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CÚPULA
Líderes da coalizão se mostram reticentes em relação à participação da ONU após o conflito
Bush e Blair admitem guerra longa
Luke Frazza/France Presse
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O premiê Blair e o presidente Bush respondem a perguntas durante coletiva de imprensa sobre a reunião de cúpula em Camp David |
"Não há razão para determinar um limite devido à natureza do que
temos pela frente"
TONY BLAIR
premiê do Reino Unido
"Vai demorar o quanto
demorar. Não é uma
questão de prazo. É
uma questão de vitória"
GEORGE W. BUSH
presidente dos EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair,
começaram ontem a preparar a
opinião pública de seus países para uma guerra no Iraque mais
longa do que o esperado.
Após oito horas de conversações em Camp David, a casa de
campo da Presidência dos EUA,
os dois líderes não negaram, em
entrevista coletiva, os comentários de fontes militares de que o
conflito pode durar meses.
A reunião ocorreu depois de as
tropas da coalizão anglo-americana terem encontrado resistência
maior do que a esperada no sul do
Iraque e dos atrasos provocados
pelo mau tempo no país.
Questionado sobre o prazo para
a duração do conflito, Bush demostrou irritação e disse: "Vai demorar o quanto demorar. Não é
uma questão de prazo. É uma
questão de vitória".
"O importante é que o trabalho
será completado", emendou
Blair. "Não há razão para determinarmos um limite (para o fim
da guerra) devido à natureza do
que temos pela frente."
É a mesma posição de Donald
Rumsfeld, secretário de Defesa
norte-americano, que diz não saber quando a guerra vai acabar.
Bush e Blair adiaram uma definição sobre qual será o papel da
ONU no Iraque depois que Saddam Hussein for derrubado.
Embora Blair tenha dito que
"não há dúvidas" de que a ONU
deve participar, ele afirmou que
havia concordado com Bush em
que "ainda há um grande número
de detalhes que devem ser discutidos com nossos aliados para decidirmos como vai funcionar".
Bush demonstrou impaciência
quando confrontado com a falta
de apoio de países ocidentais na
coalizão. "Nós temos vários aliados ocidentais. Eu posso te dar
uma lista." Na sequência, Blair reconheceu que "há países na Europa que são contra".
Durante a entrevista, Bush se
antecipou algumas vezes em responder às perguntas, ao ponto de
Blair, em um determinado momento, dizer "can I?" (posso?) para tentar dar uma resposta.
Pontos de consenso do encontro foram a "certeza da vitória" e a
formulação de um pedido à ONU
para que seja restabelecido o programa que prevê troca de petróleo
por comida para o Iraque.
Os EUA vêm se manifestando
publicamente contra uma participação maior da ONU no pós-guerra. Anteontem, tanto o secretário de Estado Colin Powell
quanto o porta-voz de Bush, Ari
Fleischer, disseram que a ONU
deve ter um papel no Iraque, mas
que os americanos deveriam ter
um "significativo e dominante"
controle do país antes disso.
O argumento é que a ONU não
teria capacidade militar para sedimentar a transição no país, que os
EUA querem deixar a cargo do
general reformado Jay Garner.
No encontro, Blair e Bush trocaram afagos. O presidente americano elogiou a "palavra, a visão e
a coragem" do britânico, ao que
Blair retribuiu afirmando que a
aliança entre os dois países nunca
"esteve melhor e mais forte".
A reunião em Camp David
aconteceu quase 60 anos depois
de o presidente norte-americano
Franklin D. Roosevelt (1933-45)
ter encontrado no mesmo local o
premiê britânico Winston Churchill (1874-1965) durante uma das
piores fases da Segunda Guerra
Mundial -que os dois aliados
acabaram vencendo.
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