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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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CÚPULA

Líderes da coalizão se mostram reticentes em relação à participação da ONU após o conflito

Bush e Blair admitem guerra longa

Luke Frazza/France Presse
O premiê Blair e o presidente Bush respondem a perguntas durante coletiva de imprensa sobre a reunião de cúpula em Camp David

"Não há razão para determinar um limite devido à natureza do que temos pela frente"
TONY BLAIR
premiê do Reino Unido

"Vai demorar o quanto demorar. Não é uma questão de prazo. É uma questão de vitória"
GEORGE W. BUSH
presidente dos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, começaram ontem a preparar a opinião pública de seus países para uma guerra no Iraque mais longa do que o esperado.
Após oito horas de conversações em Camp David, a casa de campo da Presidência dos EUA, os dois líderes não negaram, em entrevista coletiva, os comentários de fontes militares de que o conflito pode durar meses.
A reunião ocorreu depois de as tropas da coalizão anglo-americana terem encontrado resistência maior do que a esperada no sul do Iraque e dos atrasos provocados pelo mau tempo no país.
Questionado sobre o prazo para a duração do conflito, Bush demostrou irritação e disse: "Vai demorar o quanto demorar. Não é uma questão de prazo. É uma questão de vitória".
"O importante é que o trabalho será completado", emendou Blair. "Não há razão para determinarmos um limite (para o fim da guerra) devido à natureza do que temos pela frente."
É a mesma posição de Donald Rumsfeld, secretário de Defesa norte-americano, que diz não saber quando a guerra vai acabar.
Bush e Blair adiaram uma definição sobre qual será o papel da ONU no Iraque depois que Saddam Hussein for derrubado.
Embora Blair tenha dito que "não há dúvidas" de que a ONU deve participar, ele afirmou que havia concordado com Bush em que "ainda há um grande número de detalhes que devem ser discutidos com nossos aliados para decidirmos como vai funcionar".
Bush demonstrou impaciência quando confrontado com a falta de apoio de países ocidentais na coalizão. "Nós temos vários aliados ocidentais. Eu posso te dar uma lista." Na sequência, Blair reconheceu que "há países na Europa que são contra".
Durante a entrevista, Bush se antecipou algumas vezes em responder às perguntas, ao ponto de Blair, em um determinado momento, dizer "can I?" (posso?) para tentar dar uma resposta.
Pontos de consenso do encontro foram a "certeza da vitória" e a formulação de um pedido à ONU para que seja restabelecido o programa que prevê troca de petróleo por comida para o Iraque.
Os EUA vêm se manifestando publicamente contra uma participação maior da ONU no pós-guerra. Anteontem, tanto o secretário de Estado Colin Powell quanto o porta-voz de Bush, Ari Fleischer, disseram que a ONU deve ter um papel no Iraque, mas que os americanos deveriam ter um "significativo e dominante" controle do país antes disso.
O argumento é que a ONU não teria capacidade militar para sedimentar a transição no país, que os EUA querem deixar a cargo do general reformado Jay Garner.
No encontro, Blair e Bush trocaram afagos. O presidente americano elogiou a "palavra, a visão e a coragem" do britânico, ao que Blair retribuiu afirmando que a aliança entre os dois países nunca "esteve melhor e mais forte".
A reunião em Camp David aconteceu quase 60 anos depois de o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt (1933-45) ter encontrado no mesmo local o premiê britânico Winston Churchill (1874-1965) durante uma das piores fases da Segunda Guerra Mundial -que os dois aliados acabaram vencendo.


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