São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Forças de ocupação só terão a perder caso entrem em disputa de poder xiita

DO "FINANCIAL TIMES"

A batalha no sul do Iraque entre forças de Bagdá e milícias de Basra não só expõe quão frágil é a melhora da segurança obtida em 2007 como pode ser o prelúdio de uma nova e mortífera fase na guerra civil que divide o país, levando as forças dos EUA (e o que resta das britânicas) para uma disputa no seio da comunidade xiita.
Ostensivamente, o objetivo do Exército iraquiano é retomar o controle de Basra, porta de entrada do setor petroleiro iraquiano para o golfo Pérsico.
A cidade caiu sob o desregrado domínio de milícias xiitas rivais sob a ocupação britânica. Assim, a campanha militar na região não parece justificar objeções: afinal, um governo nacional tem não só o direito mas o dever de estender as proteções da lei a todos os seus cidadãos.
Mas o governo de Nuri al Maliki, xiita, é um governo nacional só em nome. Na prática, age pelos estreitos interesses sectários do partido do premiê, o Dawa, e de seus aliados no Conselho Supremo Islâmico do Iraque. Ademais, o Exército é meramente uma milícia sob distintivos oficiais: neste caso, sobretudo as Brigadas Badr.
É por isso que a ofensiva toma por alvo o Exército Mehdi, de Moqtada al Sadr. O Conselho, com apoio de Teerã e Washington, quer o poder em Bagdá e que isso seja garantido por uma espécie de mini-Estado rico em petróleo formado pelas nove Províncias de maioria xiita no sul do Iraque. Outra milícia local, a Fadhila, quer dominar o lucrativo contrabando de petróleo -do que se aproximou por meio do controle parcial do Ministério do Petróleo e do projeto de criação de uma minirregião, com três Províncias, que abrigaria a maior parte das reservas petroleiras do país.
Sadr, porém, pretende ser não só o líder máximo dos xiitas como o líder nacionalista árabe de um Iraque unificado. Ele é visto como ameaça mortal pelo governo Maliki e pelos EUA.
Apesar de o Exército Mehdi manter um cessar-fogo desde agosto, forças dos EUA e milícias a elas aliadas vêm eliminando quadros do grupo. O clérigo xiita ainda não pôs fim à trégua. Mas a explosão de um dos principais oleodutos de exportação iraquianos e o ataque com foguetes à Zona Verde são um alerta de que ele o pode fazer caso os conflitos sigam.
Suas forças, maiores beneficiárias das eleições de 2005, representam a maioria da maioria -os xiitas pobres-, e não se pode eliminá-las por meios militares. As forças de ocupação não ajudarão em nada sua reputação nem o futuro do Iraque caso tomem partido em uma disputa interna de poder.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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