidência,
Marco Aurélio Garcia, jogando
qualquer posição oficial brasileira para a reunião do Grupo
do Rio, em 25 de fevereiro, no
México.
Zelaya foi deposto pela Justiça e expulso pelos militares na
madrugada de 28 de junho de
2009, voltou clandestinamente
ao país em 21 de setembro e
desde então mora, come, dorme e convive com centenas de
parentes e aliados na Embaixada do Brasil.
No primeiro momento, a escolha da embaixada foi saudada
como demonstração da força
crescente do Brasil na política
da América Latina. Mas logo ficou claro que isso engessava a
atuação brasileira, e sucederam-se os erros.
Em resumo, o Brasil errou ao
aceitar uma figura jurídica inexistente internacionalmente
-a de "abrigado", em vez de
"asilado"; ao permitir que Zelaya usasse a embaixada como
palanque para conclamar à rebelião; ao não reconhecer a
eleição presidencial (marcada
antes do golpe); e, por fim, ao
passar ao largo dos esforços de
pacificação.
Agora, os mentores da política externa deverão se recolher,
para refletir e ver se Pepe Lobo
será capaz de consolidar o processo de distensão e de atrair de
volta ao país os programas de
cooperação e os investimentos
internacionais. O golpe é página virada, mas o que vem a seguir ainda é uma incógnita.
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