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Forças de ocupação só terão a perder caso entrem em disputa de poder xiita
DO "FINANCIAL TIMES"
A batalha no sul do Iraque
entre forças de Bagdá e milícias
de Basra não só expõe quão frágil é a melhora da segurança obtida em 2007 como pode ser o
prelúdio de uma nova e mortífera fase na guerra civil que divide o país, levando as forças
dos EUA (e o que resta das britânicas) para uma disputa no
seio da comunidade xiita.
Ostensivamente, o objetivo
do Exército iraquiano é retomar o controle de Basra, porta
de entrada do setor petroleiro
iraquiano para o golfo Pérsico.
A cidade caiu sob o desregrado
domínio de milícias xiitas rivais
sob a ocupação britânica. Assim, a campanha militar na região não parece justificar objeções: afinal, um governo nacional tem não só o direito mas o
dever de estender as proteções
da lei a todos os seus cidadãos.
Mas o governo de Nuri al Maliki, xiita, é um governo nacional só em nome. Na prática, age
pelos estreitos interesses sectários do partido do premiê, o
Dawa, e de seus aliados no Conselho Supremo Islâmico do Iraque. Ademais, o Exército é meramente uma milícia sob distintivos oficiais: neste caso, sobretudo as Brigadas Badr.
É por isso que a ofensiva toma por alvo o Exército Mehdi,
de Moqtada al Sadr. O Conselho, com apoio de Teerã e Washington, quer o poder em Bagdá e que isso seja garantido por
uma espécie de mini-Estado rico em petróleo formado pelas
nove Províncias de maioria xiita no sul do Iraque. Outra milícia local, a Fadhila, quer dominar o lucrativo contrabando de
petróleo -do que se aproximou
por meio do controle parcial do
Ministério do Petróleo e do
projeto de criação de uma minirregião, com três Províncias,
que abrigaria a maior parte das
reservas petroleiras do país.
Sadr, porém, pretende ser
não só o líder máximo dos xiitas
como o líder nacionalista árabe
de um Iraque unificado. Ele é
visto como ameaça mortal pelo
governo Maliki e pelos EUA.
Apesar de o Exército Mehdi
manter um cessar-fogo desde
agosto, forças dos EUA e milícias a elas aliadas vêm eliminando quadros do grupo. O clérigo xiita ainda não pôs fim à
trégua. Mas a explosão de um
dos principais oleodutos de exportação iraquianos e o ataque
com foguetes à Zona Verde são
um alerta de que ele o pode fazer caso os conflitos sigam.
Suas forças, maiores beneficiárias das eleições de 2005, representam a maioria da maioria -os xiitas pobres-, e não se
pode eliminá-las por meios militares. As forças de ocupação
não ajudarão em nada sua reputação nem o futuro do Iraque
caso tomem partido em uma
disputa interna de poder.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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